Coluna do Corvo
Orçamento de papel, cidade de verdade
Discutir a LDO é como montar um quebra-cabeça em que metade das peças ainda não foi impressa. O Executivo fala em metas e investimentos futuros, mas tudo depende da arrecadação, que, como sabemos, nem sempre acompanha a inflação — ou a ambição. Planejar é fundamental, mas executar exige mais do que planilhas. Que tal trazer esse debate para os bairros? Fazer da LDO um processo educativo e participativo, com linguagem simples e reuniões públicas? Afinal, se a verba é nossa, a decisão também deveria ser.
Emendas: o tempero dos vereadores
O Legislativo brilha nas discussões da LDO porque é a hora de indicar onde colocar seu nome — ou sua placa. As emendas impositivas viraram moeda política e, por vezes, se distanciam do interesse coletivo. Seria saudável se cada vereador explicasse, em linguagem clara, o impacto de suas propostas: por que a praça, a quadra esportiva, o asfalto, o parquinho? E mais: por que não realizar audiências por região? A população precisa entender melhor a finalidade do Orçamento. Para muitos isso ainda é mistério.
Plateia de honra
A audiência da LDO teve presença massiva de representantes de sindicatos, entidades e conselhos. Um bom começo. Mas e o cidadão comum, aquele que espera atendimento na UPA ou vaga no CMEI? Não seria hora de criar um modelo de consulta contínua, um orçamento participativo com estrutura permanente, onde o povo tenha voz antes da planilha ser fechada? Reuniões que sejam convocadas como se convoca show de rock: com publicidade, acesso e até café com pão. A democracia exige plateia ativa, não só figurantes.
O prefeito e a engenharia do otimismo
Silva e Luna foi pragmático: quer obras estruturantes, continuidade e seriedade. Correto. Mas, como todo engenheiro que virou gestor, ele precisa calcular também os impactos sociais, não só os metros cúbicos de concreto. A cidade precisa de infraestrutura, sim, mas precisa também de gestão do cotidiano. Obras são visíveis, mas quem vive o invisível também merece atenção. Que tal começar logo um governo itinerante? O gestor que escuta antes de executar constrói melhor.
Finkler, o homem das cifras e das cautelas
Darlei Finkler apresentou os números com a frieza técnica que o cargo exige. Mas é preciso traduzir isso. Se o IPTU vai subir, o cidadão precisa saber para quê. Se o ISS crescer, que impacto isso terá em serviços? E se os royalties minguam, como compensar? A contabilidade pública deveria ser matéria no ensino médio. Melhor ainda: que se criem painéis públicos com linguagem acessível, em cada bairro, sobre como anda a arrecadação e para onde vai o dinheiro. A transparência, para funcionar, precisa ser compreendida.
Transporte coletivo: o enigma da catraca
O número de passageiros subiu, mas não o de pagantes. Eis o dilema. Aumentar a tarifa penaliza o usuário fiel; manter o preço esvazia o caixa. A solução não está só no cofre, mas na política pública: planejamento urbano com integração de modais, bilhete único, mais fiscalização e incentivo ao uso coletivo. E principalmente: ouvir quem usa. Por que não audiências com estudantes, trabalhadores e idosos? Eles sabem onde o sistema falha — e como pode melhorar.
CMEIs, concursos e a espera das mães
A falta de vagas em Centros de Educação Infantil e a ausência de concursos públicos foram pontos críticos da audiência. A educação infantil deveria ser prioridade absoluta. A prefeitura precisa definir metas claras: quantos professores por ano, quantas vagas por bairro, qual o déficit real? E apresentar isso publicamente. As audiências por região poder dar voz às famílias e professores. A educação precisa sair do plano e ir para o pátio. E isso começa com diálogo e cronograma, não apenas com promessas.
Precatórios: dívida pública ou bola de neve?
Evandro Ferreira trouxe à tona o assunto dos precatórios — essa dívida silenciosa que todo gestor gostaria de esquecer. Discutir alternativas como leilão direto ou negociações judiciais é saudável. Mas o fundamental é ter planejamento fiscal de longo prazo, com controle das despesas e foco na prevenção de novos passivos. Que tal uma campanha de educação financeira pública, para mostrar ao cidadão que o dinheiro que falta no posto de saúde às vezes está sendo pago em decisões judiciais de décadas atrás?
Os loteamentos invisíveis
Soldado Fruet alertou: loteamentos novos sem estrutura. Essa prática é o avesso do planejamento urbano. Entrega-se o lote, mas não se entrega escola, saúde ou transporte. É o urbanismo da omissão. A prefeitura deveria condicionar cada nova aprovação de loteamento a um plano de viabilidade urbana com consulta pública. E mais: criar mapas de infraestrutura, para que a população saiba o que está sendo feito — ou negligenciado — no seu bairro.
Porta de entrada para a cidadania
A LDO não deveria ser um documento técnico confinado à burocracia. Deveria ser a cartilha da cidade — acessível, debatida e revisada com a população. Que tal transformar o mês da LDO em um “mês da cidade”, com ações culturais, reuniões públicas, oficinas e até um festival do orçamento cidadão? A política precisa de criatividade para dialogar. E a gestão pública precisa de humildade para ouvir. Foz do Iguaçu tem gente qualificada, lideranças organizadas e vontade de participar. Só falta espaço — e vontade política para abrir a porta.
