Coluna do Corvo

A obscuridade estratégica

A cada ciclo eleitoral surgem personagens das sombras — militantes de ocasião que operam nos subterrâneos digitais da política. São especialistas em plantio de narrativas distorcidas, produção de dossiês fantasiosos, e em gerar histeria virtual com “print” de conversa editada. Conversa fiada da melhor qualidade! Embora pareçam espontâneos, são peças de um tabuleiro muito bem articulado. Por trás de cada perfil anônimo que difama adversários, há mãos invisíveis que regam essas pragas com verba, promessas e influência. E assim, sob o pretexto de “combater o sistema”, os fabricantes do caos se tornam os novos donos dele. A obscuridade é deliberada: quem manipula não quer luz sobre si.

 

A mão que afaga é a que emprega

A gratidão eleitoral no Brasil, em especial em cidades médias, é medida em cargos comissionados. Terminada a campanha, os aríetes digitais e panfletários de guerra são recolhidos ao abrigo do erário, nomeados como “assessores” com salários que fariam inveja a muitos professores concursados. Não têm preparo, nem função definida — mas têm crachá e contracheque. São pagos não para servir à população, mas para continuar operando nos bastidores: mantendo páginas de apoio, atacando adversários e garantindo fidelidade digital. Em Foz, o fenômeno não é novo. O que surpreende é sua banalização: virou regra e não exceção. Como se democracia fosse um cabide de empregos.

 

Bastidores em ruínas

A máquina pública, construída para servir à sociedade, vem sendo corroída por infiltrados do submundo eleitoral. Os mesmos que, durante a campanha, acusam os outros de corrupção, são flagrados, meses depois, com documentos falsos, atestados de escolaridade forjados ou CPF com pendências judiciais. Em Foz, há investigações em andamento sobre nomeações viciadas, com indícios de fraude em pelo menos dois gabinetes. Pessoas sem formação mínima assumem cargos estratégicos, enquanto os concursados assistem de braços cruzados à ascensão dos “influencers de campanha”. O resultado: decisões amadoras, assessorias improvisadas e um serviço público ferido na alma.

 

Moralidade de fachada

Nomear incapazes por compadrio político é um dos atos mais cínicos da prática institucional brasileira. E quando a incompetência transborda em escândalo, a resposta é sempre a mesma: exoneração sumária e um pedido de desculpas protocolar. Mas o dano está feito. O custo não é só financeiro — é moral. Como exigir ética da população se o próprio Legislativo abriga quem deveria estar longe dos cargos públicos? Foz do Iguaçu, infelizmente, não está sozinha. Em diversos municípios, a Câmara de Vereadores virou um curral de retribuição eleitoral. E mais grave: alguns ainda têm a audácia de defender “moralidade” no plenário. Moral seletiva é imoralidade institucionalizada.

 

O caso de Uberaba (MG)

Em Uberaba, Minas Gerais, um escândalo recente expôs 42 cargos comissionados ocupados por cabos eleitorais diretos do prefeito. A denúncia ganhou força porque muitos dos nomeados sequer residiam na cidade, mas prestaram serviços durante a campanha. Um deles era responsável por manter perfis falsos em redes sociais, atacando adversários e promovendo o candidato. Quando confrontado, o Executivo disse tratar-se de “contratações técnicas”. Técnicas de quê? De manipulação? O Tribunal de Contas do Estado exigiu a revisão dos contratos. O problema é que, no Brasil, quando a Justiça chega, o estrago já virou cultura administrativa.

 

Em Belém, a tropa do zap

Na capital paraense, um grupo conhecido como “tropa do zap” atuou nas eleições municipais criando boatos e destruindo reputações. Após a vitória do candidato, muitos membros da tropa foram agraciados com cargos na área de comunicação, sem formação. A imprensa local denunciou, mas a prática segue em curso. A justificativa oficial é sempre a mesma: “confiança e afinidade com o projeto de governo”. No entanto, quando os órgãos de controle começaram a investigar os vínculos entre campanha e funcionalismo, descobriram que boa parte da equipe sequer cumpria jornada presencial. É a institucionalização do faz de conta, bancada com dinheiro público.

 

O fiscal que queria estar no lugar do réu

Passados apenas alguns meses da nova Legislatura e da atual administração, circulam essas denúncias de irregularidades em nomeações — sobretudo na documentação apresentada por assessores. O mais irônico? As denúncias partem, em grande parte, de quem ficou de fora da partilha. Ou seja, os próprios derrotados do rateio de cargos assumem o papel de fiscais da moralidade pública. Parece existir, em paralelo à máquina oficial, uma sociedade informal composta por cabos eleitorais ressentidos, ex-militantes dispensados e operadores sem função — todos sedentos por uma boquinha. Não fiscalizam por virtude, mas por vingança.

