Coluna do Corvo
Alô, Datafolha? Aqui quem fala é a CIA.
As paredes em Washington têm ouvidos. Circula nos bastidores da capital americana que Donald Trump foi influenciado por dados recém-levantados no Brasil, coincidentemente parecidos com os do Datafolha. Não se sabe quem entregou o dossiê, mas a informação “chegou quente” à Casa Branca. Como os americanos não soltam nem suspiro sem pesquisa, a hipótese é crível. Trump teria usado dados ruins para calibrar sua cartada comercial e no fim, errou feio. Os protestos pífios do último domingo revelaram que a insatisfação dos brasileiros não bate com a narrativa de Eduardo Bolsonaro.
Trump diz “call me maybe”
Lula responde: “quem sabe depois do café”. Na sexta-feira, Trump resolveu ensaiar um gesto diplomático: disse que Lula pode ligar quando quiser. O presidente brasileiro respondeu nas redes, em tom civilizado, mas deixou claro que agora está ocupado demais resolvendo o estrago do tarifaço. Sinal de trégua? Talvez. Mas há algo mais interessante no subtexto: ambos parecem ter entendido que o confronto virou constrangimento. O tom muda, mas o estrago está feito.
Pisando em ovos?
Será que os números do Datafolha – ou de outro levantamento – realmente afetaram Trump? Isoladamente, não. Mas quando somados à pressão de empresários, congressistas, diplomatas e até assessores jurídicos, o quadro muda. Dizem que Eduardo Bolsonaro já não consegue mais atendimento direto na Casa Branca — sinal de que a fila andou. Para piorar, Alexandre de Moraes voltou à cena, firme e irônico. E olha que nem falamos da Lei Magnitsky…
A tal da Lei Magnitsky não é para qualquer toga.
A turma de assessores de Trump, em seu ímpeto hollywoodiano, cogitou invocar a tal Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes. Acontece que a legislação americana se aplica a violações de direitos humanos, corrupção internacional, e não a decisões judiciais soberanas. Especialistas garantem: não há base legal. Pior: há o risco de que essa investida impulsione a imagem de Moraes como paladino da Justiça — ao menos no Brasil. Enquanto isso, Ronaldo Caiado, um dos mais vocais bolsonaristas, pede 15 anos de prisão para golpistas. Quem apoia Trump talvez esteja com a bússola quebrada.
Datafolha, a estrela da semana
O levantamento do Datafolha foi tão abrangente que parece ter virado briefing de inteligência. Realizado com 2.004 entrevistados em 130 municípios, mostrou que 48% querem Bolsonaro preso e 55% são contra a anistia do 8 de janeiro. Quase metade aprova a tornozeleira, e a maioria acredita que ele pode tentar fugir do Brasil. Lula aparece forte para 2026, e Alckmin como opção B. E o mais simbólico: 57% acham que Trump está errado em interferir nos julgamentos brasileiros. Talvez seja hora de o republicano rever sua cartilha de “America First”, se for com relação aos brasileiros.
Trump, o tarifador solitário
O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros atingiu não só a carne e o café — mas o fígado da opinião pública. Segundo o Datafolha, 89% dos brasileiros acreditam que a medida prejudicará a economia. A maioria quer que Lula negocie; apenas 6% topariam atender às exigências da Casa Branca. A visão majoritária é clara: Trump está errado. E não é só pela taxação. É pelo tom imperial, pelo desrespeito à soberania e pela tentativa tosca de interferência judicial. O “erro” foi tão mal calculado que parece vingança travestida de estratégia. A esta altura está deve estar tentando retroceder. O recado à Lula nos jardins da Casa Branca, via Raquel Raquel Krahenbuhl, é um sintoma da nuvenzinha preta soltando raios, que paira sobre a cabeça do homem mais poderoso do universo conhecido.
