Coluna do Corvo
Luladas e Trumpadas
Donald Trump, do alto de seu rancho digital Truth Social, resolveu meter o bedelho na política brasileira, pedindo que “deixem Bolsonaro em paz”. É como se um xerife aposentado de faroeste, cheio de processos nas costas, viesse dar lição de justiça ao Supremo brasileiro. Lula, por sua vez, respondeu como alguém de quem já foi preso, solto e eleito novamente: “não aceitamos tutela de ninguém”. No fim das contas, o post gringo gerou mais calor que luz. Bolsonaro agradeceu como quem recebe mensagem do além. E o povo? O povo segue entre boletos, fila do SUS e pastel de vento, tentando entender a encrenca.
Intervenção Made in USA
Trump defender Bolsonaro soa tão previsível quanto filme na Sessão da Tarde, que a gente já sabe o final. O problema é quando a dublagem vira interferência. O Brasil tem instituições próprias, STF, PGR, TSE, MPF, siglas demais e paciência de menos. Os americanos, que vivem chamando qualquer interferência de “ameaça à democracia”, agora fazem exatamente o que condenam. E ainda há quem ache bonito. Eduardo Bolsonaro, em versão diplomata freelancer, passeia pelos EUA articulando sanções contra ministros do STF, como se fosse um embaixador informal de si mesmo. Que fase, hein?
Entre bruxas e espelhos
Trump diz que Bolsonaro sofre uma “caça às bruxas”. Mas não diz que bruxas são essas: as que tramam, as que postam vídeo de golpe no zap ou as que organizam tour no Planalto com souvenir do vandalismo. A verdade é que esse papo de perseguição política virou escudo de estimação. O curioso é que o “mártir” Bolsonaro é o mesmo que, quando no poder, mandava prender humorista, perseguia professores e chamava opositor de vagabundo. Agora que está no banco dos réus, pede compaixão. E Trump, que entende de julgamento, abraça o amigo como quem diz: “welcome to the club, bro”. O problema é que, aqui, o clube tem STF, não Trump Tower.
Um continente, dois pesos
A relação Brasil–EUA vive uma bipolaridade diplomática. Quando é para assinar acordo de grãos ou vender avião, somos “parceiros estratégicos”. Quando alguém é processado por tentativa de golpe, viramos caso de direitos humanos. The Economist dá palanque a Eduardo Bolsonaro, que, como bom filho, vende a imagem do pai como “perseguido”, estilo Lula nos anos 2000 — só que sem operários, greves ou Marisa. A retórica é velha, mas reciclável: onde há investigação, eles veem conspiração; onde há STF, eles veem ameaça. Um dia, talvez, aprendam que Justiça não é questão de opinião internacional, mas de provas, leis e, vejam só, soberania.
Amor em tempos de embargo
O primeiro governo Trump foi bom para o Brasil? Bom… depende de quem responde. Se for um exportador de soja, sim: os embargos americanos à China jogaram os olhos do gigante asiático para os grãos brasileiros. Resultado? Superávit na balança comercial, com direito a selfie no trator. Mas se perguntarmos a ambientalistas, diplomatas ou professores de geopolítica, o amor vira indigestão. Trump destruiu a agenda climática global, abandonou o Acordo de Paris e fez do negacionismo uma política de Estado. O Itamaraty virou uma extensão do Twitter de Washington. Bolsonaro batia continência para bandeira americana e o chanceler Ernesto Araújo sonhava com a salvação ocidental via Trump Tower. Em suma: foi um casamento tóxico. O Brasil até vendeu mais, mas teve que aguentar DRs diplomáticas, fake news como aperitivo e a Amazônia sendo tratada como lenha para churrasco texano. A pergunta é: os brasileiros conseguem avaliar isso?
