No Bico do Corvo

O sucesso dos free shops – gaúchos

A fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina vive uma nova era desde a regulamentação e instalação dos free shops brasileiros, autorizados pela Lei Federal de 2016. Desde a abertura da primeira loja em Uruguaiana, em 2019, o comércio local se reinventou. Com isenção de impostos federais e ICMS estadual, os produtos importados de grife e eletroeletrônicos se tornaram imãs de consumo e receitas, atraindo brasileiros e estrangeiros. Só em 2024, o faturamento das lojas do RS cresceu 46% em relação ao ano anterior, movimentando US$ 60,8 milhões.

 

Uruguaiana reina entre as zonas francas do país

A cidade fronteiriça é considerada a “rainha dos free shops” no Brasil. Dos 34 pontos do país, 13 estão em Uruguaiana, que sozinha respondeu por 61,5% de todo o faturamento estadual no setor em 2024. Isso equivale a US$ 37,4 milhões. Além disso, só entre janeiro e abril de 2025, 1,2 milhão de pessoas atravessaram a fronteira para compras, sendo que mais de 90% eram argentinas. A cotação do dólar elevado, mesmo em suas variações, aliada à diversidade de produtos e preços competitivos, fortaleceu o caixa e aqueceu o comércio tradicional local, que passou a se qualificar.

 

Estratégia comercial com respaldo político

O sucesso gaúcho não é fruto do acaso. O Estado foi pioneiro ao unir empresários, varejistas, lideranças locais e representantes políticos. O deputado Frederico Antunes (PP), por exemplo, esteve à frente da articulação da legislação federal desde 2010 e é citado como peça-chave na implantação dos free shops no Brasil. Ele agora coordena esforços para dobrar a cota de compras de US$ 500 para US$ 1.000, equiparando os free shops de fronteira aos de aeroportos internacionais.

 

Geração de empregos e qualificação social

Os free shops também desempenham papel importante no desenvolvimento social. Segundo Paulo Pavin, diretor-executivo da Bah Free Shop, só em duas megalojas de Uruguaiana há 130 funcionários, sendo mais de 70% mulheres e 50% jovens no primeiro emprego. Já a rede Brasil Free Shop, do grupo Baklizi, emprega cerca de 400 pessoas em sete lojas e deve abrir mais três ainda em 2025. Além dos empregos diretos, há capacitação em idiomas e atendimento ao público internacional.

 

Foco na expansão e modelos consolidados

O RS concentra 26 das 34 lojas francas do Brasil, em cidades como Jaguarão, Itaqui, Quaraí e Santana do Livramento. Há previsão de mais cinco novas unidades até dezembro — quatro delas em Uruguaiana. O modelo de negócio se mostra sólido, com ticket médio elevado, pagamento em dólar e parcelamento facilitado no cartão de crédito, como destaca o CEO da Avolta Brasil, Gustavo Fagundes, responsável pelas marcas Dufry e Hudson no país

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Lição de casa bem feita

Enquanto o Rio Grande do Sul avança com planejamento e integração entre setores público e privado, outras regiões ainda tratam os free shops como promessa vaga ou operação tímida. Com 32 cidades gêmeas habilitadas em todo o país, apenas 14 operam ativamente com lojas francas. Faltam articulação, segurança jurídica e visão estratégica que o RS soube construir — mirando não apenas o consumo, mas a retenção de talentos e a dinamização das economias locais.

Foz do Iguaçu: um gigante que ainda ensaia

Em Foz do Iguaçu, o potencial dos free shops é evidente, com movimento crescente e localização estratégica. A cidade atrai turistas do mundo inteiro e já abriga unidades bem posicionadas. Segundo empresários locais, há planos para construir um grande shopping de marcas internacionais, reunindo lojas hoje em Ciudad del Este. Se concretizado, o projeto pode reposicionar Foz como um polo de compras de alta qualidade, transformando um atrativo regional em força nacional. Mas para isso, será preciso fazer como os gaúchos: somar inteligência empresarial, ação política e planejamento urbano.

 

Falta integrar?

