Coluna do Corvo

Boas novas na fronteira

Foz do Iguaçu foi atualizada a novela da Perimetral Leste. A via — que ligará a BR-277 à Ponte da Integração (ou Governador Jaime Lerner, ninguém sabe ao certo) — está com quase 80% das obras concluídas. Mas, como bons leitores perguntaram: “e a estação aduaneira, senhores?” Pois é: sem um Porto Seco adequado, não há escoamento eficiente. Caminhões continuarão desfilando pelo centro da cidade como se estivéssemos em 1985. Mas calma: o governo do Paraná deu a resposta com um documento poderoso — a Licença de Instalação para o novo terminal.

 

Um Porto Seco de R$ 500 milhões

Com a licença ambiental na mão, a empresa Multilog vai iniciar as obras do novo Porto Seco de Foz, com investimento estimado em R$ 500 milhões. O terminal será erguido em 550 mil m² fora do perímetro urbano, desafogando a cidade e modernizando o trânsito de cargas. A promessa é de até 3 mil empregos. Só para lembrar: o atual Porto Seco movimentou US$ 8,6 bilhões em 2024. Um gigante engasgado no tráfego urbano. A nova estrutura quer corrigir esse contrassenso logístico — e, se cumprida a promessa, será um marco na logística e no futuro econômico da Tríplice Fronteira.

 

Vulcanos da redação

A pergunta dos leitores, aliás, fez o colunista lembrar do saudoso Sr. Spock: “Paz e Prosperidade”, mas também lógica vulcana. Terminar uma estrada internacional sem planejar a triagem das cargas seria como abrir um aeroporto sem sala de embarque. O novo projeto inclui scanners, balanças, câmaras frias, portões automatizados e — aleluia — áreas de descanso para os motoristas. Se funcionar como prometido, teremos um terminal com cabeça, tronco e rodas. E com menos buzina no centro da cidade. Há quem diga que a área pode ser ampliada para cargas aerotransportadas, uma vez que estará no eixo do aeroporto.

 

O peso da burocracia

O documento que autoriza a obra tem nome pomposo: Licença de Instalação (LI). Em termos práticos, é o sinal verde para erguer paredes, fundações e galpões. Mas também é o resultado de um processo longo, previsto no Decreto Estadual 9541/2025, que regula o licenciamento ambiental no Paraná. Esse tipo de medida, embora engessada por pareceres, exige precisão técnica. A boa notícia é que o Estado parece ter encontrado o tom entre desenvolvimento e sustentabilidade. Se seguir nessa batida, o Paraná vai continuar liderando com estrutura — e não só discurso.

 

De dentro pra fora

O novo Porto Seco será, finalmente, externo à zona urbana. Isso, por si só, já merece aplausos. Há décadas os iguaçuenses dividem o trânsito com carretas, bitrens e contêineres. A localização atual é anacrônica e sempre gerou tensão entre logística e qualidade de vida. Agora, com acesso direto à Perimetral e à ponte nova (imponente, mas fechada), temos uma chance concreta de reorganizar a cidade por dentro e por fora. A economia agradece. E a população também.

 

Que venha o dado justo

Finalmente, Foz do Iguaçu parou de contar turista como quem conta ingresso de circo. Durante anos, a referência era apenas a entrada das Cataratas, o que ignorava uma legião de visitantes que vinham a eventos, negócios, compras ou simplesmente a passeio. Ignoravam inclusive outros atrativos. Agora, com metodologia ajustada, a cidade assume seu real tamanho: 5 milhões de turistas ao ano. Não é mais chute nem vaidade — é métrica. E vamos combinar: cidade turística que se preza precisa saber quem a visita. Caso contrário, o trade vira turista da própria ignorância.

 

Turismo com várias faces

A nova contagem leva em conta hospedagens em hotéis, aluguéis por temporada, taxas de ocupação e tempo médio de permanência. E mais: reconhece que nem todo mundo vem só pelas Cataratas. Em tempos de eventos, convenções, gastronomia e compras na Tríplice Fronteira, o turismo em Foz virou mosaico. Ignorar isso era como medir a economia só pelo preço do pão. A mudança corrige uma distorção histórica — e, como bem disse o secretário Jin Petrycoski, recoloca Foz no mapa do turismo com dignidade estatística.

 

Poor Niagara, de novo

A frase de Eleanor Roosevelt volta à cena com força total: “Poor Niagara!”. As Cataratas do Iguaçu, agora reconhecidas novamente como a melhor atração turística da América Latina pelo Tripadvisor, superam destinos consagrados como Machu Picchu e Cristo Redentor. E mesmo assim, por décadas, Foz divulgava números tímidos, quase tímidos demais para uma maravilha natural do mundo. Agora, sim, a cidade assume sua estatura internacional. Se os números inflacionavam outras capitais turísticas, em Foz eles finalmente se tornaram… realistas.

