Coluna do Corvo
Mitos e verdades
Como hoje é sábado encaixa um texto mais dissertativo, com base histórica. A passagem de Alberto Santos Dumont por Foz do Iguaçu em 1916 foi possivelmente um dos fatos mais marcantes do século. Rezam as lendas, algumas devidamente documentadas e outras não, porém calçadas na oralidade como fonte histórica, que o “pai da aviação”, a maior celebridade da época, estava em Buenos Aires quando foi instigado a conhecer as Cataratas do Iguaçu.
Depressão
A Primeira Guerra Mundial e a utilização bélica dos aeroplanos deram um nó na cabeça de Santos Dumont. Ele retornou ao Brasil depois de décadas na França e se dedicou a criação de clubes aeronáuticos, participando de eventos e convenções do novo segmento. Acometido pela esclerose múltipla e profunda depressão, em 1916, aos 43 anos, aceitou ser o patrono da 1ª Conferência Pan-Americana de Aeronáutica, no Chile. No retorno passou em Buenos Aires e foi quando conheceu Moisés Bertoni. Isso aconteceu em frente a uma gráfica que se dedicava a produção de cartões postais. Havia uma vitrine com imagens de todos os recantos paradisíacos e cidades. Naquele exato momento, um funcionário acomodava uma bela paisagem fotográfica das Cataratas do Iguaçu, colorida em “ecoline”. Ao se interessar pelo objeto de arte, topou com o autor, que lá estava para a divulgação. Certamente a amizade foi instantânea, levando em conta a inquietude e criatividade de Dumont e Bertoni, dois personagens históricos que gostavam da ciência, tecnologia, fotografia e comungavam o pacifismo.
Rios e mares
Viajar, naqueles tempos, demandava muita paciência. Para ir ao Chile, embarcavam em navios ou enfrentavam meses atravessando selvas, montanhas e desertos. Os brasileiros, em geral, saíam de portos no Rio de Janeiro, São Paulo e Uruguai e davam a volta no continente, até o Oceano Pacífico. Buenos Aires era parada obrigatória. Segundo a dona Elfrifa Engel, em entrevista a este colunista no início dos anos 80, Dumont teria relatado com paciência e, para várias pessoas, a aventura de conhecer as Cataratas do Iguaçu. Ao tornar-se amigo de Bertoni, foi com ele de navio até o norte da Argentina e chegou a Puerto Victória, hoje a localidade de Iguazú, maior cidade da época na região, bem como havia muita prosperidade no Território de Missiones. Falamos do apogeu na extração da erva-mate, com dezenas de companhias britânicas devastando as florestas.
Em Iguazú
Segundo teria relatado o próprio Dumont, o amigo Bertoni trocou de “vapor” em Corrientes, com destino a Assunção. Depois de um ou dois dias em Puerto Victória os brasileiros foram buscá-lo e organizaram uma agenda de passeios, festas e comemorações, muitas das quais recusadas pelo ilustre hóspede. Dumont era avesso a bagunças, folia, barulho, prezava pelo silêncio, leitura, sempre em busca da concentração para o pensamento. Chega a ser estranho homenageá-lo no Carnaval de Foz, em 2025.
As Cataratas
Para ir até a propriedade do uruguaio Jesus Val era necessário antes pedir sua permissão e depois organizar uma expedição, fazendo inclusive o uso de batedores, gente que ia na frente removendo galhos, árvores e afugentando as onças. Frederico Engel, o principal anfitrião do inventor organizou um almoço para cerca de 20 pessoas que formavam a comitiva, incluindo crianças, empregados e idosos. Levava-se um dia até chegar na estalagem onde é hoje o Hotel Belmont. Perto, nas proximidades do atual Porto Canoas havia um quiosque coberto de folhas de palmito e era de onde partiam para descer os rochedos e contemplar as quedas.
Acomodações
Ao chegarem, havia um acampamento com lonas emprestadas pela Companhia de Fronteira. Santos Dumont não descansou um segundo, escrevendo e desenhando as paisagens. Ao lado, sempre a menina Elfrida e duas primas. Em certo momento, na beirada do Salto Floriano, Dumont se equilibrou em um tronco e apavorou a todos, e foi quando disse: “as alturas não o intimidavam”. Os relatos são os mais diversos e muito se perdeu no tempo e sua frágil memória, mas um fato é que o ilustre visitante foi tomado pela ansiedade e se embrenhou mata, em lombo de burro até Guarapuava; de lá foi cumprir audiência com o Presidente do Estado (como eram denominados os governadores), Affonso Camargo; as Cataratas do Iguaçu não poderiam pertencer a um particular, sobretudo estrangeiro. As maravilhas naturais eram, para Dumont um patrimônio de todos. O governador não encontrou saída a não ser desapropriar a área, indenizando o uruguaio. Dizem que ele Jesus Val praguejou até o dia de sua morte.
