Coluna do Corvo
Calçada com dignidade, aleluia!
A urbanização em Foz do Iguaçu entrou em nova fase: calçadas largas, pavimentação decente, galerias pluviais, árvores que não desabam ao primeiro vento e esgoto – pasmem – já embutido. Um milagre urbanístico, digno de beatificação. As loteadoras finalmente entenderam que gente não mora só dentro da casa, mas também anda do lado de fora. E o cidadão, que antes tropeçava em brita e barro até para buscar pão, agora pode caminhar com dignidade e plantar um manjericão na sombra da árvore plantada! Só falta o poder público entrar na dança e, em vez de aparecer só com o carnê do IPTU, trazer escola, posto de saúde e equipamentos que funcionem. Urbanização não é só abrir rua, é abrir futuro.
Do pomar ao condomínio
Se o mestre Yoda visitasse Foz, diria: “cidade virou tudo, a terra fértil foi”. O que antes era um pomar de goiaba e um galinheiro funcional, agora é um condomínio fechado com portaria 24h, piscina e um pombo gourmet no lugar da galinha. O progresso chegou espremendo a agricultura familiar até o talo. A alface agora vem da Ceasa de Cascavel, mais viajada que muito influenciador digital. E o preço? Subindo mais que o metro quadrado em Ipanema. O solo iguaçuense está tão valorizado que em breve vai concorrer com Mônaco – só que com mais tucanos e menos Fórmula 1. Mas, cá entre nós, isso é o tipo de problema que toda cidade gostaria de ter. Resta saber se vai sobrar algum quintal onde a gente possa colher um tomate de verdade sem precisar de senha no supermercado. Cantar “eu quero uma casa no campo” está virando saudade.
Estradas federais, portais e portagens
Foz está se urbanizando em tempo de recorde olímpico — digno do The Flash, com a diferença de que aqui não há multiverso, mas muitos bairros nascendo em um só universo municipal. Porém, enquanto bairros surgem com toda a infraestrutura que o urbanismo moderno recomenda, continuamos cortados por estradas federais que cruzam a cidade como se fossem avenidas. Já pensou se resolvem colocar pedágio entre o Porto Meira e o Aeroporto? Ou se cobrar taxa de travessia da Vila Portes até Itaipu? A gente vai precisar de tag até para visitar a sogra! O progresso é bem-vindo, sim, mas seria ótimo se o DNIT e o poder público caminhassem junto — ou pelo menos avisassem antes de cavar uma cratera no meio do caminho. Afinal, construir é bom. Mas manter funcionando, aí sim é que mora a diferença.
Me desculpe, Sindicato
Vamos com calma. Relatar a indignação de pais e as manifestações de vereadores não é, como sugerido pela professora Viviane, presidente do Sinprefi, “cair em armadilha de interpretações completamente fora de contexto”, tampouco “submeter a Educação de Foz do Iguaçu aos interesses de grupos políticos”. Professora, pega leve. Ninguém está transformando sala de aula em palanque, nem professor em vilão de novela. A encrenca — ao menos nesta coluna e nos veículos de comunicação que prezam pela isenção — não é com os professores, é por uma cartilha. E mais precisamente: pela necessidade de avaliá-la.
É ou não é
Trata-se de um material didático utilizado no contraturno, que entre vocabulário e gramática resolveu inserir o “Valentine’s Day” com ares de narrativa sentimental entre meninas — o que, para algumas famílias, acendeu mais dúvidas do que paixões. Não se trata de censura, moralismo ou caça às bruxas pedagógicas. É só uma pergunta razoável: esse conteúdo é adequado à faixa etária? Foi debatido com a comunidade escolar? Está contextualizado de forma clara? É legítimo que pais se manifestem, como também é justo que os professores defendam sua prática com autonomia e dignidade. Aliás, o que se espera da boa democracia é exatamente isso: debate com escuta mútua, sem rótulos apressados nem trincheiras ideológicas.
Vale lembrar
E, como nota de rodapé cultural: o tal Valentine’s Day, para além do romantismo importado, também é famoso por outro motivo — o massacre de Chicago nos anos 1920, quando Al Capone mandou flores (metafóricas) a seus rivais com metralhadoras. Mas fiquemos no campo da educação, por favor. Não é pedir muito que uma cartilha pública, paga com dinheiro do contribuinte, seja lida com lupa — antes que vire manchete. Isso não é ataque à educação. É zelo por ela. Porque se ensinar é construir pontes, o mínimo é garantir que ninguém esteja atravessando no escuro.
Sem viagem na maionese
E quem diria… no meio da confusão da cartilha, começaram a sobrar acusações para todo lado — como quem lança milho e espera que só a galinha errada cisque. Agora surgem insinuações de que tudo isso não passa de cortina de fumaça: que a polêmica foi fabricada pela administração municipal, com apoio da Secretaria de Educação e a cumplicidade da imprensa (!), para justificar a troca de materiais pedagógicos. Oras, menos. Muito menos. Jornalistas podem ter seus defeitos — inclusive acordar mal-humorados —, mas não são fantoches em teatro de marionetes ideológicos.
Investigação já!
A professora Viviane, presidente do Sinprefi, lançou uma acusação séria. E como tal, precisa ser tratada com o devido peso — não com especulações de corredor. Se há mesmo intenção escusa por trás da troca do material bilíngue, com eventual favorecimento a uma editora que teria promovido evento recente em Alagoas, então que se investigue. A transparência exige isso. Auditoria já, como pede o bom senso — ou então a apuração de uma possível denunciação caluniosa, porque nem a ética pode ser usada como ferramenta de retórica. Mas atenção: levantar dúvidas legítimas não pode ser confundido com teoria conspiratória. A pergunta continua de pé: por que o conteúdo da cartilha causou tanto desconforto? Discutir, sim. Acusar sem provas, não. E quanto ao pensamento livre, que continue sendo — como a maionese — bem batido, porém sem viagem.
