Itaipu Binacional avalia construir duas novas turbinas para atender o consumo paraguaio
O aumento acelerado do consumo de energia no Paraguai, impulsionado por data centers de inteligência artificial e mineração de criptomoedas, reacendeu o debate sobre a expansão da Usina Hidrelétrica de Itaipu. A direção da binacional estuda a construção de duas novas turbinas geradoras, que poderiam elevar em cerca de 10% a capacidade instalada.
Atualmente, Itaipu opera com 20 unidades geradoras, responsáveis por 9% da energia consumida no Brasil. Há espaço físico para mais duas turbinas na estrutura da barragem, localizada no Rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Hernandárias. O diretor-geral brasileiro, Enio Verri, admite que a expansão será inevitável, mas condiciona o projeto a estudos técnicos, sociais, ambientais e de viabilidade econômica, além de aprovação conjunta dos governos e parlamentos de Brasil e Paraguai.
“Estamos agora com a nossa equipe dando uma olhada nisso”, disse Verri a um grupo de jornalistas em visita às instalações da usina. Ele ressaltou que o aumento no número de turbinas não significa necessariamente o mesmo percentual em ganho de geração, já que a produtividade depende do modelo de equipamento e da tecnologia utilizada.
O interesse paraguaio em consumir toda a energia a que tem direito pressiona a discussão. Desde 1985, o excedente do país é vendido ao Brasil a preço de custo, conforme previsto no tratado binacional. Mas a Administradora Nacional de Eletricidade do Paraguai projeta que, até 2035, o país atingirá 50% do consumo total de Itaipu. Somente no ano passado, a demanda paraguaia cresceu mais de 14%, segundo o diretor-técnico paraguaio, Hugo Zárate.
Entre os fatores que ampliam a procura estão os incentivos para instalação de servidores de IA e a intensificação da mineração de criptomoedas, atividades altamente dependentes de energia elétrica. Além disso, a partir de 2027, o Paraguai poderá destinar seu excedente a qualquer mercado, inclusive vendê-lo para terceiros, o que deve reduzir ainda mais o volume de energia disponível ao Brasil.
A potência atual de Itaipu é de 14 mil megawatts, sendo 700 megawatts por turbina. Se a expansão for aprovada, o financiamento deve vir de instituições de fomento como Banco Mundial e BNDES, com pagamento diluído em taxas na tarifa de energia. Verri pondera, no entanto, que o projeto ainda não tem viabilidade econômica imediata. “Estamos discutindo só a data em que estaremos maduros o suficiente para esse investimento. No setor de energia não existe curto prazo”, afirmou.
A possibilidade de elevar em um metro o nível do reservatório, ampliando a área alagada, é outro estudo que tramita paralelamente, mas não está diretamente vinculado à construção das novas turbinas. “Hoje não é como na ditadura militar, quando Itaipu foi iniciada. Existem comunidades, questões ambientais e sociais a serem consideradas”, disse Verri.
Mesmo com a perspectiva de maior consumo paraguaio, o diretor avalia que a matriz brasileira está mais diversificada, com crescimento das fontes intermitentes, como solar e eólica, especialmente no Nordeste. “Não me parece que seja um grande problema”, concluiu.
- Da redação com ABr
- Foto: – Tânia Rêgo/Agência Brasil