Depoimentos e vídeos reforçam homicídio por intolerância política praticado por Guaranho
Os depoimentos das testemunhas e as provas carreadas aos autos, especialmente os registros em vídeo, serão fundamentais para convencer os jurados de que houve motivação política no caso de homicídio em que é réu o ex-agente penal federal Jorge Guaranho, pela morte do guarda municipal Marcelo Arruda, no local onde este comemorava os 50 anos de idade com amigos e familiares. O júri popular, em Curitiba, deve ser concluído nesta quinta-feira (13). O acusado pode pegar até 30 anos de reclusão.
“Nós da defesa da família de Marcelo Arruda, que atuamos como assistentes de acusação, estamos confiantes de que os depoimentos das testemunhas e as provas carreadas aos autos convencerão os jurados de que foi homicídio duplamente qualificado (motivo fútil por intolerância política e perigo de dano a terceiros)”, disse o advogado Ian Vargas, que representa a família junto com Daniel Godoy Junior e Andrea Jamur Pacheco Godoy. “(…) e a justiça será feita”, completou.
A avaliação dos juristas teve como base os depoimentos colhidos principalmente no primeiro dia do julgamento de Jorge Guaranho, aberto na terça-feira (11) no Tribunal do Júri em Curitiba, para onde foi transferido após três adiamentos para ocorrer em Foz do Iguaçu, após manobras dos advogados de defesa do acusado. A previsão é que o veredicto saia apenas nesta quinta-feira (13). Até o fechamento da edição ontem (12), ainda estavam sendo ouvidas as testemunhas de defesa.
No primeiro dia do julgamento, um dos destaques foi o depoimento de Pamela da Silva, companheira de Marcelo Arruda, que tentou barrar a entrada de Guaranho no salão de festas antes do crime, onde o ex-tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu comemorava 50 anos com familiares e amigos, em uma festa temática ao presidente Lula e seu partido. Ela respondeu, no início, a perguntas do Ministério Público (MPPR), enquanto eram exibidos vídeos que registraram o atirador em ação.
Motivação política
Na avaliação de Pamela, a motivação política foi a principal causa do crime, uma vez que Guaranho foi até o local ouvindo música em alto volume em alusão ao então pré-candidato a reeleição Jair Bolsonaro (PT) e gritando ofensas ao agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ela foi interrogada pelas promotoras Ticiane Louise Santana Pereira e Roberta Franco Massa.
Pamela disse ter ouvido Guaranho gritar “Bolsonaro” e quando ele retornou ao local armado, Pamela chegou a dizer que ela era policial civil, mas não conseguiu evitar que a festa fosse invadida e os disparos da arma de Guaranho, que pertence a corporação onde ele era lotado, atingissem a vítima no interior do salão. A ex-companheira contou também que o atirador continuou disparando mesmo depois da vítima ter sido atingida.
No depoimento, Pamela confirmou que Marcelo Arruda não havia ingerido álcool no dia da festa, como comprovaram os exames toxicológicos. A companheira da vítima também respondeu questionamentos dos advogados de defesa. O Conselho de Sentença é formado por sete pessoas, das quais são quatro mulheres e três homens, sorteados e escolhidos de um grupo formado por 25 jurados convocados.
Videoconferência
Com a distância para o local do julgamento após a mudança definida pela justiça, algumas testemunhas falaram de Foz do Iguaçu por videoconferência, como foi o caso da vigilante Dani Lima dos Santos, que fazia ronda nas proximidades da associação onde ocorreu o crime, na região da Vila A. Ela confirmou ter ouvido de Guaranho “aqui é Bolsonaro” em sua chegada ao local.
Também foram realizados por vídeo os depoimentos de Wolfgang Vaz Neitzel e Edemir Riquelme Gonsalvez, amigos da vítima que estavam no aniversário. Também serão ouvidos na condição de testemunhas de defesa: Márcio Jacob Müller, que teve acesso às imagens do aniversário e mostrou para Guaranho e Alexandre José dos Santos.
O ex-agente penal federal é réu por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil associado à violência política. Ele trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas. A tese da defesa é demonstrar que o crime não teve motivação política e que o atirador não lembra de nada daquela noite. Em regime de prisão domiciliar, ele mora em Foz do Iguaçu e usa tornozeleira eletrônica.
- Da Redação / Foto: divulgação