 

Cinco milhões, e crescendo

A expectativa do setor é ainda mais animadora: com novos voos regulares, captação de eventos e investimentos em cultura — como o futuro Centro Pompidou — Foz pode atingir 6 milhões de turistas até 2026. É número de cidade grande, com protagonismo global. E não estamos falando apenas de beleza cênica. O que atrai o visitante é a experiência completa: estrutura, conectividade, diversidade de atrações e qualidade no atendimento. A cidade já tem isso. Faltava só parar de esconder o próprio sucesso.

 

A conta fecha

Foz do Iguaçu possui cerca de 30 mil leitos legalizados, com 66% de ocupação média. Multiplicando esse número pelos dias do ano e considerando a permanência média, já passamos dos 4,4 milhões de turistas. Ao incluir hospedagens alternativas como Airbnb, o salto chega aos 5 milhões. E isso sem contar os que se hospedam em Puerto Iguazú, Ciudad del Este e até Santa Terezinha, dependendo o feriado, mas circulam, gastam e vivem Foz como se estivessem aqui. Ou seja: o turismo é regional, fluido e real — e a contabilidade precisa ser, também, transfronteiriço.

 

Cataratas, campeãs planetárias

O reconhecimento do Tripadvisor não veio à toa. Com nota 4,9 (quase perfeita), as Cataratas do Iguaçu estão no topo das atrações naturais do mundo, à frente de museus, monumentos e sítios arqueológicos. São destaque entre as 25 experiências mais bem avaliadas do planeta. O que encanta os visitantes? A natureza, sim, mas também a organização, os serviços, a infraestrutura e o senso de pertencimento que o Parque proporciona. Que esse reconhecimento sirva como espelho para a cidade continuar tratando o turismo como o que ele é: política pública, economia viva e orgulho coletivo.

 

Guerra das cartilhas: capítulo final?

Em Foz, quem diria, até livros de inglês viraram caso de polícia política. Após pressão de dois vereadores que confundiram Valentine’s Day com apologia à promiscuidade, sete mil exemplares do material “English After School” foram recolhidos às pressas, sem consulta a professores ou parecer técnico. Agora, a Justiça mandou devolver tudo. A decisão é clara: ou os livros voltam às escolas em até dez dias, ou a secretária de Educação paga multa de R$ 10 mil do próprio bolso.

 

Educação sob suspeita

Os professores reagiram com lógica e ironia: usaram nariz de palhaço, faixas pretas e silêncio como forma de protesto no desfile de aniversário da cidade. A ação judicial, movida pelo Sinprefi, apontou que os livros foram elaborados com apoio da UFPR e da PUC-PR — e vinham sendo usados há quatro anos. Além disso, correm denúncias de que o recolhimento poderia beneficiar uma editora privada. Moral da história? Se o conteúdo didático causou “confusão na cabeça das crianças”, como alegaram os vereadores, imagina o que essa confusão toda causou na cabeça dos pais, professores e do contribuinte. Afinal, não se combate doutrinação com desinformação.

Moro na fronteira, com orçamento na mochila

O senador Sérgio Moro na ACIFI, ao contrário de muitos políticos que só aparecem para fotografias, certamente abordará um PDF recheado de números. Em dois anos de mandato, destinou R$ 4,38 milhões para Foz do Iguaçu. Parte desse valor já está em execução ou pago, o que não é pouca coisa no labirinto orçamentário de Brasília. Teve verba para van escolar, leite especial, equipamentos da APAE, mobiliário da Cáritas, veículos sociais e até para ampliar o Hotel de Trânsito de Oficiais do 34º BIMec. Ou seja: tem bala na agulha e um certo carinho pela cidade.

 

Trabalho importante

Entre uma emenda e outra, o senador contemplou desde a Guarda Municipal (R$ 500 mil em equipamentos) até o projeto “Um Chute para o Futuro”, que recebeu R$ 218 mil para custeio e materiais. A Associação Viva Bia foi atendida com R$ 300 mil para uma van que transportará alunos para apresentações e eventos. Nada mal para quem gosta de política com planilha. E para quem diz que Moro anda apagado, vale lembrar que ele ainda destinou recursos para a Marinha e o Exército.

 

Bom fim de semana, com Raul no radar

Chegamos ao fim de mais uma coluna, da semana e do mês. A previsão diz que haverá chuva leve neste sábado e domingo em Foz do Iguaçu (mas nunca se sabe) — aquela garoa perfeita para abrir um livro, ouvir boa música ou maratonar uma série sem culpa. Este colunista, por sinal, recomenda com entusiasmo a série sobre a vida de Raul Seixas. Gênio à frente do seu tempo, o maluco beleza segue ensinando que é preciso “sonhar e não desistir”. Aos leitores, o desejo de um fim de semana sereno, com filosofia, pipoca e talvez um vinil rodando na vitrola da memória. Até a próxima!

  • Por Rogério Bonato

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