Coluna do Corvo

A arte de tropeçar com classe

Quem mora há mais de 40 anos em Foz do Iguaçu desenvolve um talento especial: reconhecer buracos de memória. Literalmente. Da lama ao asfalto, passando por piso irregular dignos da Via Ápia, a cidade sempre pareceu estar a um passo de virar sítio arqueológico urbano. Cada cratera guarda uma lembrança, uma história… e um pneu ou amortecedor estourado. Vamos reconhecer: isso não é um problema exclusivo desta administração.

 

Buracos, buracos e mais buracos

Se Foz fosse um organismo, os buracos seriam feridas abertas. Crônicos, reincidentes e resistentes a qualquer tratamento paliativo. Já tentaram cascalho, pedras, emulsões, tapa-buraco emergencial, contrato relâmpago, oração e até promessas de campanha. Plantaram até bananeiras e, nada segura. A medicina urbana não deu conta. É o “mal de Foz”, incurável.

 

Recomendação que mexe com os nervos

O promotor Luís Marcelo Mafra lançou a primeira Recomendação Administrativa do ano e fez o setor político colocar as barbas (e os cabelos) de molho. O susto não foi pelo conteúdo, mas pelo gesto: agir. E agir rápido. Em terra de burocracia, quem trabalha assusta.

 

Se promotor virasse vereador…

Imaginem só: eleição municipal com promotores na disputa. Seria um choque de realidade no Legislativo. Em vez de selfies com eleitores e discursos decorados, teríamos gente perguntando por contratos, licitações, e, cronogramas. A sorte dos políticos é que no Brasil, promotor ainda não vira vereador, como nos Estados Unidos. Mas o medo, esse já está bem instalado.

 

Câmara em compasso de espera

O vereador Adriano Rorato até tentou sair na frente. Apresentou um requerimento pedindo explicações detalhadas sobre os serviços de pavimentação e obras públicas. Mas caiu no famoso limbo do rito legislativo. O documento empaca, encalha, reza-se por ele e… nada. Fica esperando parecer, leitura, aprovação, despacho, despacho do despacho… e buraco continua lá.

 

O remédio digital de Rorato

Diante da lentidão do trâmite, Rorato sacou do arsenal moderno: vídeos nas redes sociais. A ideia é simples: mostrar que está trabalhando, mesmo que a engrenagem pública esteja emperrada. Quem sabe assim, com uma boa edição e uma trilha sonora dramática, o buraco se sensibilize e suma espontaneamente. É a “gestão no feed”, versão iguaçuense.

 

Câmara reativa, mas engessada

Não é só Rorato. Outros vereadores também produzem requerimentos, protocolos, pedidos e até organizam audiências públicas. Todos alegam estar atentos. O problema? A lentidão do processo e a cobrança incessante. A burocracia é tanta que até para reclamar do buraco precisa agendar horário. É a democracia com tornozelo torcido.

 

Os defensores do governo e a paciência popular

A base aliada insiste que é cedo para julgamentos. O governo mal começou, dizem. E a população, apesar de impaciente, em parte compreende. A herança da gestão anterior seria pesada. Mas no governo e nem na Câmara, ninguém se atreve a dizer isso com todas as letras. Afinal, política tem dessas: quem herda, esconde; quem perde, vira sócio oculto das soluções.

 

Chico Brasileiro blindado

Chama atenção o cuidado com o ex-prefeito Chico Brasileiro, porque ele é aliado do governador. Ou seja, protegê-lo é proteger ponte com Curitiba. Mas a pergunta que não quer calar é: se o General herdou um caos, por que não colocou isso no boletim oficial? Seria prudente e, quem sabe, educativo.

 

O filme é bom, o roteiro nem tanto

A situação atual da prefeitura lembra “Uma Cilada para Roger Rabbit”. Tem desenho, tem confusão, tem um vilão escondido e um herói que ainda não entendeu como escapar. O enredo está confuso: buracos, filas nos postos, obras emperradas, cobrança dos servidores e ânimos inflamados. Falta só a trilha sonora.

