Coluna do Corvo
Segunda-feira de cinzas
Acabou-se a folia eleitoral e, para todos os políticos, indubitavelmente, o dia depois do domingo de urnas é uma quarta-feira de cinzas. Os que perderam, sentem a ressaca, o amargor que advém da consciência, de ficar se beliscando para saber se não foi um pesadelo; e se perguntam: “onde foi que errei, ou o que eu fiz de errado?” Os que venceram, em geral, tocam a bola para a frente e esperam a ficha cair, sobretudo quem se deu bem no primeiro turno. Mas sabem que a euforia vai passar e estarão de frente com os desafios.
Um resumo
Encurtando o texto, isso acontece em Foz do Iguaçu. Vamos lembrar, na condição de testemunha ocular e isenta: no início do ano, havia um vácuo de candidaturas, Paulo lutava para desanuviar os impedimentos na Justiça, temas mais do que vencidos, mas era necessário concretizar o fechamento das ações, para que isso não fosse novamente usado em campanha. O General Silva e Luna, por sua vez, viu uma avenida aberta e incorporou em sua carreira um novo sonho, de participar de uma proposta eletiva, com a intenção de “gerenciar” uma cidade e, escolheu Foz do Iguaçu.
A divisão das águas
Logo se iniciaram vários movimentos em busca das candidaturas e tanto o General como o Paulo, disputaram a simpatia do governador Ratinho Júnior, mas em caminhos opostos. Paulo deixaria o Podemos para ingressar no PSD, e lá estava Chico Brasileiro, seu arque-rival; a opção foi o PP, de Ricardo Barros e Matheus Vermelho, contando com o PL do deputado federal Vermelho. Dizem que o primeiro tropeço foi exatamente um pouco antes. Se o Paulo tivesse optado em fazer uma aliança mais sólida com o PL, antecipando a escolha de um vice, no caso o saudoso Sérgio Beltrame, os cadarços teriam sido facilmente amarrados. Mas ele disse que “era cedo e só faria a escolha em julho ou agosto”. Beltrame faleceu em 28 de maio, e o que aconteceu foi uma desorientação geral. Sérgio era muito hábil quando o assunto era articulação.
“Bridge Over Troubled Water”
Como na canção, Paulo sabia que estava em uma ponte sobre águas turbulentas e acabou vivenciando uma ruptura traumática no PL e, de certa forma, com o entendimento do governador. Sentiu-se traído e largado observando o partido escancarar as portas para Silva e Luna, com o apoio de Fernando Giacobo e, o posicionamento de Jair Bolsonaro, curando as fissuras de um recente passado, entre ele e o General. O que parecia impossível, aconteceu. O destino de Foz do Iguaçu parecia ser jogado em uma mesa de dados, e, a população começou a se dividir.
Perfis diferentes
Paulo Mac Donald, aparentemente, não tinha com o que se preocupar, porque apresentava números muito fortes nas pesquisas, mais de 30 pontos de vantagem; sentia-se inatingível e inabalável. Mas do outro lado, o General não se intimidou e iniciou a peregrinação nos bairros, localidades, buscando apoio de partidos, empresários e aliados disponíveis, usando de todas as armas e artifícios para lidar com a desvantagem. Em junho, os números do oponente Paulo pareciam muito sólidos e impenetráveis.
Os desatinos
Quem esteve atento aos movimentos, viu o mapa das articulações. O General Silva e Luna convergiu, tentou por todos os lados somar partidos de “direita” e “centro”. Paulo, por sua vez, foi mais seletivo e quem diria, no processo de escolha de um vice, conseguiu divergir, como ignorasse a matemática, sabendo que a maioria do eleitorado era Bolsonarista. Por isso, se afastou dos partidos de esquerda e até mesmo gente de centro. Muitos hoje perguntam: “se Paulo formasse uma frente ante General, conseguiria vencer?” É impossível saber, porque quem o derrotou foi a abstenção, mesmo sofrendo ataques abaixo da cintura, do tipo “se ganhar não vai levar”, mais de 50 mil votos, ou 24,49% não entraram nas urnas. Dos mais de 200 mil eleitores, 154.298 votaram, ou seja 75,51%. General conseguiu 50,14% dos votos, batendo o recorde de votação, alcançando os 73.522 votos.
O vice, de novo
A escolha de um vice, em geral, não deveria ser tão latente, mas foi para Paulo Mac Donald, que poderia contar com outros partidos em sua empreitada. Em apenas um dia, quatro nomes foram negociados, Ney Patrício, Deoclécio Duarte e Kalito Stoekl. Ele optou pelo Thiago Kodama, de um partido que já estava entre os aliados. Os não preteridos acabaram debandando com suas legendas, engrossando a campanha de Aírton José, que tiraria votos de apenas um candidato: Paulo. E, mesmo sabendo disso, nada fizeram para evitar o desastre.
