Coluna do Corvo

Cabeça de bode

Foz do Iguaçu precisa realizar um mutirão para encontrar a “cabeça de bode” enterrada em algum lugar, ao longo do percurso da Rodovia das Cataratas. Não será tarefa fácil. Como pode, uma das construtoras mais sólidas do sul do país, responsável por erguer até hidrelétricas, especializada em pavimentação, pedir recuperação judicial bem no meio da empreitada da BR 469, cuja duplicação é um dos sonhos dourados da cidade?

 

Oh dúvida cruel!

O percevejo amanheceu zumbindo em torno da cabeça dos iguaçuenses. Tudo o que a cidade não merece mais uma vez, é ver as obras abandonadas, como aconteceu há vinte e poucos anos. Depois de iniciarem a duplicação, com direito a palanques, festas e discursos, a conhecida “Estrada das Cataratas” ficou largada, cheia de buracos, desníveis, manilhas espalhadas nos dois lados da pista e mato nos morrinhos de terra e pedra, decorrente dos primeiros serviços de terraplanagem. O DNER, responsável pelo trecho alegava até dificuldades de limpeza. Os bichos do Parque Nacional começaram a entender que a selva estava se prolongando em mais um desses milagres da natureza.

 

Vai parar?

Antes vamos tentar explicar: a recuperação judicial é um procedimento legal. Ele permite que as empresas em dificuldades financeiras sigam em atividade, ou seja, funcionando enquanto se reorganizam, planejam as dívidas e operações. Isso é regulamentado pela Lei 11.101/2005, e funciona como uma alternativa à falência. Muitas empresas se superaram e ganharam nova vida graças a esse processo, até porque ele é judicialmente supervisionado.

 

Responsabilidade social

A “recuperação judicial” se concedida, garante a suspensão temporária de ações, execuções, e outros imbróglios contra o requerente por um prazo de até 180 dias. Para isso é necessário apresentar um plano de recuperação aos credores, em geral votado por meio de uma assembleia. Em alguns casos, o processo conta com a participação dos trabalhadores, os que mais sofrerão em caso de falência, ou se as coisas não derem certo. Neste caso, a Dalba Engenharia possui uma importante função social.

 

Os prazos

Tudo indica que a empreiteira seguirá trabalhando e terá que passar sebo nas canelas para cumprir os prazos, atender as medições e, assim, receber os aportes devidos, oriundos da coisa pública, leia-se, do Estado; quem paga pela obra com recursos da Itaipu Binacional. Teoricamente, na redoma da recuperação judicial, os pagamentos poderão ser realizados sem a exigência de certidões. Como sabemos, o novo prazo da obra foi fixado até o final deste 2025, mas isso corre um sério risco de não se confirmar e por vários outros aspectos. Se levaram anos para chegar aos 46,75% do contrato, é difícil realizarem o que falta, os 53,25% da duplicação em sete meses. E, vem chuva pela frente, dentre outros obstáculos.

 

Dorzona de cabeça

A duplicação da BR 469 é uma demanda independente, mas faz parte de um conjunto de obras estruturantes e, um virtual atraso, ou paralização, resultará em enormes transtornos. Explicação: na cabeceira norte, há a construção da Perimetral Leste, e no momento ela é um “funil” de mobilidade, sobretudo porque lá fazem um trevo e, para isso, usam um pedaço da BR 469, bem em frente ao Hotel Carimã, a anos no olho desse furacão. Isso tem sido a causa de enormes engarrafamentos em todas as direções.

 

Usuários pagam o pato

Moradores e visitantes sofrem demasiado com as obras da BR 469 e a Perimetral. Embora sejam tecnicamente separadas, para a população, o setor de transporte, visitantes e turistas, tudo está “junto e misturado”. No feriadão da Semana Santa a situação beirou o caos. Enormes filas de veículos se formaram no eixo. No sentido Cataratas/Aeroporto a lentidão foi um grande problema, porque há várias estruturas elevadas no meio do caminho, desvios, sinuosidades e o fato de muitos veículos de carga que não necessitam desembaraço aduaneiro “invadirem” o acesso às Cataratas em busca da Avenida Maria Bubiak, no entroncamento com o Golf Clube. A via tornou-se uma das mais movimentadas da cidade, uma vez que é vital para se chegar à BR 277, sem passar pelo centro.

 

Argentina nem pensar

No sentido Oeste, o que se viu foi uma baita encrenca, quando o assunto é o trânsito. Os motoristas que acessavam a Avenida das Cataratas para chegar à Argentina davam de cara com o congestionamento próximo do Shopping Catuaí Palladium; quem desviava pela Avenida Safira, esperando encurtar o caminho, caía na fila da Avenida Morenitas. Não havia escapatória. Muitos desistiam e mesmo assim se viam no meio de um labirinto, enfrentando os desvios da Periemetral, que iam dar novamente na BR 469. Uma tarefa para muitos impensável. Para os que ansiavam uma dentada no bom pedaço de Bife de Chorizo, e a taça de Malbec, isso ficou apenas no sonho. Taxistas, transportadores de turistas e aplicativos não sabem mais como explicar os riscos de perderem voos. As obras estruturantes, devido aos atrasos, começaram a interferir seriamente na busca pelo destino.