A lógica da revanche e o feitiço do tarifaço
Segundo outra pesquisa (Quaest), o apoio à tarifa de Trump é minoritário — e com perfil bem definido: homens, direitistas convictos, nostálgicos do capitão. Ainda assim, representam só 19% da população. A maioria teme impacto direto em suas vidas. Alimentos, remédios, exportações: tudo entra na conta. O estrago foi feito. E a retaliação? Apenas 15% defendem taxar os americanos na mesma moeda. O brasileiro quer diplomacia, não duelo de pistoleiras às doze badaladas, com bolas de feno atravessando as ruas. Ainda bem.
Da carta ao recado: democracia tem dono?
Mais da metade dos brasileiros rejeita a cartinha de Trump em defesa de Bolsonaro. Em vez de ajudar, ele atrapalhou. Ao interferir em julgamentos, comprou uma briga que não era dele. E mostrou ao mundo o quanto sua diplomacia ainda é movida por ressentimento eleitoral. O brasileiro comum, esse sim, dá exemplo: quer Justiça, respeito mútuo e sobriedade. Não adianta vir de terno e gravata dizendo que “ama o povo brasileiro”, enquanto pisa nos direitos comerciais e na soberania jurídica do país. O que Trump deveria aprender com o Datafolha é simples: quem respeita, colhe.
De lá para cá
De Washington ao Bubas, onde a dignidade urbana urge. Em tempos de tarifaços globais e desequilíbrios diplomáticos, Foz do Iguaçu dá um passo importante — e esperado — em direção à justiça territorial. Com um pacote de R$ 32 milhões, a Ocupação Bubas, maior do Paraná, finalmente entra na pauta do investimento público. A área, que abriga cerca de 6 mil pessoas, deixará de ser um ponto cego. Entre UBS moderna, CEU da Cultura e obras de urbanização, o pacote ainda é modesto para o tamanho da dívida social, mas é um alívio civilizatório. Afinal, o Sul da cidade já carrega as joias da coroa: Ponte, Perimetral e via das Cataratas duplicada. Faltava o mais importante — as pessoas.
A urbanização como política de reparação
A drenagem, o asfalto e o saneamento básico não são favores — são direitos. E a urbanização do Bubas, com investimento superior a R$ 25 milhões, corrige mais de duas décadas de omissão. O prefeito Silva e Luna celebra a virada e se o ritmo se mantiver, Foz mostrará que é possível levar a prefeitura aonde ela sempre faltou.
Cultura e saúde
Além da infraestrutura, o pacote anunciado atinge o coração da inclusão com a cultura e saúde pública. Como mencionado, o CEU da Cultura, com biblioteca e estúdio de gravação, será o primeiro do Sul da cidade — e já nasce com orçamento federal, via Lei Aldir Blanc. A UBS tipo IV, com estrutura para quatro equipes de Saúde da Família, é promessa de atendimento qualificado. Ambas representam mais que obras: são símbolos de pertencimento. O recado está dado: o Bubas não será mais um território esquecido. Que a atenção e pavimentação sirvam como alicerces para um futuro onde não se debate mais “ocupação”, mas sim “bairro”. Xô palavra “ocupação”.
Francischini em campo: a direita refaz suas linhas
A revoada começou. Em ano pré-eleitoral, o Delegado Fernando Francischini desembarcou em Foz com ares de articulador estratégico e discurso de fidelidade total ao bolsonarismo. Presidente estadual do Solidariedade e líder da nova federação com o PRD, ele costura alianças, reacende amizades e planta candidaturas. Em sua visita, projetou o cenário de 2026 com cálculo clínico: é Bolsonaro até o fim, e se inviabilizado, há plano B — ou C — com nomes como Tarcísio, Ratinho Jr. e Ronaldo Caiado. Curiosamente, todos governadores que mantêm distância segura da retórica e preferem um discurso mais técnico. Mas Francischini não se rende: vê no próprio passado de cassação uma senha jurídica usada para inviabilizar Bolsonaro e pretende lutar por sua reabilitação. Em Foz, a direita mostra que segue organizada.