 

PT em transição: entre o lulismo e o amanhã

O Partido dos Trabalhadores realizou neste domingo (7) um dos maiores processos de eleição interna da política brasileira, com quase 3 milhões de filiados aptos a votar. Em pauta, mais que a escolha de presidentes municipais, estaduais e nacionais: estava em jogo a identidade do partido num cenário de transição geracional. A principal disputa nacional concentrou-se entre Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e nome de confiança de Lula, e Rui Falcão, deputado federal e ex-presidente da sigla. O momento é sensível. Com Lula no poder, mas, segundo dizem, à beira de uma provável despedida eleitoral em 2026, o PT se vê diante da necessidade de se reinventar — entre manter a musculatura de coalizão que sustenta o governo no Congresso ou retomar vínculos históricos com os movimentos sociais. A eleição, mais que um ritual interno, reflete o dilema de um partido que precisa preparar seu “pós-Lula” sem abandonar o legado que o fez chegar até aqui.

 

Valentina assume o PT em Foz com respaldo da militância

Em Foz do Iguaçu, a eleição do PT teve movimentação constante ao longo do domingo e confirmou um nome jovem, ativo e com base popular: a vereadora Valentina foi eleita presidenta municipal da sigla com 192 votos, contra 141 do concorrente PH. A vitória de Valentina simboliza uma renovação nos quadros locais. Foram ao todo 372 votantes — número considerado expressivo para uma eleição interna. A jovem dirigente agora terá o desafio de conduzir o partido numa cidade marcada por forte presença bolsonarista e disputas políticas intensas. O momento é de articulação, reconstrução de pontes e planejamento estratégico para 2026.

 

Nilson de Nadai — um anfitrião da cidade

O fim de semana foi marcado por uma perda irreparável para Foz do Iguaçu e, especialmente, para todos que viveram de perto o crescimento do turismo local. Faleceu Nilson de Nadai, empresário hoteleiro, proprietário do Nadai Confort Hotel & Spa, uma das figuras mais ativas e respeitadas do setor. Nilson era mais que um empreendedor: era um anfitrião de Foz, um entusiasta da hospitalidade e um defensor incansável do turismo como pilar do desenvolvimento regional. Sua atuação como vice-presidente da ABIH-PR, sua defesa pelo PERSE e seu envolvimento no Sindhotéis mostravam o quanto era comprometido com causas coletivas. Lutava pelo setor com a mesma paixão com que recebia os visitantes: com simpatia, visão e responsabilidade. Sua ausência deixa um vazio profundo — e um legado de profissionalismo e generosidade que permanecerá entre nós.

 

José Augusto Carlessi — o ambientalista do sorriso largo

Também partiu o amigo José Augusto Carlessi, figura querida da política e da luta ambiental em Foz do Iguaçu, Santa Terezinha e em quase todas as cidades do extremo oeste. Carlessi era desses personagens que transbordam vida: alegre, acessível, criativo, sempre disposto a encontrar soluções para conciliar o crescimento urbano com o respeito à natureza. Atuou em diferentes governos, sempre trazendo consigo a bandeira da sustentabilidade e uma inquietude propositiva que o tornava admirado entre colegas e amigos. Sua voz tinha força para influenciar decisões e mobilizar ideias. O jeitão despojado escondia um espírito visionário, atento aos sinais do tempo e à urgência de preservar o mundo que habitamos. Sua partida deixa um sentimento de enorme ausência, mas também de gratidão por tudo o que fez, ensinou e compartilhou. Foi, sem dúvida, um daqueles raros amigos que tornam o mundo melhor simplesmente por existirem.

 

A vida segue… com bola rolando

Mesmo sob o luto pela partida de dois amigos queridos, o mundo real calça chuteiras e se posiciona à beira do gramado. Nesta terça-feira, as semifinais da Copa do Mundo de Clubes prometem parar o planeta — ou ao menos todos que mantêm o futebol como refúgio emocional e cultural. Às 16h: Fluminense x Chelsea, PSG x Real Madrid. Três gigantes europeus, de países distintos — Inglaterra, França e Espanha — e um solitário representante brasileiro, sustentado por sua camisa vibrante verde, branca e grená, e, torcida fiel. O curioso (ou trágico para os indecisos) é que os jogos ocorrerão ao mesmo tempo. Naturalmente, as emissoras nacionais cravarão o foco no embate do Flu. E quem diria: a equipe carioca, tida como o azarão da chave, chegou mais longe que os favoritos sul-americanos e encara o Chelsea com dignidade e chances reais. O improvável seduz até as torcidas rivais — porque, nesta altura, o Brasil torce em uníssono. Uma boa terça-feira a todos!

  • Por Rogério Bonato

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