Coluna do Corvo

“Rombo” na Binacional?

Falar em rombo nas contas da Itaipu Binacional é, no mínimo, uma leviandade. Não existe isso. E nunca existiu. Ao longo de meio século, Itaipu passou pelas mãos de 14 diretores-gerais brasileiros, todos submetidos ao rigor de um modelo de governança que é, por definição, binacional. Nada se faz de um lado sem o consentimento do outro. Cada centavo movimentado passa pelo crivo de auditorias internas e externas, aprovação de conselhos binacionais e, no caso do Paraguai, fiscalização da controladoria nacional.

 

Responsabilidade

A tentativa de pintar a empresa como uma caixa-preta é injusta. Itaipu é, na verdade, uma das instituições mais vigiadas da América Latina. O que incomoda é justamente isso: sua blindagem contra aventureiros, sua eficiência técnica e financeira, e a teimosia em entregar resultados. Em 50 anos, a hidrelétrica binacional quitou integralmente a dívida bilionária contraída para sua construção — algo que poucos empreendimentos no mundo podem dizer. E, ao contrário do que muitos imaginam, isso só foi possível porque sempre houve uma gestão técnica, responsável e, sim, comprometida com o interesse público em ambas as margens.

 

Testemunho

Não se trata de defender nomes. Trata-se de defender o princípio da verdade dos fatos. Quem vive em Foz do Iguaçu sabe. Acompanhei de perto a história da usina nos últimos 45 anos, entrevistei todos os diretores-gerais brasileiros, assisti a inaugurações, fiscalizações e marcos dessa obra monumental. O que vi foram gestores operando dentro dos mesmos limites legais, com as mesmas regras de compliance e os mesmos controles. Não me recordo de um diretor-geral que tenha apontado irregularidades na gestão do seu antecessor. O corpo técnico da empresa sempre foi profissionalizado e estável. Por isso, ao contrário da narrativa rasa de quem atira de fora, afirmo com convicção: ali dentro não há espaço para amadorismo, improviso e falcatruas.

 

Os trilhos

O Tratado Binacional estabeleceu bases sólidas para o empreendimento colossal, que conquistou admiração em todo o mundo. Itaipu não é uma estatal à mercê de interesses e conveniências políticas. É uma organização técnica de excelência, com diretrizes claras e obrigações robustas, que exigem transparência. Só por isso conseguiu transferir, entre 2003 e 2017, durante a longeva gestão do iguaçuense Jorge Miguel Samek, cerca de US$ 30 bilhões ao Tesouro Nacional brasileiro, a título de amortização do estoque da dívida, integralmente quitada em 2023. Pelo câmbio de hoje, isso representa R$ 175 bilhões. Um feito histórico — e irrefutável.

 

O dinheiro em Itaipu

O orçamento anual de Itaipu Binacional é público, detalhado, fiscalizado. Existe um único caixa, alimentado pelas receitas de uma única fonte: a venda de energia. Em cada margem, há um único cliente que se encarrega de comprar e comercializar a energia produzida pela Itaipu: a Ande, no Paraguai, e a ENBpar, no Brasil. É com estes recursos que Itaipu cobre os custos operacionais da Usina e desenvolve, em ambas as margens, ações sociais e ambientais. Também realiza investimentos em projetos estratégicos indicados pelos governos de ambos os países. Ironicamente, os gastos de Itaipu sempre foram alvo de críticas de quem está na oposição, independentemente de ideologia.

 

História

Desde a sua criação, em 1974, Itaipu continua operando sob o mesmo modelo inovador de binacionalidade. Não há quebra princípios, nem ruptura. O que há, com frequência, é preguiça investigativa de quem prefere construir narrativas fantasiosas ao invés de estudar as regras que governam o empreendimento ou conversar com quem entende do assunto. É mais fácil criticar uma obra grandiosa do que compreendê-la. É mais fácil acusar do que se inteirar dos fatos. E é covarde apelar para o bolso do cidadão — jogando a conta de luz como se fosse culpa da gestão da hidrelétrica, quando a matriz tarifária brasileira está longe de ser responsabilidade de Itaipu.

 

A maior atacadista de energia limpa do planeta

Itaipu Binacional vende um único produto: energia elétrica. E vende para apenas dois clientes cativos — a ANDE, no Paraguai, e a ENBPar, no Brasil (empresa pública que assumiu os contratos da Eletrobras após sua privatização, em 2022). Essa estrutura contratual garante estabilidade financeira à hidrelétrica, que opera no atacado, longe da lógica de mercado varejista. O valor pago por esses dois clientes cobre integralmente os custos da operação: manutenção, modernização da usina, salários, encargos, impostos, ações socioambientais e os compromissos com ambos os Estados.

 

Solidez irrefutável

Com a quitação integral da dívida bilionária — um feito inédito entre megaprojetos de infraestrutura — Itaipu passou a dispor de uma folga orçamentária. Essa margem, fruto da solidez de sua gestão, tem sido revertida em obras estruturantes de interesse público nas duas margens do rio Paraná. No lado brasileiro, as intervenções em andamento, como a Perimetral Leste, a duplicação da BR-469, a iluminação da BR-277, o prolongamento da pista do Aeroporto de Foz do Iguaçu e a construção da segunda ponte internacional com o Paraguai, não são favores. São investimentos públicos lastreados em um modelo de excelência.

 

Energia limpa, tarifa justa e investimento social

A acusação de que ações socioambientais promovidas por Itaipu encarecem a conta de luz é falaciosa — e mal-intencionada. Desde sua fundação, a missão da empresa é clara: gerar energia limpa, renovável e a tarifa mais justa possível. É isso que Itaipu faz há 40 anos, com resultados comprovados.

 

O que é verdade

Os projetos apoiados com recursos da binacional — sempre contratualmente autorizados e fiscalizados por ambos os países — são extensões do compromisso social do empreendimento. Parte desses recursos provém da compensação paga ao Brasil pela energia paraguaia não consumida — um excedente adquirido contratualmente, com total respaldo legal. Com esse recurso, Itaipu apoia universidades, centros de pesquisa, ações de preservação ambiental, projetos sociais e, principalmente, obras que impactam diretamente a mobilidade, a segurança e a economia da região de fronteira.

 

Fim de papo

Criticar tudo isso, sem entender o modelo, é pura desinformação — ou, pior, um discurso alimentado por ciúmes de quem não consegue, com os próprios meios, entregar resultados equivalentes.

  • Por Rogério Bbonato

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