Solidariedade seletiva
Francischini traz um discurso que procura resgatar a “direita original”, segundo ele contaminada por partidos que se dizem conservadores mas aderiram ao governo Lula em troca de ministérios. No seu plano, o Solidariedade é o porto ideológico seguro, distante de “conchavos” e pronto para alinhar uma candidatura forte contra o petismo. Quando o assunto é o tarifaço de Trump, Francischini mistura pragmatismo com estratégia: não aprova a taxação, mas evita culpar o ex-presidente. Diz que a culpa está no atual governo, que “desafiou” Trump 12 vezes e colhe o revide. É a típica lógica binária do bolsonarismo, onde o adversário está sempre errado e a retaliação externa é culpa do inimigo interno. Ele lembra que, em 2020, Bolsonaro foi pessoalmente aos EUA negociar tarifas. Ao lado da esposa, deputada Flavia, Francischini reforça a presença de um clã político consolidado, tal como os Barros, que orbitam o poder paranaense há décadas.
Atenção local
Enquanto o mundo se distrai com tantas diatribes, aqui na Tríplice Fronteira os guias de turismo travam uma batalha silenciosa — mas vital. Novas regras do lado argentino vêm dificultando a atuação de profissionais brasileiros no Parque Nacional do Iguazú. Exigências burocráticas, seguros caros e restrições de acesso têm afastado muitos da profissão. Em reação, o vereador Bosco Foz se reuniu com a categoria e o secretário Jin Petrycoski para exigir isonomia no trato. Afinal, se a integração é bandeira da fronteira, não pode haver regra de mão única. O turismo é o motor de Foz, e os guias, seus condutores. Não há como avançar ignorando a trilha de quem conhece o caminho. O vereador Bosco tem levantado bandeiras interessantes e isso é bem recebido pelos setores afetados.
O crime usa terno e voz mansa
Na sexta-feira, a Justiça do Trabalho foi palco de uma ação de alerta: o chamado “golpe do falso advogado”. A movimentação serviu para abrir os olhos da população sobre um crime cada vez mais sofisticado — que finge ter linguagem técnica e tom jurídico. Os criminosos se aproveitam da confiança no sistema e da esperança das pessoas em receber valores de processos. É a fraude que fala bonito, pede pix e desaparece em minutos. Combater isso exige vigilância, informação e uma postura menos ingênua diante do WhatsApp. Justiça não cobra por mensagem. Nem advogado sério manda link de pagamento.
A toga do estelionatário
Quando o crime se fantasia de advogado, a vítima se sente duas vezes traída: pela fraude e pela aparência de legalidade. É aí que mora o perigo do chamado “falso advogado” — um estelionatário que copia nomes, logomarcas e jargões jurídicos para aplicar golpes com cara de sentença. A OAB-PR fez muito bem ao produzir material educativo e alertar a população sobre o uso criminoso da sua imagem institucional. Mas isso não basta. Falta uma reação mais firme das operadoras, dos bancos e do Judiciário.
Para início de semana
Depois de dias estalando de Sol e calor que foi até os 30 graus, o céu resolveu mudar o humor. No domingo à noite, a virada foi dramática: caiu um temporal daqueles, com trovão, vento e tudo mais. E, segundo as previsões, o aguaceiro deve continuar firme até o fim de semana — acompanhado de queda nas temperaturas. Este colunista já cogita medidas emergenciais: se a chuva apertar demais, talvez precise transformar a residência na “Arca do Bonato”, para abrigar todos os bichos da Eliane Schaefer. Barbaridade, é cachorrada derrubando as portas com medo de trovões, gatos se enfiando embaixo das cobertas e até as tartarugas subindo pelas paredes. As pombas e os passarinhos da vizinhança se abrigaram no teto da sala! Boa semana a todos, e com o guarda-chuva na mão!
- Por Rogério Bonato