Ovo e galinha
Se as campanhas não perdessem tanto tempo com os ataques pessoais, pode ser, a população comparecesse mais e isso poderia engrandecer a disputa. Se isso mudaria o resultado, são outros quinhentos. A primeira grande balançada no coreto foi alguém fustigar a vida do General e revelar que havia um filho fora do casamento, por meio de uma montagem aparentemente tosca. Paulo tentou de todas as maneiras desassociar a sua imagem do que seria um “escândalo”, mas era ele o concorrente direto do General e isso mexeu e muito com a “direita”. Naquele exato momento, em julho, segundo o espectro de pesquisas, Paulo possuía 53,7% das intenções de voto, contra 13,7% do General Silva e Luna. Por sua vez, Mac Donald concentrava 56,7% dos eleitores considerados de “esquerda”, 62,9% de “centro” e, 56,3% de “direita”. O General, lutava para elevar o apoio na “direita”, que não ultrapassava 21,4%.
Mudança de ares
O candidato da “direita”, o General, por sua vez, antes de sofrer o ataque, se mostrava muito nervoso toda a vez que participava de entrevistas, debates e parecia trancado ao se pronunciar. Mas a provocação resultou em uma reviravolta de postura e também nos números, embora isso jamais seja admitido pelos adversários. O que aconteceu é que a brincadeira de um blogueiro fez Silva e Luna sangrar pelos olhos, colocando a faca nos dentes. Ele mudou completamente a postura e passou a se comunicar diferente, seguro ao que dizia aos eleitores. O resultado foi a adesão quase que imediata das intenções de voto da “direita”, que antes eram sólidas em favor de Paulo.
Crescimento incontido
Outros fatores certamente favoreceram o General Silva e Luna, que, mesmo na condição de estreante, soube comandar uma máquina eleitoral robusta, sem dó e nem piedade dos adversários, a esta altura, pulverizados em seis candidaturas, o que no fim, pesou como uma enorme diferença contra o Paulo. Na pesquisa que se seguiu, em agosto, os votos da “direita” migraram quase todos em favor do General e perfizeram a diferença no resultado eleitoral. Bom, contra números é difícil encontrar argumentos.
O frigir da caçarola
Agora não há mais como os adversários recolherem o leite derramado. Acabou-se o que era doce. O General Silva e Luna venceu todas as expectativas do seu principal adversário. Paulo tem todo o direito de analisar o pleito ao seu modo, e precisa reconhecer que não foi bem na disputa, sem conseguir driblar o principal oponente. O General lanchou o Mac Lanche Feliz na noite do domingo e agora é o prefeito eleito. Fim de conversa. Paulo deve ter em mente que é um grande cara, possui uma obra que sempre será lembrada e, possui ainda, muito a colaborar com a cidade que tanto ama, da qual não se cansou de fazer declarações apaixonadas a cada segundo. Foz sempre lhe será grata, mas partiu para outros rumor e ares.
General sabe…
…que não será fácil encarar o rojão, mas, enfim, o CEO superou o processo de seleção e foi contratado como o gerente da cidade nos próximos anos. Irá lidar com um aparato de parafusos soltos e em várias frentes emperrado, por isso terá que correr para azeitar as engrenagens e sem metáforas, usar da humildade – que lhe é uma virtude – para conversar com o governo Federal, Itaipu e cobrar do governo Estadual todas as promessas de parceria. Precisa ainda trazer para o seu lado pessoas fundamentais para um bom exercício administrativo, mesmo que seja por tempo pré-determinado, porque nesta segunda-feira, começou a eleição de 2026.
Na política
Silva e Luna fez a barba, cabelo e bigode, elegeu maioria expressiva na Câmara e deve iniciar o governo com tranquilidade, manejando o Orçamento de 2025, que ainda está sendo tratado pela atual legislatura, desancada pela renovação. Vamos lembrar que a Câmara manteve apenas quatro vereadores e mudou 11 componentes. O governo eleito pode muito bem fazer uma aproximação e garantir que os recursos pré-aprovados obedeçam a ordem das prioridades. A Câmara informou, nesta segunda-feira, que precisa enviar o Orçamento até o dia 15 de outubro. A LDO do Poder Executivo, projetou-se em princípio, com um valor global de R$ 2,1 bilhões, sendo R$1,74 bilhão para o orçamento fiscal e R$ 333,5 milhões para o sistema de previdência dos servidores.
Urgências
As pastas que aparecem com as maiores dotações, como sempre, são a Saúde e a Educação, com a projeção de um aumento para 2025. A saúde consta com R$ 508 milhões, um acréscimo de 6,78% em relação a 2024; e na Educação, uma estimativa de R$ 417,7 milhões, 13,33% a mais que o valor atual. Nas previsões, também aparece um aumento no orçamento para os setores da segurança pública, assistência social, esporte e lazer, obras e meio-ambiente. Começou o trabalho, bora arregaçar as mangas General, vai que é tua.