Número de portos clandestinos no Lago de Itaipu dobrou em uma década
Estruturas rudimentares, os portos clandestinos são alvos constantes de operações policiais na Tríplice Fronteira. Quase que diariamente ocorrem apreensões de drogas, contrabando e descaminho de diversos tipos nestes locais em Foz do Iguaçu e outras cidades do Oeste, um verdadeiro desafio para as forças de segurança, devido ao grande número de espaços ilegais Lago de Itaipu.
Um novo levantamento, realizado há cerca de um ano pelo Batalhão de Fronteira (BPFron), aponta a existência de mais de 300 portos no trecho entre Foz, Ciudad del Este, Salto del Guairá e Guaíra. Uma década atrás o mapeamento mostrava em torno de 150 estruturas.
O estudo revela, ainda, uma média de três portos a cada dois quilômetros, por onde entram cigarros, entorpecentes (sendo a maioria maconha), bebidas, pneus, eletrônicos, agrotóxicos e outras mercadorias de origem quase que predominantemente paraguaia.
Os produtos são trazidos em barcos pequenos, mas que geralmente são equipados com motores potentes para auxiliar na fuga em possíveis encontros com a polícia. Em alguns pontos, os criminosos conseguem cruzar a fronteira em somente cinco minutos. Como as travessias costumam ocorrer à noite, é bastante difícil interceptar suspeitos, que quase sempre acabam fugindo por áreas de mata quando percebem a presença das forças de segurança.
Quando conseguem atracar, os criminosos escondem as mercadorias em áreas de difícil acesso para serem posteriormente carregadas em veículos de passeio, vans e caminhões. O transporte ocorre por estradas rurais e vicinais até depósitos, também clandestinos, de onde os produtos são distribuídos para diversas regiões do Brasil.
Entre as rotas terrestres preferenciais está a BR-277, principal rodovia que corta o Paraná de uma ponta a outra. Para o trabalho ilegal, as organizações criminosas contam com equipes compostas por todo tipo de pessoas, nas mais diversas funções, incluindo os chamados “olheiros”, que atuam no monitoramento das atividades policiais, informando os melhores horários e locais para a passagem de mercadorias.
Operações
O monitoramento do lago de Itaipu conta com duas estruturas do Núcleo de Polícia Marítima da Polícia Federal (Nepom), sendo uma em Foz do Iguaçu e outra em Guaíra. Operações são realizadas constantemente, com o apoio do Batalhão de Fronteira (BPFron), Exército e outras forças de segurança, visando acabar com atividades ilícitas e com os portos clandestinos.
Em muitas ações são utilizadas máquinas pesadas que danificam as estruturas que serve como atracadouro. Alguns portos chegam a ser explodidos. Nos últimos anos diversas ações já foram realizadas. Em 2021, 41 portos foram desmontados; em 2022 foram 20 estruturas removidas, já em 2023 foram pelo menos 15 ações.
Em julho do ano passado a Armada Paraguaia (Marinha) chegou a realizar uma operação trinacional visando aumentar o combate ao contrabando, descaminho e tráfico de ilícitos na região de fronteira, com foco na destruição de portos clandestinos.
Em outubro do mesmo ano, Brasil e Paraguai firmaram um acordo para trabalhos. Na ocasião, o documento recebeu o apoio do presidente Santiago Peña, que reconheceu que “se não há segurança, não há investimento e desenvolvimento”.
Além dos crimes de contrabando, tráfico e descaminho, a abertura de portos ilegais implica também em crimes ambientais, tendo em vista que ocorre a derrubada de diversas árvores na mata para a instalação dos locais.
O lago
O Lago Itaipu abrange 16 cidades brasileiras, sendo 15 no estado do Paraná e uma no Mato Grosso do Sul. Foi formado a partir da construção da hidrelétrica de Itaipu, tendo um total de 1.350 quilômetros quadrados, com cerca de 170 quilômetros de extensão. Em termos de mercado formal, existem dois portos habilitados no Lago Itaipu, nas cidades de Guaíra e Santa Helena, ambos no Paraná.
- Da redação / Foto: divulgação BPFron