Coluna do Corvo

Desfile ou manifestação?

As redes sociais estavam agitadas durante o desfile do aniversário de Foz do Iguaçu. Enquanto centenas de crianças bonitas marchavam com orgulho pela cidade, os adultos ocupavam o Instagram e o Facebook com apitaços, faixas de protesto e críticas políticas. Poucos se lembraram de parabenizar Foz pelos 111 anos ou destacar suas qualidades. É justo cobrar, claro, e a democracia permite, mas talvez a data merecesse pelo menos uma trégua — um pouco de festa, um pouco de história. Afinal, eleição ainda demora três anos e meio. A não ser que os afoitos de plantão estejam montando palanque antecipado para o ano que vem, porque em Foz, às vezes, o tempo político corre em calendário próprio.

 

Wandsheer sem acesso

Recebi diversas mensagens de motoristas indignados com o fechamento de acessos na Avenida Felipe Wandsheer. Fui conferir pessoalmente. O trecho da João Lobato da Mota Machado está trancado, e quem usa o posto de gasolina da esquina sentiu no bolso. Engenheiros alegam que é por conta da abertura do novo trecho da João Paulo II. Faz sentido no papel, mas na prática falta informação, sinalização adequada e uma escuta melhor aos comerciantes da área. Quando a população sente a mudança antes de ser informada, o resultado costuma ser mais buzina do que benefício. Planejar sem ouvir é como reformar casa com morador dentro e sem avisar.

 

Acácio Pedroso e as voltas do trânsito

Outro acesso interditado causa dor de cabeça: a saída para a Capitão Acácio Pedroso. Agora, motoristas precisam seguir pela Rua Harry Shinke e encarar um festival de buracos que desafia qualquer amortecedor. O detalhe é que a prefeitura reformou um trecho, liberou a via, e na sequência lançou os motoristas direto para uma pavimentação original de 1993. A transição entre o novo e o velho se dá de forma abrupta, quase simbólica: do concreto liso ao asfalto estourado. Uma repaginada ali, antes da interdição, teria evitado boa parte do ruído.

 

Parque Remador sem remo, sem data

Moradores do Porto Meira querem saber quando a obra do Parque Remador será, enfim, entregue. A área de lazer prometida já virou lenda urbana — quase uma versão municipal do “Saci: existe, mas ninguém viu”. Enquanto isso, a população se mobiliza para fazer uma feira aos domingos na região da lagoa. “Queremos ter um lugar nosso, onde possamos passear, vender, comprar e conviver”, disse um feirante entusiasmado, que frita pastéis. O pedido não é mirabolante: querem ocupação urbana com dignidade. O povo já está fazendo a parte dele, só falta o poder público remar junto.

 

Pearl Meira City – quase um duty free

O Porto Meira se transformou em um caldeirão comercial. A Avenida Morenitas é hoje uma versão enxuta, porém bem nutrida, de Ciudad del Este e Puerto Iguazú. Tem eletrônicos, vinhos, luminárias, bugigangas, cosméticos, lâmpadas LED e perfumes. Ontem, procurar vaga ali era um desafio. Argentinos, paraguaios e “madames” da cidade reviravam prateleiras. E não se engane: as pechinchas são reais e o fluxo de pessoas confirma o potencial do bairro como polo turístico-comercial. Foz ainda não legalizou o jogo, mas sabe bem como apostar no comércio informal e na criatividade.

 

Concorrência parruda no Ouro Verde

A calmaria do bairro Ouro Verde está com os dias contados. Em breve, a nova unidade da rede atacadista ligada ao Super Muffato será inaugurada na Avenida Javier Koelbl, com estrutura de dar inveja a shopping center. Estantes quilométricas, estacionamento para batalhão de carros e preços que prometem duelar com qualquer mercadinho da esquina. A concorrência é bem-vinda, claro, desde que não engula os pequenos. O consumidor ganha, mas o comerciante tradicional precisa se reinventar. Enquanto isso, o bairro se prepara para o aumento no fluxo, no trânsito e nos “parças” que vão só para olhar as ofertas e tomar um cafezinho grátis no balcão.

 

Coincidência de jaleco

Foz está em festa com a formatura de dois jovens iguaçuenses em Medicina: Tércio Albuquerque Júnior e Arthur Mezomo de Souza. Ambos receberam o diploma no mesmo dia, na mesma universidade, em Fernandópolis (SP). O detalhe curioso: não se conheciam até a cerimônia. Os pais — Edson e Tércio, veteranos da cidade e amigos de estrada — se reencontraram na plateia e só aí conectaram os nomes aos rostos. Emoção, orgulho e uma certeza: Foz exporta talentos de jaleco. O mundo é pequeno, e quando os caminhos se cruzam assim, é sinal de que o futuro da saúde está em boas mãos. Um brinde!

