Coluna do Corvo
O futuro bate ponto no presente
Enquanto muitos ainda discutem o passado e outros empacam no presente, o CODEFOZ resolveu pensar o amanhã — e não qualquer amanhã: o de 2050. É quase um salto quântico em direção à cidade que ainda nem foi asfaltada no mapa. Mas essa turma leva a sério. São 58 cadeiras ocupadas por gente que, mesmo passando dos 60, não tem medo de olhar para os próximos 25 anos. Se vai dar certo? Vai depender se começarmos a cumprir o básico.
Conselho com C de corajoso
O CODEFOZ é aquele tipo de entidade que tem nome de sigla burocrática, mas alma de ficção científica. Pensar Foz do Iguaçu em 2050 é tarefa de corajosos, ou visionários — ou ambos. Num país onde mal se sabe o preço do arroz da semana que vem, articular políticas para daqui a duas décadas é um feito digno de aplauso. Mas não custa lembrar: planejar o futuro exige também resolver o hoje. E hoje o que temos? Uma EADI ainda emperrada, uma Perimetral inacabada e caminhões fazendo turismo involuntário pelas ruas da cidade.
De Julio Verne ao Juca do bairro
Nem precisa chamar Julio Verne para imaginar Foz em 2050. Com inteligência local, instituições sérias e cabeça no lugar, o CODEFOZ já está no caso. A cidade do futuro pode ter energia limpa, mobilidade silenciosa, fronteiras digitais. Mas, cá entre nós: até lá, talvez fosse bom pavimentar o presente. Se não fizermos a lição de casa, os drones do futuro vão seguir o mesmo trajeto dos ônibus de hoje: com desvios, buracos e um certo desânimo. Que tal ficar com pelo menos um olho no agora, para comprometer o amanhã?
Visão de longo alcance
Pensar Foz do Iguaçu em 2050 exige uma lente de aumento moral, ética e urbanística. O CODEFOZ está nessa missão, reunindo sabedoria, experiência e um certo otimismo institucional — o que, convenhamos, anda em falta em muitas frentes. Só pedimos que esse planejamento não fique preso à cápsula do tempo, esperando um salvador robótico. O futuro nasce de uma EADI funcionando, de um transporte eficiente, de um planejamento que inclua a realidade. Afinal, cidade inteligente não é a que tem wi-fi nos postes, mas dignidade nos bairros.
O tempo voa
O ano de 2050 parece distante, mas acredite: quem tem filho pequeno hoje vai vê-lo formado e pagando boleto até lá. Planejar o futuro sem garantir a estrutura do presente é como desenhar o carro voador sem instalar o semáforo adequado nas esquinas. O CODEFOZ tem a bússola certa, mas precisa que os poderes públicos ajustem o relógio. O futuro não espera quem insiste em tropeçar no agora.
Sem spoiler
Ninguém aqui quer dar spoiler sobre o futuro. Mas se tudo seguir como está, 2050 pode nos encontrar ainda discutindo se as aduanas serão afastadas, dentre outras. O CODEFOZ faz sua parte, articula setores, junta cabeças e propõe metodologias — o que é muito mais do que a maioria dos gabinetes faz. Mas planejamento não é peça de teatro: precisa de bastidor funcionando. E sem obras básicas, a cidade de amanhã pode acabar parecendo um cenário distópico com poste inteligente ao lado de vala aberta.
Foz pode ser o Japão da fronteira
No Japão, planejam cem anos à frente. Em Foz, estamos tentando garantir os próximos vinte e cinco. Parece pouco, mas é um grande feito. O CODEFOZ merece elogios por tirar o futuro do devaneio e colocá-lo no papel. Só pedimos que ele também ajude a lembrar aos tomadores de decisão que, para chegar a 2050 com orgulho, precisamos resolver 2025 com urgência. A começar pela saúde das vias urbanas e por políticas que deem a essa cidade o título que merece: metrópole da inteligência — não do improviso.
A BR que virou miragem
A duplicação da BR-469 andava a todo vapor… até que o vapor sumiu. As máquinas evaporaram como se tivessem sido abduzidas por algum plano rodoviário interplanetário. Dizem que a culpa é da recuperação judicial da empreiteira. Tudo bem, o futuro está sendo planejado, mas seria ótimo se o presente não parecesse um eterno quebra-molas. Já que falamos de Foz 2050, a torcida é para que essa duplicação não entre também na cápsula do tempo. Porque uma cidade turística merece pista dupla — e não dupla frustração.
Bubas em transição ou em suspensão?
O processo de desfavelização da Comunidade Bubas é como novela boa: cheia de capítulos, mas ainda sem final definido. A promessa é antiga, o plano é nobre, mas a realidade anda tropeçando em burocracias. Quando chove então… A gente torce para que o futuro da área seja de dignidade e urbanismo — e não de promessas recicladas. O CODEFOZ pensa em 2050, mas os moradores da região gostariam de saber se em 2025 já terão um mínimo da infraestrutura e uma nova história para contar.
Beira Foz
A Avenida Beira Foz tem um nome bonito, projeto ambicioso e até renderização de encher os olhos. Só falta mesmo sair do papel. O espaço é nobre, o plano é inovador, mas a dúvida persiste. Enquanto isso, a beira segue sendo mais mato do que mobilidade. Seria uma revolução urbana, um cartão-postal novo. Mas por enquanto é só uma linda promessa pairando no ar.
