Coluna do Corvo

A febre é econômica, não biológica

No Brasil, basta uma cacarejar diferente ou uma vaca tropeçar no pasto para o mercado internacional levantar o dedo em riste. As doenças endêmicas na pecuária e na avicultura — mesmo quando não atingem humanos — têm o poder de paralisar exportações, derrubar ações e inflacionar o preço do bife, do ovo e até do torresmo. Vivemos um paradoxo: somos um dos maiores produtores de proteína animal do mundo, mas qualquer febre no rebanho vira pânico diplomático. O curioso é que, enquanto países ricos abafam surtos com discreta competência, por aqui cada vírus vira breaking news com CPF. Nas notas a seguir, veremos como essas epidemias, ainda que controladas, fazem mais estrago no bolso do que no corpo. Porque no fim, o que adoece mesmo é a balança comercial — e o prato do brasileiro.

 

Vaca louca, mercado mais ainda

Confirmou um caso de vaca louca? Lá se vai o churrasco. A cada notificação da encefalopatia espongiforme bovina (nome que só assusta mais), a primeira reação internacional não é empatia sanitária, é fechar mercado. O Brasil, que tem uma das maiores exportações de carne do mundo, sente no lombo cada embargo, mesmo quando o caso é atípico e isolado. A doença raramente atinge humanos, mas afeta os negócios como se fosse pandemia. O curioso é que em países desenvolvidos, o surto é abafado — aqui, vaza no grupo da família antes do Ministério confirmar. Coincidência? Ou concorrência com cheiro de pasto? Enquanto isso, o preço da picanha segue digno de boutique.

 

Gripe aviária: ninguém voa

A gripe aviária chegou para lembrar que nem os galinheiros escapam da vigilância sanitária mundial. Apesar de raros casos de transmissão humana, o H5N1 paralisa exportações como se fosse arma biológica. No Brasil, basta um papagaio espirrar e o radar da OMC apita. Quando o surto vem, o prejuízo é de milhões — e não em ovos, mas em dólares. Enquanto países como Japão e China se trancam para nossos frangos, o preço sobe e o brasileiro, que já trocou carne por ovo, se pergunta: será que frango com gripe emagrece? Só se for o mercado, que vive em dieta de lucros.

 

Febre suína: a peste é outra

A peste suína africana, que não é africana nem recente, vive rondando os criadores como assombração genética. Não atinge humanos, mas dizima rebanhos e tranca mercados com mais eficácia que reunião da OMS. Países europeus preferem fingir que não ouviram o grunhido. No Brasil, um engasgo suíno vira manchete. E como bons latinos, tratamos o tema com transparência… até demais. Talvez seja falta de segredo diplomático, ou excesso de sinceridade rural. O certo é que o bacon vai ficando caro e o torresmo, um item de boteco, virou entrada de casamento gourmet.

 

Pé de galinha virou patrimônio

Já que falamos em ave, o pé de galinha — aquele que antes só servia para fazer caldo ou dar susto na criança — hoje é iguaria de exportação. China, Vietnã e outros mercados asiáticos compram toneladas dessa parte nobre do frango, que aqui não servia nem para o cachorro. Resultado? Está mais fácil achar salmão do que coxinha de galinha nos açougues populares. A culpa? Pode ser da gripe aviária, da demanda internacional ou de algum gourmet que resolveu inventar receita nova. Só sei que hoje, para chupar um pé, tem que parcelar no cartão de crédito.

 

O Plano B é de “balança comercial”

A cada embargo internacional por doença animal, o Brasil corre até encontrar novos compradores — e consegue. É como um mascate ambulante que teve a banca fechada e foi vender na praça ao lado. O Plano B virou arte: se a China fecha, o Egito compra; se a Europa recua, o Irã aceita. O problema é que enquanto o mundo joga com segredos sanitários, aqui até o vizinho do sítio sabe da última febre viral. Falta sigilo e sobra improviso. Mas como dizia a avó deste colunista: quem tem uma criação e um bom vendedor, nunca passa fome (já o consumidor, esse passa… vontade).

 

Agricultura viral, preços também

Nem todas as doenças são zoonoses perigosas, mas todas têm efeito direto no bolso do cidadão. Uma gripe no frango, um surto no porco, uma vaca com suspeita e pronto: o preço no mercado triplica. E quem paga não é o importador, é o brasileiro que troca o contrafilé por patinho, o patinho por frango, o frango por ovo e o ovo por… saudade. No fim das contas, o vírus que mais afeta o país não está nos rebanhos — está na inflação. E esse, diferente da peste suína, é endêmico, silencioso, e não respeita quarentena.

 

CTG: o eterno retorno

A Fartal está de volta ao CTG Charrua, como se fosse destino carimbado em passaporte. Já tentaram mudar o palco da festa: Parque de Exposições, Gramadão, pátio de escola…mas no fim, tudo termina com chimarrão e sapateado no barro. O local é tradicional, é verdade, mas ainda não ganhou a benção do São Asfalto ou Santa Drenagem. Quando chove, o chão vira pista de patinação pantaneira. Ninguém sabe por que a festa sempre volta para lá, mas desconfia-se que o GPS emocional dos organizadores só aceita o CTG. Ou é carma, com jeito de contrato vitalício pela simples falta de opção, que barbaridade!