Garoto propaganda
Santos Dumont afirmou aos novos amigos em Foz, que falaria das maravilhas a todos que encontrasse e pelo visto cumpriu a promessa. Há relatos de um encontro com Candido Rondon, onde a pauta foi a necessidade de uma demarcação federal em todo o perímetro de mata, uma vez que a área corria sérios riscos de invasão e devastação. Rondon acabara de completar uma missão de anos revisando as fronteiras e cravou estacas próximo às Cataratas. Ao longo da vida, Dumont passou a relacionar várias localidades que mereciam um olhareis mais cuidadoso por parte do Estado, com medidas de proteção ambiental. Ele sempre demonstrou preocupação com o meio ambiente, o extrativismo e a dilapidação das riquezas naturais. Foi um dos percussores das causas ambientais.
Não engoliu
Jesus do Val, por sua vez, se soubesse que Santos Dumont causaria tanto rebuliço em sua vida, nunca que permitiria que adentrasse suas terras. Ele tentou em vários episódios reverter a desapropriação, por meio de medidas de reintegração de posse. Quis inclusive devolver o dinheiro, mas o governo não aceitou desfazer a medida. Os reflexos do embate judicial perduram, porque é baseado no ato de desapropriação que o Estado do Paraná e a União brigam pela posse da área.
Equívocos
Há de se mencionar, que a decisão do Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre, não abarca toda a área do Parque Nacional do Iguaçu, como muita gente anda comentando e até espalhando. O PNI compreende 185 mil hectares e o imbróglio abarca menos de 10% do espaço. Refere-se às propriedades de Jesus Val, as que foram desapropriadas e quitadas no início do século passado. A pendenga também não compromete e tampouco interfere nas gestões da área, hoje importantíssima na recomposição da Mata Atlântica, ligando milhares de quilômetros por meio do corredor da biodiversidade. No mais, a visitação ao Parque Nacional do Iguaçu é um modelo de sustentabilidade festejado em todo o mundo e copiado por muitas unidades em vários países. Como vão fazer com a divisão da renda decorrente da arrecadação, e de que maneira isso será reaplicado ou devolvido, são outros quinhentos.
Vai longe
O assunto não acaba com a decisão do TRF4, certamente isso vai prosperar nas instâncias superiores e dá-lhe anos até uma solução final. Se serve de consolo, saber que um pedaço do PNI é dos paranaenses, oras tratem de festejar!
Carnaval sem álcool?
Que barbaridade hein? Porque não realizam então uma romaria, procissão, ou algo assim? Carnaval brasileiro sem cerveja e chopp? Os foliões querem saber se é verdadeiro ou falso, mas é o que andavam espalhando com certa veemência, que a venda de bebidas alcoólicas no Carnaval de Foz será proibida. A decisão seria “made in Procuradoria Geral do Município”.
Parece que é sério
Segundo consta, não haverá a venda de bebidas alcoólicas na área pública do evento, ou seja, nas barracas que atendem os foliões, mas eles não estarão impedidos de levar os seus “coolers”, o que dá praticamente na mesma. A situação pode ser outra em restaurantes, bares e locais especializados em bebidas, mas a ideia é evitar os vidros e objetos inseguros para os frequentadores. Como sabemos, a venda de bebidas para menores de 18 anos é proibida e cada município tem autonomia de administrar o problema da comercialização para os adultos, como bem entender. Todavia, segundo informações, o tema estava sendo bastante discutido ontem na prefeitura.
Volta às aulas
Para descontrair: o prefeito General Silva e Luna e a secretária de Educação de Foz posaram para uma foto, registrando a volta às aulas em Foz do Iguaçu como “uma alegria contagiante!”. Bom se depender da expressão dos alunos no mesmo recinto, isso não confere. Essa alegria toda só se viu nos gestores.
Drama acalorado
O vendaval e as chuvas da quinta-feira, além dos incômodos rotineiros com a queda de árvores e postes, causaram desligamentos de luz e, na manhã da sexta-feira, o que se escutava era reclamação sobre a quebra de aparelhos, a começar por ar-condicionado. Dá para viver sem a Tv, o rádio e até a internet, mas sem ar-condicionado? Um bom final de semana a todos e que ele seja um pouco refrescante.