 

A Câmara e os fantasmas do passado

Mais uma vez, a Câmara de Vereadores realiza sua homenagem anual a jornalistas, e a lista contemplou nomes importantes da comunicação local. No entanto, alguém aproveitou para destilar veneno e soltou: “é estranho não terem lembrado do Tezza, grande tipógrafo da cidade”. De fato, Tezza até merece as homenagens, mas ultimamente os tempos não se são favoráveis. Política e imprensa são irmãs que se amam, brigam e às vezes se ignoram.

 

Futebol e esquecimento

Recebi uma pergunta do leitor José Simón, de Iguazú: “E aí, colunista, viu Brasil x Paraguai? E o novo técnico?” Resposta honesta: não vi. Nem sabia que teve jogo. O futebol anda tão chato que até o VAR parece mais interessante do que os gols. Com a seleção, é um vai-não-vai. Com meu Fluminense, então, melhor nem comentar. Antes que me acusem de desinformado, admito: torcedor cansado é igual consumidor de plano de saúde — só reclama quando precisa. Pelo visto ganhamos. Mas não sei se foi sorte, talento ou distração do adversário.

 

Gol de ontem, memória de hoje

Apesar do desinteresse atual, a memória resgatou um detalhe. Em 1969, Brasil também garantiu vaga na Copa ao vencer o Paraguai, com gol solitário do Rei Pelé. Técnico? João Saldanha, que depois bateu boca com o presidente Médici. Pediu Dadá Maravilha, ele recusou. Foi demitido. Hoje, o técnico pede licença à CBF, o presidente responde com emoji e o torcedor troca o jogo pelo TikTok. Mesmo assim, classificamos — e isso já é um avanço. A diferença? Em 1970, ganhamos o tri. Hoje, se passarmos das oitavas, já vai ter carreata.

 

Futebol ou economia: quem cansa mais?

É difícil decidir o que anda mais exausto: o futebol brasileiro ou o noticiário econômico. A diferença é que, no futebol, ainda se pode fingir empolgação com um gol de última hora. Na economia, a inflação dribla a paciência e os juros fazem gol contra no bolso. Mesmo assim, seguimos acreditando que uma hora tudo melhora. Ou porque temos fé, ou porque não temos outra opção além de esperar o próximo campeonato — ou a próxima reunião do Banco Central.

 

Os três santos e o São João popstar

Junho é o mês dos santos festeiros: Santo Antônio, São João e São Pedro. Mas só o São João continua no páreo, com direito a bandeirinha, quadrilha e quentão. Os outros foram aposentados sem aviso prévio. A Paróquia Central de Foz preparou uma semana de celebrações — com música, comidinhas típicas e muito calor humano. As festas juninas continuam resistindo, mesmo com os tempos modernos transformando arraial em evento gourmet.

 

Gato preto e lenha na fogueira

Hoje é sexta-feira 13, a única de 2025. Superstição? Para alguns. Para outros, uma desculpa perfeita para comer pinhão, tomar quentão e acender a fogueira de Santo Antônio. Aqui em casa, Ferdinando, o gato preto, é o rei da sexta-feira. Ignora a fama e exige carinho.

 

No frio da madrugada

As temperaturas andam baixas, e o povo já começou a testar as resistências dos chuveiros. Ar-condicionado ou chuveiro elétrico? A pergunta ronda os corredores da Copel. A resposta: ambos consomem, mas o chuveiro, se mal utilizado, vira vilão. E o frio continua. A previsão é de mínimas em torno de 12 graus, o que em Foz significa: “liga tudo e fecha a casa”. E quem mora na rua? Para esses, o frio não é só desconforto. É risco. É preciso lembrar deles também.

 

O barbante e o bom humor

O frio exige estratégias. Alguns apelam para meias extras, outros para cachecol. Os mais antigos recomendam o infame barbante no biláu, herança dos avós. Verdade ou lenda, pouco importa. O importante é enfrentar a friaca com humor, solidariedade e um bom copo de quentão. E se a semana foi dura, que a sexta-feira 13 seja só mais um capítulo divertido da nossa novela climática — com batata-doce, fogueira e esperança de que, se o calor não vier, ao menos venha um pouco de paz.

 

  • Por Rogerio Bonato

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