Brasil e Paraguai deflagram operação conjunta para combate ao tráfico internacional de armas
A Polícia Federal deflagrou ontem (5) uma operação para combater o tráfico internacional de armas entre o Brasil e o Paraguai, a partir de investigações que identificaram uma complexa e multimilionária engrenagem de tráfico ilícito de armas de fogo da Europa para a América do Sul. Uma empresa de Assunção foi responsável pela importação de milhares de pistolas, fuzis e munições. No país vizinho, quase 18 mil armas adquiridas legalmente entre 2022 e os primeiros 11 meses de 2023, por mais de 20 lojas especializadas, simplesmente sumiram. Mandados foram cumpridos em Foz do Iguaçu e Ponta Grossa, no Paraná.
As armas, de acordo com a PF, eram importadas da Europa para o Paraguai, onde eram raspadas e revendidas a grupos de intermediários que atuavam na fronteira entre os dois países, para serem revendidas às principais facções criminosas do Brasil. Estima-se que desde o início das investigações, em 2020 em Vitória da Conquista (BA), a empresa investigada importou cerca de 43.000 armas para o Paraguai movimentando em três anos mais de R$ 1,2 bilhão. Ao todo, 19 pessoas foram presas até o fim da manhã: 5 no Brasil e 14 no Paraguai, informou o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Neste período foram realizadas 67 apreensões que totalizam 659 armas apreendidas no território brasileiro, apreensões estas realizadas em 10 Estados da federação: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará. A operação foi realizada em parceria com Ministério Público Federal e cooperação internacional com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (SENAD/PY) com o Ministério Público do Paraguai.
A ação contou ainda com a FICTA (Força-Tarefa Internacional de Combate ao Tráfico de Armas e Munições), que é composta pela HSI (Homeland Security Investigations), SENASP (Secretaria Nacional de Segurança Pública) sob Supervisão do Serviço de Repressão ao Tráfico de Armas da PF. O processo está em curso na 2º Vara Federal de Salvador/BA, a qual expediu 25 mandados de prisões preventivas, 06 ordens de prisão temporária e 54 mandados de busca e apreensão em três países, Brasil, Paraguai e Estados Unidos.
Atuação
No Brasil, os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Sorocaba/SP, Praia Grande/SP, São Bernardo do Campo/SP, Brasília/DF e Belo Horizonte/MG. No Paraná, pelo menos dois mandados foram cumpridos em Foz do Iguaçu e Ponta Grossa. As armas, segundo as investigações, entraram no país passando pela região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina e outros pontos fronteiriços entre Brasil e Paraguai.
Nas ações de ontem, foram expedidos 54 Mandados de Busca e Apreensão (MBA) – 17 no Brasil e 21 no Paraguai. Deste total, 16 não haviam sido cumpridos até o fechamento da edição, por serem em locais conflagrados, com efeito colateral incontrolável, segundo a PF. Dos mandados, 25 eram de Prisão Preventiva (MPP) – 8 no Brasil (5 cumpridos), 15 no Paraguai (12 cumpridos) e 2 nos EUA não cumpridos – não houve tempo hábil para expedição dos mandados de prisão, de acordo com a lei daquele país
Na operação, também foram expedidos 6 Mandados de Prisão Temporária (MPT) – 1 no Brasil (cumprido) e 5 no Paraguai (1 cumprido) e 21 difusões vermelhas na Interpol. Por determinação da Justiça, foram bloqueados R$ 66 milhões em bens, direitos e valores no Brasil, mas ainda sem informação de cumprimento. Também foi feito um pedido de cooperação jurídica internacional enviado ao Paraguai para bloqueio de bens, direitos e valores naquele país.
Dólares
As apreensões em dólares ainda não haviam sido contabilizadas até o início da tarde de ontem. Nas ações foram ainda encontradas centenas de armas (fuzis e pistolas), na sede da empresa em Assunção, que enviava as mesmas ilegalmente ao Brasil. Os agentes encontraram ainda o local utilizado para fazer a raspagem das armas, a fim de dificultar o rastreamento das mesmas.
41% das armas importadas pelo Paraguai estão no mercado negro
A Diretoria de Material de Guerra (Dimabel), órgão responsável pela venda, posse e circulação de armas no Paraguai, divulgou na última semana um balanço dos últimos dois anos das atividades no país. De acordo com os dados, entre 2022 e os primeiros 11 meses de 2023, 17.369 armas levadas legalmente para o país foram perdidas do radar de Dimabel, ou seja, desapareceram e estão a serviço de organizações criminosas, principalmente no Brasil.
O volume representa 41% das armas importadas legalmente pelo Paraguai nos últimos quatro anos, que chegaram a 41 mil unidades. O armamento cujo paradeiro é desconhecido poderia abastecer 100% das Forças Armadas ou 80% da Polícia Nacional. A prospecção, do jornal Ultima Hora, está de acordo com dados do Sistema Integrado da Direção de Materiais de Guerra (SID) utilizados para a rastreabilidade de armas desde a importação até o comprador ou usuário final.
As pistolas e fuzis entraram legalmente através de importadores. Em seguida, foram vendidos para 22 casas comerciais, apenas nos últimos dois anos. “Neste ponto a trilha se perdeu. As casas não conseguiam justificar nas vendas a inexistência das armas nos seus armazéns e em muitos casos fecharam, desaparecendo como as armas”, relatou a imprensa do país.
- Da Redação / Foto: ABr