Coluna de opinião

Sadi Carvalho, um guerreiro com escudo, bandeira e armadura de Foz

Várias pessoas enviaram mensagens lamentando o triste ocorrido com o Sadi Carvalho, uma prova inconteste de sua importância social. Em verdade, ao longo da quinta-feira (20/10), as primeiras notícias sobre o seu falecimento foram repassadas por amigos mais antigos, o que mais uma vez reforça a importância histórica do empresário. Segundo os relatos, ele deu o último suspiro ao chegar em sua loja. Além da fatalidade, isso pode também ser descrevido como uma glória, se observarmos a devoção que o Sadi comungava com o trabalho, ao qual intensamente se dedicou.

Não saberia informar a idade do Sadi, disseram que era apenas 70 anos, e, não teria todos os detalhes dos males que enfrentava, mas descreveria as nossas últimas conversas, na calçada da Avenida Brasil, próximo de seu estabelecimento, o lendário Sadi Magazin, um empório do vestimenta masculino altamente qualificado, por meio das marcas ali representadas e confecções próprias. Em ocasião um pouco mais antiga perguntei como ia a vida e a saúde, pois andava muito abatido com a morte de outro amigo, o Ozires Santos. Ele descreveu o que todos lamentam em certa idade, mas desviou o assunto, lamentando a falta que lhe fazia o ex-prefeito. Depois recomendou que eu tratasse também da minha saúde, dando tapinhas em minha barriga. “O que faz o tempo, meu amigo, é isso ao nosso redor, um dia chove, outro faz sol, frio, calor, as pessoas passam, entram e saem das lojas; um edifício desaparece, outro surge, mas o que machuca é não ver alguns passando, dizendo bom dia; depois de pesquisar, fico triste ao saber que se foram para sempre; mas a vida é isso, precisamos nos entender com essas mudanças”, disse. Fiquei um bom tempo meditando aquele rápido encontro, ou para onde vamos e como tudo ficará.   

É normal ouvir que nas cidades do interior, as autoridades maiores são o padre, o delegado, o juiz e o editor do jornal, mais até do que os políticos. Eu incluiria o alfaiate, na lista. Nem todos vão à missa, ao fórum ou delegacia, mas certamente se confessaram com o alfaiate, no momento de fazer as medidas de um traje. Diante disso, meu texto se distancia do obituário, e pertence a crônica, exatamente como o Sadi gostaria.

Foz do Iguaçu importava e muito ao nosso ilustre amigo que se despede; sempre se manifestava nos momentos críticos, quando o setor comercial corria risco, fazia isso olhando para o seu negócio e também dos outros, porque compreendia a importância da cadeia produtiva. Mas Sadi, além de um defensor, também foi um benemérito, o tipo de gente que faz e, não se importa em ser lembrado. Esteve à frente de muitas ações solidárias, seja por meio de entidades, clubes de serviço ou loja maçônica. Nunca foi muito de aparecer, mas trabalhava na retaguarda.

Ontem houve movimentação em todos os setores da cidade, a Associação Comercial e Empresarial de Foz do Iguaçu emitiu nota lembrando que “a trajetória de Sadi Carvalho está diretamente ligada à história do comércio de Foz do Iguaçu, tendo ele ocupado cargos estratégicos na ACIFI em sete gestões: 1974 a 1980, 1984 a 1986, 1986 a 1988, 1990 a 1992, 1992 a 1994, 1994 a 1995 e 1995 a 1996”. Para o prefeito Chico Brasileiro, “o Sadi foi uma pessoa muito defensora da nossa cidade, acreditou sempre em Foz do Iguaçu. Minhas condolências a todos os familiares, em especial a duas servidoras da prefeitura que são irmãs dele, a Ana do FozHabita e a Nicinha da Secretaria de Saúde. O Legislativo lembrou o desempenho do empreendedor na instalação das lojas francas em Foz.

Em minha experiência pessoal, Sadi jamais deixou de ajudar iniciativas como a Canja do Galo Inácio, cujo foco era o atendimento à nutrição de crianças e jovens. Doava caixas de frangos, alimentos, botijões de gás e não aceitava agradecimento público. Algumas pessoas são assim especiais.

Não deixaria de ressaltar o profissional exímio que foi, motivo de grande orgulho. Vestia a clientela com grandeza e competência, impecável na feitura de trajes para qualquer eventualidade. Para muitas pessoas, o selo “Sadi” era imponente, elevada a qualidade do corte e escolha dos tecidos. É quando a alfaiataria chega ao status da arte. Sadi foi um artista do bom gosto.

Enfim, lembramos os amigos assim, honrando-os com sentimento e veracidade, sobretudo quando são distintos e pioneiros, persistentes e que encaram as dificuldades com ousadia e mais, com a sabedoria. Para finalizar, mais que um amigo, Sadi era um conselheiro e olhando para os novos tempos, isso está se tornando raro; muita gente nem sabe o que é isso e a importância que há em ouvir, muito além de falar. Que o Sadi seja sempre lembrado com o carinho que cultivou.

Rogério Romano Bonato

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