Burburinho ao amanhecer
Este colunista foi acordado na doce e gelada manhã de inverno pelo toque de mensagem ao celular: Délia Gonçalves foi afastada na Fundação Cultural. Foi a terceira nomeação e exoneração em exatos seis meses em um mesmo cargo. Está difícil encontrar alguém que agrade ao Dalmont Benitez no exercício da função. Barbaridade! Provavelmente a Fundação Cultural foi quem mais mudou diretores abaixo da linha do Equador.
Diretoria de Cultura
Não é um trabalho complicado, o difícil mesmo é se entender com o diretor presidente, alguém com uma afinação diferente no âmbito cultural. É bastante exigente. Mas como é ele quem forma e comanda a equipe, e, portanto, assume as responsabilidades, natural que escolha quem mais lhe agradar. Dalmont não está ligando muito para a opinião do setor. Délia Gonçalves, por sua vez, é conhecida pelo profissionalismo, competência e dedicação. Foram buscá-la na aposentadoria e a exoneração não foi bem recebida pela comunidade das artes em geral. Coisas da vida.
Dona Délia
Tive a honra de trabalhar com ela por quase oito anos em que estive à frente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e graças a sua visão como servidora de carreira, desde 1986, e de pessoas que também exerciam funções na administração, biblioteca, eventos, áreas de convênios e finanças, fui bem aconselhado e conclui a tarefa fazendo as entregas que me propus, leia-se a Feira da JK, Salão do Livro, Carnafalls e Carnaval da Saudade, bem como as edições da Fartal em meu tempo, sem nunca falhar em nada. Uma gestão não depende apenas do diretor-presidente, mas de toda a engrenagem com a qual ele pode contar. Em meu caso, nunca deixarei de agradecer também ao Adilson Pasini, no papel de secretário-geral. Enfim, cada diretor faz os ajustes que desejar e depois a conta chega, com a aprovação ou desaprovação dos contribuintes. Espero que o Dalmont acerte a mão. Vale para ele e para quem mais ousar inovar na máquina pública, lembrar que não devemos nos comportar como Narciso, sempre achando feio, aquilo que não é espelho. No fim das contas fico feliz pela Délia, que curtirá o restante do inverno no aconchego de sua casa, ao lado dos livros, filmes e tudo o que sempre desfrutou. É uma grande pessoa, em sentido muito amplo.
Enfim um tricolor orgulhoso
Fazia bastante tempo, não assistia uma partida de futebol do início ao fim. Mais pelo fato de desconsiderar a evolução do esporte do que outra coisa. A globalização despersonalizou o estilo dos atletas e, roubou a graça que havia nos gramados, quando o trato na bola era bem mais elegante. Fico pensando o que escreveriam cronistas como Nelson Rodrigues e Armando Nogueira nos tempos atuais. Mas vamos deixar o saudosismo de lado e comemorar a vitória do Fluminense sobre a Internazionale de Milão, pois beira um fato lendário. Aliás é assim que as equipes brasileiras se comportam na Copa do Mundo de Clubes, uma sacada genial da Fifa para elevar o ânimo das torcidas.
E o jogo?
Faz tempo não calço as chuteiras para analisar uma partida, mas o que posso escrever é que o Tricolor das Laranjeiras fez a lição muito bem-feita contra uma equipe de astros europeus e internacionais. Vamos analisar a partida em números. A Inter realizou mais jogadas, foi predominante na posse de bola, acertou o dobro de passes, cometeu menos faltas, cobrou mais escanteios e levou dois gols. Vai entender? O esquema tático de Renato Gaúcho Portaluppi foi mais acertado e foi se alterando conforme o decorrer da partida. O goleiro Fábio, com 44 anos, foi de longe a figura mais importante em campo, mas John Arias foi escolhido mais uma vez como o melhor. É craque, incontestavelmente. Deveriam trabalhar a naturalização dele, para vestir a canarinho. Com um técnico italiano, não haveria problemas em plantear estrangeiros no ataque.
E o que vem pela frente?
O Palmeiras enfrentará o Chelsea e o Fluminense o Al-Hilal, uma espécie de seleção mundial, provavelmente a equipe mais cara do mundo atualmente. Se os dois vencerem, teremos um duelo de brasileiros na semifinal o que chega a ser uma injustiça. Até o fechamento desta coluna, era possível saber que do outro lado, já estavam o Paris Saint-Germain e o Bayern de Munique, ou seja, ossos duríssimos em caso de prosperarem para a final. Bom, não está errado escrever que na sexta-feira, 04 de julho, muita gente vai faltar ao trabalho e os botecos estarão lotados à partir das 13 horas.
E que venha o resto do ano!
Neste 02 de julho chegamos à marca que divide o exercício legislativo, executivo, judiciário e para nós reles morais, o ano de 2025. Daqui em diante teremos a contagem regressiva para o Natal e a virada de 2026! E passará rápido como o The Flash! Sem pestanejar, Papai Noel estará amarrando as renas na chaminé de casa, vestindo bermudas por causa do calor. Ao lembrar o clima, os termômetros de casa marcaram -1 na última madrugada, a mais fria deste ano. Havia gelo nos bigodes do gato.
- Por Rogério Bonato