 

O general e o desafio da pá

Silva e Luna, tem agora um front bem mais pedregoso: a malha urbana. Se conseguir dar conta dos buracos, da saúde, da infraestrutura e dos servidores, terá cumprido não um mandato, mas um milagre. Resta saber se a trincheira vai virar avenida, ou se vamos seguir tropeçando nos escombros da promessa.

 

Paciência, sim; conformismo, não

A população de Foz é paciente — até demais. Mas a paciência tem prazo de validade. O povo não quer culpados, quer soluções. E rápido. O prefeito foi eleito para resolver, e não para contar o que herdou. Governar é isso: enfiar a mão na massa, tapar o buraco e ainda sorrir para a foto. Boa sorte, general. Foz espera — de preferência, sentada numa cadeira que não afunde num buraco.

 

Seis meses depois… começa o mandato?

Silva e Luna pode não ser do tipo que faz barulho, mas ao que tudo indica, trabalha nos bastidores como quem joga xadrez: comedidamente, uma peça por vez. Isso demora. Ao avaliar os seis primeiros meses de governo, o general-prefeito reconheceu que boa parte do tempo foi dedicada à caça — de recursos, claro, e não de culpados. Sem dinheiro, não há cidade que avance, nem buraco que desapareça. Por isso, quando anuncia que agora, sim, começa o enfrentamento das emergências — buracos incluídos —, muitos já pensam em atualizar a cronologia do mandato: “começou em junho”, dirão os otimistas. Já os críticos, esses vão esperar a primeira obra visível para acreditar. O importante é que, se vier o resultado, ninguém vai se importar se o governo começou com seis meses de atraso — desde que não termine do mesmo jeito.

Vermelho no gabinete

O encontro entre o prefeito-general e o deputado Vermelho não passou despercebido. Em tempos de trincheiras políticas, o gesto foi visto como republicano — ou no mínimo estratégico. Silva e Luna sabe que, para governar, precisa de aliados em Brasília, mesmo que estejam do outro lado da cerca. Vermelho, por sua vez, é calejado o suficiente para entender que, numa cidade cheia de urgências, brigar por protagonismo é bobagem. Foi, conversou, posou para o retrato e saiu pela porta da frente. O povo? Esse nem sabe direito quem é responsável por quê. Para o cidadão comum, se é “autoridade”, tem que agir. No fim, o que importa é o resultado. O resto é legenda de foto.

 

A política do senso comum — e o senso comum da política

Silva e Luna e Vermelho disseram, quase em uníssono, que estão acima das desavenças partidárias. Agem “pelo bem da cidade”. Frase bonita, daquelas que cabem em outdoor. Mas nesse caso, parece sincera. Afinal, administrar Foz exige menos vaidade e mais prática. Se o general conseguir cavar apoio no Congresso ao mesmo tempo em que tapa os buracos das ruas, já será um feito digno de desfile cívico. E Vermelho, que não é bobo nem nada, sabe que estar presente nas soluções rende mais que fazer oposição no grito. Enquanto isso, a população observa e espera. E se possível sem precisar sentar.

 

Até a próxima!

E lá vamos nós para mais um fim de semana molhado, friozinho e com cara de interior europeu — se Londres tivesse pinhão e novela das nove. Em Foz, o fogo não vem das fábricas, mas do fogão à lenha, e o chá das cinco é substituído por café passado na hora e bolinho de chuva. Prepare a pipoca, recupere o que sobrou da festa junina (inclusive o quentão de ontem) e aproveite para maratonar o que quiser — nem que seja o noticiário. A lenha está cara? Está. Mas o bom humor segue gratuito. Bom descanso a todos e até semana que vem — com ou sem galocha!

Por Rogério Bonato

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