 

A cidade sem endereço para festa

Foz do Iguaçu parece aquele amigo que convida para festa, mas na hora manda a localização errada. A cada tempo, a Fartal muda de endereço como se fosse reality show: quem será o próximo eliminado? Já aconteceu na Vila A, na JK, no centro, ameaçou ir parar na Duque de Caxias, e, agora volta ao velho CTG. Tudo indica que Foz sofre de um mal grave: “eventite nômade aguda”. Falta um parque de eventos? Falta. Sobra promessa e discurso, mas o povo continua na chuva, na lama e no improviso. Enquanto isso, seguimos como Moisés: caminhando, acampando e esperando cair o maná — ou ao menos um palco coberto.

 

Fartal: entre a lama e a tradição

Há quem diga que Fartal sem lama não tem emoção. O CTG Charrua, sem saída direta pela BR-277 e sem calçamento decente no estacionamento, parece ter sido escolhido por um roteirista de comédia. Todo ano a mesma trama: monta-se a estrutura, anuncia-se a festa e…chove. A entrada vira rally, o estacionamento é teste para galocha e o público se divide entre os que dançam e os que atolam. Inclusive a mulherada que compra sapato para a ocasião, para pagar em prestação. Mas Foz ama esse perrengue cultural: é como reencontrar um(a) ex, sabendo que vai dar trabalho, mas sentindo falta do tempero. Afinal, que graça teria se tudo desse certo?

 

Feira do Livro sem GPS

Nem só de Fartal vive a instabilidade geográfica de Foz. A Feira do Livro também vive de ser itinerante: já ocupou a Praça da Paz, se aventurou em shoppings e até em barracas de lona. Falta só pousar na Marginal do Boicy. O evento virou literatura em movimento — cada edição, um novo endereço. Talvez por isso o público vá diminuindo: ninguém sabe mais onde fica a prateleira da poesia. A cidade clama por um espaço fixo, mas enquanto isso não vem, seguimos na odisséia cultural com cara de sarau ambulante. Foz é a única cidade onde o leitor precisa de bússola. E pensar que o evento foi épico ao ser inaugurado em frente a Fundação Cultural, na Rua Benjamin Constant. Precisou mudar em razão da reclamação de um salão de beleza, que nem existe mais.

 

 

Ideias há de sobra; o que falta é juízo urbanístico

Em Foz do Iguaçu, lugar para evento é o que não falta. O que falta mesmo, é uma pitada de bom senso, conhecimento de urbanismo e, quem sabe, ouvir a população. A Feira do Livro, por exemplo, poderia ser feita até no estacionamento de um supermercado — afinal, quem quer ler não liga para luxo, mas para acesso. Mas tem gente que prefere esconder a cultura atrás de protocolos e organogramas. Resultado: bons projetos ficam à deriva, enquanto a cidade debate se leitura combina com calçada ou gramado.

 

Pedreira ou oportunidade?

Enquanto Curitiba transformou pedreiras abandonadas em centros culturais de fama mundial, Foz do Iguaçu prefere deixá-las como habitat de mato alto e criadouro de Aedes aegypti. A cidade tem potencial para erguer anfiteatros, parques e feiras populares nos locais mais inusitados — mas prefere engavetar ideias. Em tempos de dengue e eventos improvisados, não custa lembrar: com planejamento, até uma cratera pode virar palco. Com descaso, vira só buraco… de gestão.

 

Mercado Barrageiro: espaço vivo, ideia viva

O Mercado Público Barrageiro já provou que é mais que praça de alimentação: virou reduto cultural, cenário de encontros e potencial sede para feiras e eventos. Mas falta ainda mais vontade política de parceiros, ou quem transforma a ideologia em barreira, por causa disso não se aconchega e deixa de explorar o que a cidade já tem de bom. O tal “parque da cidade”, até hoje um mistério topográfico, é símbolo das gestões que erguem pontes e avenidas, mas esquecem que cidadania também se constrói com acesso à arte, leitura e lazer. Não é questão de espaço — é de prioridade.

 

Boteco com Pauta

O nome correto é “Box em Pauta”, mas este colunista faz as suas adaptações. Depois de anos em busca do boteco ideal para descontrair em coletivo, os jornalistas de Foz do Iguaçu parecem ter encontrado um “ponto”, uma parada: o Mercado Público Barrageiro. O espaço virou o novo reduto da categoria para encontros mensais, sempre recheados de boas histórias e atualizações dos bastidores. No dia 22 de maio, às 18h40, está marcado mais um encontro, o segundo da temporada! A ideia é simples, mas poderosa: reunir gerações do jornalismo local para trocar ideias, rir das pautas impossíveis e brindar a arte de informar.

 

A hora do off

Fora das redações, longe dos deadlines e dos grupos de WhatsApp fervendo, os jornalistas de Foz conquistaram esse ponto de encontro fixo para respirar, ouvir e contar causos do ofício. O Mercado Público Barrageiro corajosamente acolheu a classe e é lá que a fauna lagarteará no inverno.

 

  • Por Rogério Bonato

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