Coluna do Corvo

Ai, o debate…

Deixar de assistir a uma série, um filme, ou parar a leitura de um bom livro para ver um debate na noite de quarta-feira, 22h30, no mínimo deveria valer à pena. Bom, havia também um jogo de futebol, que certamente não afetou a audiência, porque a torcida do Palmeiras não é a maior da cidade e tampouco da do Botafogo, que não enche uma Kombi. Os corintianos viram a Tv Tarobá.

 

Experimento

Foi o primeiro encontro dos candidatos de Foz e serviu de treino. De certa maneira o formato equilibrou os participantes, mas eles levaram muito mais tempo indo até Cascavel, do que em frente às Câmeras. Se a emissora acrescentasse mais um bloco a transmissão ficaria de bom tamanho. E deveriam inverter os módulos, porque na última rodada, alguns candidatos foram praticamente encurralados, quase sem chance de participação e isso causou desproporcionalidade. Mas isso não passa da humilde opinião deste escriba.

 

Pela ordem

Sem dar preferência a uns e outros, vamos analisar a “contenda” da esquerda para a direita, conforme a posição que cada um assumiu em frente às câmeras. O candidato Latinha estava na ponta esquerda, logo, terá aqui a primeira abordagem. “Todo mundo já viu que sou eu contra todos”, disse ao se despedir. Foi quem mais pregou o verbo, esbravejou, sentou-se no passado dos adversários e ficou batendo na mesma tecla do começo ao fim de sua participação. Latinha parece ser visivelmente contra a atividade de Turismo, porque segundo a sua opinião, os visitantes é quem devem pagar por boa parte dos serviços públicos. É uma plataforma que agradaria bastante aos destinos concorrentes, que tentam a todo o custo aliviar o bolso dos turistas na cobrança de taxas. Faltou o candidato da Federação PSol/Sustentabilidade anunciar um pedágio para as pessoas caminharem no comércio! Ele quer guichês de cobranças nas estradas, aeroporto, porto, pontes e certamente não deixaria de fora as estradas rurais. Mas, aqui entre nós, o dinheiro arrecadado no Turismo sustentaria os hospitais, o transporte, garantiria a geração de empregos? Não funciona assim, além do mais, há um desvio de finalidade aí; cobram a taxa para incrementar o setor, que possui um orçamento público baixo, R$ 16,8 milhões. Não se pode salvar a cidade e quebrar uma de seus meios desenvolvimentistas. Latinha será o “Urtigão” eleitoral de 2024.

 

Zé e o Moro

O candidato do União Brasil estreou finalmente, no cara-a-cara com os oponentes em corrida eleitoral, um dos sonhos de sua carreira. Ele demonstrou que tem se preparado para a função. Zé Elias é dono de um perfil bastante chegado em dados e números. Se sustenta bem quando o assunto é Orçamento. Estava bem concentrado no tempo das perguntas e respostas e foi um dos poucos a não desperdiçar, sem precisar ficar falando sem o som do microfone. Não se sabe se por estratégia ou trampolim, fez questão de mencionar o senador Sérgio Moro, a celebridade mais festiva de sua sigla, e, com quem contará na trincheira eleitoral. Zé foi ligeiro em escapar das arapucas, sobretudo quando o assunto era o transporte público, uma vez que foi o principal responsável em desarticular um projeto de décadas. Possivelmente, quando o Cabeza de Vaca passou por Foz, deve ter utilizado um ônibus das empresas que já atuavam na cidade. Zé mandou o povo embora, de mala e cuia. No mais, o candidato insiste em diminuir as nomeações e usar o dinheiro em outras finalidades, otimizando o orçamento de várias formas. Ele sabe que uma demanda assim, na prefeitura, requer muita conversa com a Câmara de Vereadores, e uma vez que os legisladores não terão chances de barganhar cargos na administração, isso exigirá uma ginástica inimaginável. Servidores e a população não gostam de nomeações, mas o caminho para realizar algo assim é tortuoso.

 

Aírton Loro José

O candidato, em frente das Câmeras, está em casa. Se deixassem, passearia pelo palco. A experiência de comunicador lhe valeu para repassar a tranquilidade, sempre com falas pausadas e expressões de tom emocional. Nos assuntos difíceis de dominar, Aírton fazia um passeio quase imperceptível, um “enrolation” digno do Rolando Lero, personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Mesmo assim, de frente com assuntos espinhosos, se saiu bem, como no caso dos horários de postos de Saúde. Uma pena o Turismo não entrar na pauta do debate, porque o Aírton certamente se esticaria na sua praia particular. O candidato colocou a inovação no pleito, falando do futuro e abordou os jovens. Fez uma fala de centro, porque sabe que é a raia certa, onde todos devem dar um jeito de remar. Será interessante o seu desempenho nos horários eleitorais; ele não quis dar moral ao Latinha quando mencionou as cobranças aos turistas e, reservou certos cuidados ao debater com o Paulo Mac Donald, foi esperto. O candidato do PSB tem um caminho bem difícil pela frente e já descobriu que a vida de vidraça é bastante diferente do tempo em que ele era a pedra. Faz uso dessa transposição para pavimentar a razão de deixar os telespectadores, convertendo-os em eleitores.