Sim. Embora a legislação permita e alguns empreendimentos já operem, Foz possui um diferencial de protagonismo comercial se comparado com outras cidades fronteiriças, mesmo que elas já exercem a modalidade com maestria. Se o setor empresarial conseguir projetar a criação de um grande centro de compras com grifes mundiais, reunindo o que hoje se encontra disperso em Ciudad del Este, Foz passará a competir com destinos como Miami, com a vantagem da geografia estratégica. Isso não é mais um sonho.

 

Um mar de oportunidades

Caso o Congresso Nacional aprove a legalização dos cassinos, Foz do Iguaçu se tornará um destino de peso em qualquer ranking internacional. Afinal, já tem o perfil adequado de infraestrutura consolidada, turismo de massa, posição geopolítica e o fluxo constante de visitantes com perfil diversificado. Vai faltar apenas o mar — o de água salgada, é claro. Porque o de oportunidades, esse, já inunda a cabeça de muita gente. E com sol ou sem sol, Foz há muito superou boa parte do litoral brasileiro na corrida pela preferência dos turistas.

 

A vitrine que Foz ainda não viu

Muita gente ainda associa as lojas francas apenas a produtos importados, perfumes estrangeiros e eletrônicos de última geração. Mas o que poucos percebem — inclusive em Foz — é que a isenção de tributos federais e ICMS também vale para produtos da indústria nacional. Imagine uma vinícola brasileira abrindo loja franca na cidade, vendendo vinhos com até 70% de isenção tributária. Seria um brinde à inteligência econômica. Mais que isso: seria o primeiro movimento sólido de integração entre turismo e comércio na tríplice fronteira. Por enquanto, parece que os iguaçuenses ainda não acordaram para o tamanho dessa oportunidade. Com cabeça no lugar e planejamento, Foz pode — sim — atrair empresas, indústrias e marcas brasileiras para um modelo inovador: transformar a cidade em “vitrine premium” do Brasil. E se alguém ainda teme a ciumeira da Zona Franca de Manaus, é bom lembrar que estamos em outros tempos. O mundo gira, o comércio muda — e Foz, se quiser, pode liderar essa nova rodada. A lembrar, também, os benefícios das lojas francas estão mantidos na Reforma Tributária

 

Bola rolando, expediente encerrado

Sexta-feira de Copa do Mundo de Clubes é praticamente feriado informal no Brasil. Não deu tempo de esperar o apito final dos jogos do Fluminense e Palmeiras — e, diante da qualidade dos adversários, melhor não arriscar palpites. A esperança, como sempre, escalou no ataque. E o expediente? Esse foi encerrado no primeiro tempo, com muito brasileiro batendo ponto nas choparias e nos telões da vida.

 

Uma torcida mundial, em Foz

O mais curioso da sexta futebolística em Foz do Iguaçu não foi a bola em campo, mas a arquibancada. Em bares e telões pela cidade, os lugares estavam lotados — e não só de tricolores e palmeirenses. Havia argentinos, paraguaios, turistas dos quatro cantos e até quem não entendia nada do que se passava, mas vibrava mesmo assim. É o charme da tríplice fronteira: a rivalidade vira confraternização, e o futebol, linguagem universal. Quando a bola rola por aqui, ninguém fica de fora — nem mesmo quem veio só ver as Cataratas.

 

Tio Sam faz festa

É sempre um prazer abrir espaço para os escritos de Adilson Pasini, professor universitário, auditor e escritor de convicções firmes. No texto a seguir, ele rememora o Independence Day — celebrado em 4 de julho — como uma das datas mais simbólicas do calendário humano, ao lado de revoluções fundadoras como a Francesa e a Russa. Mas não se trata apenas de uma ode ao modelo americano: Pasini nos convida à reflexão sobre a essência da liberdade, dos direitos individuais e da tensão constante entre Estado e povo — princípios que deram origem à república norte-americana, mas que frequentemente se perdem entre promessas vazias e nostalgias coletivistas. Com a autoridade de quem compreende os valores iluministas que fundaram as grandes democracias modernas, Pasini alerta: os Estados Unidos ainda vivem tentando se descobrir — como fizeram em sua traumática Guerra Civil, e como parecem ensaiar novamente no presente. No todo, o que se propõe é mais que a comemoração da independência de uma nação. É uma homenagem à própria ideia de liberdade, como valor universal e em constante disputa. Boa leitura.

  • Por Rogério Bonato

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