O eleitor que digita, mas não decodifica
Os brasileiros conseguem avaliar se o governo Trump foi bom para o Brasil? Eis a questão que faria Shakespeare trocar a pena por um celular. Em tempos de desinformação em massa e redes sociais convertidas em palanques, a resposta é: só se tiver figurinha no WhatsApp. A maioria não distingue guerra comercial de guerra ideológica, e acredita que “Trump é do bem” porque odeia comunista — seja lá o que isso signifique hoje em dia. Enquanto isso, os efeitos reais — como o alinhamento cego à política externa americana, o isolamento diplomático ou a diplomacia do agrotóxico — passam batidos entre uma dancinha do TikTok e uma indignação programada. O brasileiro médio vota com o fígado, consome manchetes e, no fundo, acha que a política internacional é uma novela com mocinhos e vilões. Só não distingue um do outro e fica esperando o próximo capítulo.
Trumpville: o Velho Oeste do século XXI
Se o mundo fosse mesmo uma cidadezinha do Velho Oeste, Donald Trump seria o xerife, o dono do saloon, do bordel, da loja de munições e, claro, do telégrafo. Com chapéu de caubói e um revólver chamado “tarifa”, ele agora atira cartas diplomáticas para todo lado, taxando meio mundo como quem cobra pedágio na saída da igreja. E o Brasil? Por enquanto, escapou do cerco, o que é estranho, considerando que Lula e Trump são tão parecidos quanto uma tapioca e um cheeseburger. Alguns dizem que é jogo de “morde e assopra”. Outros juram que é só burrice geopolítica mesmo. Mas não duvide: isso tudo ainda vai acabar com Lula e Trump apertando mãos numa churrascaria em Nova York, ao som de Barry White e tradução simultânea de “tamo junto”.
Cartas na manga e tarifas na testa
Trump enviou cartas oficiais a 14 países avisando que a partir de agosto vai cobrar tarifas entre 25% e 40% sobre importações. Japão, Coreia, Indonésia, até o pobre do Laos entrou na lista — só faltou carimbar com “pague ou cale-se”. Mas o tom da carta é um espetáculo à parte: parece uma mistura de cobrança do Serasa com bilhete de colégio. “Se quiser evitar, abra o mercado”, diz ele, com a delicadeza de um pitbull num cercadinho. O Brasil, estranhamente, ficou de fora. Talvez porque ainda rende bons lucros com carne, minério e o agronegócio feliz.
Brics sob mira — mas com blindagem
No domingo, Trump resolveu mirar no Brics — grupo que reúne boa parte dos emergentes do planeta. Avisou que vai sobretaxar qualquer país que “alinhar políticas antiamericanas”, mesmo sem dizer o que isso significa. A Rússia riu, a China rebateu com diplomacia e a África do Sul soltou nota dizendo que só quer “um mundo mais justo” — frase que, traduzida do diplomatiquês, significa: “sai pra lá, cowboy”. O Brasil não se manifestou oficialmente. Talvez porque ainda esteja decidindo se o inimigo é Trump, o arroz de R$ 7 ou o preço da gasolina. Mas não se engane: o mundo está em disputa. E o jogo de tarifas, pressões e selfies com líderes virou o novo duelo ao meio-dia. Quem piscar primeiro, paga a conta — com 40% de imposto.
Roaming: Moro entre as torres
Na terrinha um parecer do senador Sergio Moro é, digamos, menos explosivo que seus tempos de lavação a jato, mas tecnicamente muito alinhado a realidade. Ao defender o fim das tarifas de roaming no Mercosul, o senador acerta no diagnóstico: trata-se de uma medida com impactos econômicos e sociais diretos — especialmente em regiões como a Tríplice Fronteira, onde Foz do Iguaçu se cruza com Puerto Iguazú e Ciudad del Este como se fosse uma só cidade. A proposta pode baratear a comunicação, impulsionar negócios locais e facilitar a vida de quem passa pelas fronteiras todo dia. No entanto, a transição exigirá infraestrutura, tempo e pressão política para não virar letra morta. No frigir dos dados móveis, é uma proposta conectada com o futuro, mas que exige mais do que o sinal cheio: requer operadoras colaborativas.