 

O General e a plataforma

Joaquim Silva e Luna, do PL, alinhado aos partidos de direita, descobriu que o ambiente de televisão é bem mais hostil que a selva amazônica, onde comandava batalhões. Foi possivelmente o teste mais difícil da sua iniciante carreira de político. Vamos pensar: um homem acostumado a falar com chefes de Estado, militares de alta patente, comandando-os inclusive; técnicos de altíssimo nível na área empresarial, energética e petrolífera e, de repente, de cara com oponentes, desvendando os problemas comuns de uma cidade? Se isso causa estranheza em nós, pobres munícipes, imagina em alguém como ele? Pois até que foi bem, e conseguiu se livrar do ovo na goela. Silva e Luna possui uma virtude e trabalho isso: a humildade; convenhamos, coisa difícil é um candidato concordar com outro em debate, como no assunto da implantação de uma Hospital Infantil e do autismo nas escolas. Logo, os que esperavam um general falante, gesticulando, cheio de soberba, terão que se acostumar com um homem modesto, que pensa antes de responder e, por isso, as respostas não cabem no curto espaço de um minuto e meio. Podem avaliar que estava travado, mas jamais que é despreparado. Há um esforço em vê-lo justificando a sua chegada em Foz e, como aceitou o desafio de encarar uma eleição. Treiná-lo a falar com a população não é difícil, isso ele fazia com soldados, gente de todas as origens, mas lidar com a coletividade, e aceitar ordens, no lugar de ordenar será uma tarefa dos assessores, bem como na missão de enfrentar os oposicionistas, cara um com um jeito de fera passeando pela mata. Mas isso ele vai dominar ao longo das próximas semanas. Silva e Luna pode ajudar a elevar o debate.

 

Paulo sendo o Paulo

Francamente, ele deve ter se lembrado do primeiro debate quatro anos antes, onde escorregou na firmeza e deu-se muito mal perante a opinião pública. Na noite da quarta-feira, se manteve no quadradinho, apesar da aparente inquietude e resultante desconforto. Quem o conhece bem roeu as unhas, esperando que saísse da casinha em alguma oportunidade, mas se segurou e foi até diplomático, com aquela cara de gato esbarrando no pires de leite. Aqui entre nós, o problema dos debates são as mentiras que os candidatos tentam vender como verdade, como o caso das “façanhas” realizadas pelo Sâmis e que foram esfareladas pelo Paulo, quando sucessor. Um desses assuntos é a fabulosa fábrica de medicamentos, produzidos sem a autorização da Anvisa, manipulados em boa parte por estagiários. Certa ocasião alguém revelou que faziam “placebos”! Se o Sâmis fabricasse balas, o povo chuparia e não reclamaria. Paulo assumiu e regularizou a produção, reduzindo o número de comprimidos, mas com qualidade, e, Certificado de Boas Práticas, emitido pela ANVISA. Quando o assunto é Saúde e Educação, o Paulo nada de braçada, por isso os demais desviaram dele de cabo a rabo, tentando a todo o custo escapar de fazer-lhe perguntas. De outra maneira, o ex-prefeito foi generoso toda a vez que questionou oponentes. Saiu-se bem; soube esquivar-se do espinhal dos cactos, até mesmo no setor de transporte. Dever ter dormido em paz e está pronto para outra. A vida do Paulo Mac é assim, sempre pronto para outra, uma vez que gosta de escolher os caminhos mais difíceis.

 

Sâmis e o passado que não passa

O tucano fala bem, sempre sorrindo, fez escola com muitos políticos bons de verbo. Pode ser, um dos pecados na sua “rentrée” foi ficar o tempo todo lembrando sua administração, passados vinte anos. Se ele pensa que a maioria não se lembra, engana-se. Herdou uma dívida catastrófica, no sentido administrativo e financeiro, do segundo pior governo da história da cidade, de Harry Daijó; trabalhou bem em vários setores, de braços com o governo do Estado, onde estava o Roberto Requião, mas bateu de frente com assuntos delicados como a Saúde e Educação. Logo, chega a ser esquisito criticar administrações que colocaram esses assuntos em dia. Sâmis, pelo visto, gosta de pisar em pedregulhos, como o caso da Santa Casa Monsenhor Guilherme, um sumidouro do dinheiro público, com o edifício caindo aos pedaços (tanto que foi demolido), insalubre; é temerário concluir que as pessoas iam lá em busca da cura e saiam mais doentes. No mais ele abordou a Patrulha Maria da Penha, a ampliação do horário das unidades de saúde, e projetos de emprego e renda, com a capacitação de jovens. Para variar, como os demais, debateu o Transporte e, lembrou a construção do Aterro Sanitário, atendendo à época um programa nacional de coleta de resíduos. É interessante quando ex-prefeitos se encontram, se debruçando no tabuleiro, um analisando o outro e nos lembrando como foras as suas administrações. Isso às vezes consegue anuviar o “novo”, pelas experiências que adquiriram, as que deram certo ou não na condução da máquina pública.

 

Cadê o Caimi?

Muita gente fez a pergunta e aqui vai um puxão de orelha na Band/Tarobá, que seguiu a resolução do TSE, barrando candidatos sem representação no Congresso Nacional. E onde é que fica a Democracia? O que uma coisa tem com a outra? É uma medida desproporcional e que no fim acaba barrando candidatos desse baile eleitoral, pessoas que muitas vezes são dotadas de bons princípios, como é o caso de Sérgio Caimi, que ajudaria bastante a melhorar o ambiente. Bom, a sede da emissora está em Cascavel e presta muitos e bons serviços regionais. Tomara revejam a posição em oportunidades futuras. Ao lembrar a Tarobá, o mais antigo canal de Tv do Oeste, a empresa está de cara nova, trocou o logotipo inclusive, saiu a figura botocuda e entrou um “T” maiúsculo, um literal “Tesão” com jeito de araucária, bem identificado, diga-se.

 

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