 

Fazendo as contas

Os moradores, comerciantes e quem utiliza a BR 469 para trabalhar ainda mantém o espírito elevando. A máxima é: “tudo irá melhorar um dia, depois que as obras acabarem”. O caso é saber quando esse dia chegará? Por outro lado, visitar Foz do Iguaçu é o objeto de desejo (e consumo) de milhões de pessoas; o mundo todo quer veras Cataratas, Itaipu, o Marco das Fronteiras, Parque das Aves, a crescente rede temática, Puerto Iguaçu e Ciudad del Este, mas, para se chegar até esses encantadores atrativos, é cada vez mais complicado. Então, se 50 ou 70 mil pessoas visitaram Foz durante o feriadão da Semana Santa, é possível que a maioria retorne reclamando, falando mal, e, não aconselharão fazerem o passeio. As pessoas fazem a clássica pergunta: “como foi a viagem?”.

 

Até quando?

É difícil saber por quanto tempo as pessoas vão dizer: “ah, a locomoção em Foz é complicada, obras por todos os lados, poeira, barro, semáforos, ruas estreitas, engarrafamentos, filas nas pontes para Argentina e Paraguai, restaurantes que fecham cedo, poucos voos, mas tudo isso compensa depois que a gente vê as Cataratas!”. Oxalá isso não se contamine em decorrência dos problemas e atrasos das obras.

 

A esperança nunca morre!

Apesar do vislumbre futurístico, todos estão ficando com o “saco cheio” da bagunça. Comerciantes, hoteleiros, transportadores, transeuntes, motoristas, o povo dos restaurantes e os moradores cansaram dos desvios, sujeira, e, a falta de orientação e não se vê viatura da Polícia Rodoviária Federal colocando ordem no furdunço. Os cruzamentos na BR 277 com as ruas Carmem Gatti e Francisco Fogaça; as ruas Indianópolis, Avenida Mercosul, Maria Bubiak, além dos acessos na região da Mata Verde, mais adiante as ruas Astorga, Curitibanos, Itaboraí, Oscar Genehr, repletas de pousadas, restaurantes, pesqueiros e condomínios, tudo está para lá de problemático. É comum essa gente buscar informações nos veículos de comunicações, Prefeitura e Secretaria de Turismo e, não há muito o que dizer. Até o Gaúcho do “Recanto” anda coçando a barba. As obras, os contornos, os rigores da sinalização e controladores de velocidade ameaçam o movimento.

 

Expansão

Vale à pena passear pela cidade e anotar a quantidade de loteamentos, condomínios e empreendimento imobiliários; áreas que antes eram desoladas estão se transformando em bairros. Tudo isso é retalhado por estradas federais. E surge a pergunta: “qual a razão de a prefeitura não iniciar a municipalização de alguns acessos?”. As BRs 469 e 600 iniciam e terminam no perímetro municipal; uma vai às Cataratas e outra até Itaipu. Enquanto são federalizadas, os serviços ficam por conta do DNER; mas faz é tempo que os contribuintes ajudam a manter esses acessos. Vamos aprofundar mais o assunto e saber como seriam as importantes vias nas mãos da prefeitura.

 

Lista questionável

Se o cidadão iguaçusense organizar as necessidades, certamente as obras e iniciativas de mobilidade urbana preencherão boa parte da lista. No meio está a BR 277 e a penca de transtornos. Chegar até o sentido norte e fazer o caminho de volta está se tornando uma aventura. Cadê a famigerada passagem no trevo Charrua? Eu mesmo acreditei que seria uma das primeiras soluções do novo governo. O General precisa ir na goela dos responsáveis ou dar uma resposta. E além do mais, há a aberração que chamam de viaduto na entrada da cidade. Um ultraje batizarem aquilo com o nome de Lyrio Bertolli. Francamente tudo estaria bem melhor sem a obra. Conversando com engenheiros que conhecem muito do assunto, escolheram o pior de todos os projetos! Muito longe de ser uma solução, o complexo de acessos é uma ode à incompetência, causando além dos transtornos, o isolamento. Um aluno de arquitetura e urbanismo encontraria solução bem mais viável.

 

Estrangeirismo

Foz padece de um sério problema quando o assunto é o urbanismo e as suas dantescas soluções. Não faltam capacidade e inteligência profissional na cidade, pelo contrário, há muitos engenheiros e arquitetos mais do que competentes, formados em boas escolas e em empreendimentos magníficos, como em Itaipu. Boa parte dos projetos são realizados em Curitiba, Brasília e cidades sedes das empresas que vencem as licitações. Geralmente projetam o “achismo” sem conhecimento local e tampouco consultam quem pensa a cidade. Há uma grande diferença entre o “achar” que está bom e “pensar” certo. Assim mataram o Jardim Jupira, isolaram comunidades e ameaçam até o Porto Meira. Que situação hein? Ninguém pode com essa gente? É o que dá ser dominado pelos órgãos federais, sem chances de diálogo quando o assunto é imposição de projetos. Isso precisa mudar, Foz é bem mais inteligente e capaz.

 

Vamos cobrar

Tudo o que acontece sai do bolso dos contribuintes, logo, é justo se organizar e cobrar; querer saber quando essas obras serão entregues, porque ao longo do prazo, as pessoas precisam investir, ampliar, se preparar ao que virá. Nem todo mundo vive da especulação imobiliária e, é normal imaginar que o progresso pode ser ordenado, vigiado e devidamente cumprido em todas as suas etapas. Cobrar é fundamental e para saber o que será? Uma boa sexta-feira a todos!

  • Por Rogéro Bonato

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