111 velinhas e (quase) os mesmos pedidos
Foz do Iguaçu vai completar 111 anos e, como todo aniversariante, faz uma lista de desejos. Só que, em vez de 111 conquistas, a cidade ainda carrega 111 pendências. É duplicação parada, obra que não começa, promessa que parece reprise. Mas sejamos justos: tem gente pensando o futuro, tem plano bem feito, tem vontade de acertar. Só falta dar aquela ajeitada no agora. Afinal, sonhar com 2050 é lindo, mas seria ótimo se 2025 parasse de tropeçar nas mesmas pedras que nunca saem do caminho. Ei, desculpem aí se a coluna pega pesado. É o leitor que manda.
A maternidade de vinil
Por falar em futuro… num parque qualquer, uma mulher empurra um carrinho. Mas não há bebê ali. É uma boneca hiper-realista, com olhos de vidro e bochechas rosadas — tratada como se fosse um filho de carne e osso. Essas “crianças de silicone” custam mais que o enxoval de um recém-nascido e vêm com “certidão de nascimento” e até “livro do bebê”. Não choram, não acordam de madrugada, não pedem amor de verdade. Talvez por isso tanta gente se apaixone por elas. O problema é quando a encenação de afeto passa a substituir o afeto real. Milhares de crianças humanas vivem em abrigos esperando um colo de verdade. A boneca virou um simulacro da maternidade contemporânea: bonita para foto, vazia por dentro. Performar amor é mais fácil do que exercê-lo.
Papais de plástico
Engana-se quem acha que bonecas adultas são apenas brinquedos sexuais. Em alguns casos, viraram esposas de silicone com direito a nome, documento e festa de aniversário. Há homens que almoçam com elas, passeiam de mãos dadas e juram amor eterno ao vinil modelado em forma humana. Elas não reclamam, não discordam, não têm opiniões políticas ou mau humor. O relacionamento ideal — para quem tem pavor de gente de verdade. Mas por trás da aparência de ternura, há um abismo emocional. A boneca representa a vitória do controle sobre a convivência, da submissão sobre a surpresa. Trocar o calor humano por companhia plástica pode parecer romântico no Instagram, mas é um monumento silencioso à falência emocional de uma geração que teme o conflito e foge do compromisso.
Parto fake, trauma real
Sim, já existem simulações de parto de bonecas. Gente adulta paga para viver a fantasia completa: bolsa que “estoura”, enfermeiros encenando, choro de boneco ao nascer. Tudo isso enquanto, no mundo real, milhares de mulheres dão à luz em condições precárias, em maternidades sucateadas ou sem acesso à saúde básica. A brincadeira performática é a cereja no bolo de uma sociedade que vive num teatro emocional. Enquanto o útero vira atração e a boneca ganha enxoval, o bebê humano real nasce sem fraldas, sem lar, sem pai. Brincar de vida é fácil quando não há consequência. Difícil mesmo é assumir a responsabilidade por uma existência concreta, que exige cuidado, paciência e compromisso — valores raros na era da estética afetiva.
A indústria do afeto programado
O mercado de bonecas realistas se tornou um império. Modelos personalizados, cílios implantados, silicone anatômico e até expressões faciais trocáveis. Elas vêm com voz doce ativada por aplicativo, perfumes suaves e inteligência artificial básica para responder “eu te amo” em diferentes línguas. Em breve, virão com modos de humor, resposta automática a conflitos e a capacidade de fingir saudades. A indústria não vende bonecos: vende o fim do esforço emocional. Tudo calibrado para quem não quer lidar com frustrações humanas. Só esqueceram de avisar que afeto real não vem no modo “configurações”. Se para muitos, amar virou uma transação confortável, talvez a solidão agora tenha um novo nome no catálogo: edição de colecionador.
Alexa, cadê o amor?
É o futuro chegando pelo wi-fi. Bonecos já vêm com caixas de som embutidas, conectados à Alexa ou Siri, respondendo a comandos de voz, lembrando aniversários e até elogiando o dono. Você fala, ele responde. Você reclama, ele se cala. Um parceiro digital que não precisa de flores, mas também não te beija. Não tem TPM, nem ciúmes, mas também não vibra com suas vitórias. É relacionamento com eco — você fala com a boneca, mas é a sua própria voz que volta. A intimidade virou interface, o amor virou comando. Em tempos onde escutar o outro virou esforço insuportável, falar com uma máquina virou consolo emocional. A pergunta é: quando tudo estiver automatizado, o que será do silêncio que exige presença humana?
Andróides, afeição e a falência do humano
Quando uma boneca com inteligência artificial for capaz de entender seu humor, adaptar suas respostas, preparar café e ainda te dar “bom dia” com voz doce, será difícil competir. E nem estamos falando de futuro distante: alguns modelos já estão em fase de testes, com sensores de toque, respostas emocionais básicas e conexão direta à internet. O que era ficção científica em “Her” ou “Blade Runner” está virando produto no e-commerce. Mas será que amar uma IA é amar de verdade ou só evitar o fracasso das relações humanas? A verdade é que o amor exige o incômodo da alteridade — alguém que te contesta, surpreende, desafia. Se os andróides vierem para nos poupar do esforço de amar, talvez não sejamos nós que estamos evoluindo. São eles que estão nos substituindo.
- Por Rogério Bonato