Roaming, esse ladrão sem fronteiras
Para quem nunca entendeu bem o tal roaming internacional, aqui vai a explicação de boteco: é quando você atravessa a fronteira — seja para comprar vinho argentino, perfume paraguaio ou só ver o pôr do sol no lado errado do rio — e seu celular começa a cobrar como se você tivesse ligado da Lua. Cada “oi, cheguei” vira um assalto legalizado. É a tarifa do além. E por que o Senado se mete nisso? Porque, veja bem, o cidadão paga imposto até para respirar — o mínimo que se espera é não pagar extra para dizer “tô chegando” a três quilômetros de casa. O parecer do senador Moro, nesse caso, é um pedido de socorro dos bolsos sul-americanos. Se até o Uruguai, que nem liga muito para celular, já ratificou o acordo, por que o Brasil não faria o mesmo? Que se rompa o roaming! E que nossas chamadas transfronteiriças custem menos do que um café num aeroporto. Bom café em aeroporto também nunca foi barato.
Dá-lhe BR-469 — com emoção!
A duplicação da BR-469 avança firme, mas o que chegou ao ápice mesmo foi a paciência dos motoristas. Moradores de bairros como Carimã, Buenos Aires e Novo Horizonte agora têm uma só alternativa: a Rua Indianópolis, que virou pista de teste para condutores zen. A travessa Carmem Gatti foi bloqueada com ar de sentença perpétua, e a nova marginal parece estar em missão secreta: ninguém a vê. Enquanto isso, para ir ao centro, a volta é digna de tour turístico: 2 km adicionais por conta da engenharia de guerra que desabrochou na região. A obra promete “mobilidade” — só esqueceram de combinar com os moradores.
Desvios do destino
Se sair de casa em Foz já exigia fé e sorte, agora exige também planejamento estratégico. No futuro próximo, para deixar o Residencial Cataratas e alcançar o Porto Meira, será necessário subir viaduto, rodar alça e fazer promessa. Os projetistas, lá de seus gabinetes refrigerados em Brasília e Curitiba, parecem ter usado régua torta, sem nunca botar os pés (ou pneus) em Foz. O resultado? Um traçado que deixa a área Sul isolada como ilha no mapa rodoviário. O progresso chegou, sim, mas com pegadinha: é como se, ao inaugurar o túnel, esquecessem de cavar a outra ponta.
O trânsito virou reality show
Na segunda-feira estreou o novo desvio da BR-469. Foi um sucesso! Teve atropelamento, carro quebrado, acidente e congestionamento em dose tripla. De um lado, o fluxo engatava a primeira desde o Vivaz Hotel. Do outro, a fila grudava no Catuaí. Em direção à Argentina, só faltava o obelisco de boas-vindas no meio da pista. E sabe o que não tinha? Uma viatura da PRF. Nem para fingir. O povo circulava sem lei, sem ordem e sem esperança. Fica o aviso: se tiver voo, evento, plantão ou amor marcado, saia com no mínimo duas horas de antecedência — e reze para não encontrar uma carreta cruzando o destino.
Progresso sem GPS
Dizem que o preço do progresso é alto. Em Foz, ele também é confuso, labiríntico e fora da rota. A BR-469 e a Perimetral Leste se tornaram símbolos da engenharia sem empatia, onde os acessos foram pensados por quem realmente não sabe nada da cidade. É hora das autoridades municipais exigirem revisão nos traçados, sinalização decente e uma boa dose de humildade dos tecnocratas de longe. Foz do Iguaçu merece obras — mas que sirvam à cidade e seus ilustres visitantes, leia-se, gente de todos os continentes. Uma ótima quarta-feira a todos!
- Por Rogério Bonato