Projeto da Itaipu transforma produtos contrabandeados em combustível limpo

Produtos apreendidos pela Receita Federal como feijão, milho, leite em pó e azeite de oliva estão ganhando destino inusitado no lado brasileiro da usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Por meio de uma parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), os alimentos contrabandeados ou introduzidos ilegalmente no país estão sendo convertidos em biogás, biometano e até insumos para combustíveis de aviação sustentáveis.

A iniciativa é parte de uma articulação entre Itaipu Binacional e diversos órgãos federais, como a Receita Federal, a Polícia Federal e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para dar novo destino a produtos que seriam inutilizados após apreensão. No lugar do descarte, os insumos viram energia renovável e ajudam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A biousina instalada dentro do complexo de Itaipu opera desde 2017 e tem capacidade para processar até 1 tonelada de resíduos orgânicos por dia. Atualmente, são transformados cerca de 500 quilos de sobras diariamente, volume que já soma mais de 600 toneladas em sete anos.

Entre os produtos já processados estão 22 toneladas de leite em pó da Índia, 75 toneladas de cacau da Tailândia, 9 mil litros de azeite, além de farinha, café, açúcar, vinho, batata, óleo e chicletes. O material é triturado e fermentado em tanques vedados, onde ocorre a biodigestão, processo em que a matéria orgânica se decompõe e gera biogás e biofertilizante.

Segundo o diretor de Estratégias de Mercado do CIBiogás, Felipe Marques, mais de 400 tipos de resíduos já foram mapeados com potencial energético. “O biometano sendo usado para substituir diesel causa um impacto muito grande em termos de redução de emissões”, afirma.

Geovani Geraldi, integrante da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do CIBiogás, explica que o processo exige controle preciso da composição da mistura de resíduos para garantir a qualidade do gás gerado. “Farinha produz muito biogás, mas não tanto assim de metano. Então, eu preciso dosar a farinha com mais calma do que azeite de oliva, que produz muito biogás e é rico em metano”, detalha.

A biousina já gerou 41,3 mil metros cúbicos de biometano, quantidade suficiente para abastecer veículos do complexo e o ônibus de turismo da usina por mais de 484 mil quilômetros. A produção diária alcança 200 m³ de biogás e 100 m³ de biometano, o suficiente para abastecer até dez carros por dia.

Além do uso interno, os gestores estudam ampliar o alcance da energia produzida. A Petrobras já demonstrou interesse em adquirir o biometano. “Eles estão bem engajados em termos de usar biometano e impulsionar o mercado de biometano no Brasil”, afirma Marques.

Outro produto promissor que surge da biodigestão é o bio-syncrude, um óleo sintético que pode ser refinado para originar o SAF (Combustível Sustentável de Aviação). Desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o SAF tem potencial para substituir o querosene de aviação tradicional com grande redução nas emissões.

Itaipu planeja levar a demonstração do bio-syncrude à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em novembro em Belém (PA). Além do combustível limpo, a biousina ainda produz biofertilizantes que são utilizados na irrigação de áreas degradadas e jardins internos do complexo.

Ao transformar resíduos ilegais em energia limpa, Itaipu cria um ciclo sustentável e inovador que reaproveita perdas do sistema aduaneiro brasileiro para abastecer veículos, impulsionar pesquisas e reduzir o impacto ambiental.

 

  • Da redação com Bruno de Freitas Moura/Agência Brasil

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