Yes, nós temos banana!
Americanismo? Aula de OSPB versão exportação? Uma pitada de Thanksgiving no feijão com arroz pedagógico? Pois é bem esse, o caso da cartilha utilizada no ensino básico de Foz. O tema reacendeu uma dúvida geográfica-existencial: afinal, o “Valentine’s Day” é feriado nacional por aqui também e ninguém avisou? Porque até onde sabemos, o Dia dos Namorados no Brasil continua sendo 12 de junho — uma data estrategicamente posicionada entre o Dia de Santo Antônio e a temporada de quermesses. Mas se depender de certas cartilhas de inglês, as crianças brasileiras em breve estarão escrevendo cartões no dia 14 de fevereiro, celebrando o amor antes mesmo de entender o que é “ficar”. E pensar que antigamente as brincadeiras mais apimentadas nas escolas era “beijo, abraço ou aperto de mão”. E não para por aí: vamos comemorar o “Father’s Day” em junho, quando aqui isso acontece em agosto? É preciso cuidar para as crianças não cantarem o hino da independência no 4 de julho, entre pipocas e queima de fogos.
Cautela e canja de galinha…
É o risco: quando o ensino de idiomas se confunde com a importação de calendário. Nada contra o estudo de datas internacionais — muito pelo contrário, é ótimo quando feito com contexto, senso crítico e, claro, com um mapa do Brasil por perto. O problema não é aprender inglês. O problema é desaprender o país. Ensinar cultura estrangeira sem dialogar com a nossa é como trocar o arroz e feijão por hambúrguer com catchup na merenda — pode parecer legal, mas não sustenta. Portanto, cautela. E, como diziam as avós mais sábias (e menos bilíngues), cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Especialmente quando se trata de ensinar os pequenos. Porque, sim, aprender inglês é abrir uma janela para o mundo — mas é bom garantir que a criança saiba em qual país fica essa janela.
Ai, a tal cartilha…
Enquanto isso, a Secretaria de Educação de Foz do Iguaçu ainda estuda o destino de milhares de cartilhas recolhidas das escolas. Por ora, diz-se que serão analisadas — o que, em burocratês avançado, pode significar qualquer coisa como “vamos ver”, agora na trincheira. Segundo a secretária Silvana Garcia disse que a análise dó caso “será robusta”. O material circula há anos e, de repente, virou granada no colo do atual governo. E não é a primeira. Aliás, com tantos militares no comando da prefeitura, parece até campo minado: a cada passo, uma bomba herdada da gestão anterior. São as famosas minas de retardo — e não estamos falando dos debates pedagógicos. Ironia do destino: generais, coronéis, capitães, todos treinados em estratégias de guerra, logística e táticas de contenção, e o grande embate da carreira acontece… administrar Foz do Iguaçu. Em alguns aspectos não seria pior que combater os Viet Cong’s. Barbaridade! Se fosse série, seria “MAS*H – Educação em Zona de Conflito”.
Bosco se manifesta
O vereador Bosco Foz está no centro da discussão — e, que fique claro, com legitimidade democrática: foi escolhido por 3.303 eleitores que, com plena consciência (ou ao menos um bom chute), digitaram seu número na urna. Ele agora cumpre o papel para o qual foi eleito: representar vozes, levantar questões e — por que não? — provocar debates. Para ele “se o livro em questão trouxesse a mesma subjetividade de relacionamento amoroso entre um menino e uma menina, o desenrolar seria o mesmo, pois a questão não está atrelada ao relacionamento homoafetivo, mas sim ao de que não compete a escola e ao material gasto com dinheiro público abordar, estimular ou ainda promover isso na mente de crianças de 9 anos”.
Sobrou para mim
O curioso é que, nesta onda de polarizações instantâneas, até este colunista foi convocado para o paredão moral. Logo cedo, uma indignada me enviou: “Não acredito, Bonato! Você abrindo espaço para uma discussão dessas? É contra o namoro entre meninas? Pensei que fosse mais evoluído.” Respirei fundo, cocei a testa e respondi: “Minha senhora, a questão não é sobre a ilustração da cartilha, mas sobre o que ela busca ensinar — se há coerência com a etapa de desenvolvimento das crianças, se possui respaldo pedagógico e se cumpre seu propósito educativo, especialmente por ser financiada com recursos públicos. Pergunto: a senhora viu a cartilha?” Resposta: “Não.”
Bar-ba-ri-da-de!
E aqui chegamos ao cerne do problema: como se pode formar uma opinião sólida sobre algo que sequer se conhece? É como avaliar um livro pela lombada ou um filme pela thumbnail. Ninguém aqui está sugerindo censura, muito menos se opondo à diversidade ou propondo doutrina alguma. O que se busca é sensatez na abordagem, respeito pelo ritmo da infância e, sobretudo, compreensão sobre como esses conteúdos impactam os pequenos. Porque o que está em jogo não é o afeto entre meninas ou meninos — é o direito da criança de ser criança, sem ser jogada prematuramente no tabuleiro das tensões adultas. Discutir gênero? Claro. Mas com contexto, mediação, preparo e tempo certo. Fazer isso com responsabilidade é dever da escola, da família e também do poder público. O resto é ruído — e no meio da gritaria, quem mais corre o risco de não ser ouvido são justamente os menores de idade. Leia na página 11 o artigo do vereador. Concorde ou não, o debate é necessário. Só não vale opinar com base em boato. Porque nesse caso, nem o Google Translate salva a confusão.