“A língua portuguesa não tem dono”, diz José Luís Peixoto
O escritor português José Luís Peixoto participou da abertura oficial da 19.ª edição da Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu. O evento contou com a presença do diretor-presidente da Fundação Cultural, Juca Rodrigues; da secretária de Educação, Justina da Silva; e, representando o prefeito, o secretário de Transparência e Governança, Nilton Bobato.
“É uma honra termos mais um ano de Feira do Livro em nossa cidade, sabermos que projetos como o Vale-Livro persistem. Vivemos num mundo tão digital, e o livro surge como um objeto de resistência. É ele que nos dá ideias e pensamentos para que possamos mudar nosso meio”, disse Rodrigues.
O acesso à literatura pela distribuição do vale-livro também foi reverenciado por Justina como ferramenta de paridade. “Crianças de todas as classes sociais têm acesso ao vale-livro. São elas quem escolhem os livros que desejam ler.”
Bate-papo
A noite foi marcada pelo bate-papo entre os escritores convidados: José Luís Peixoto, um dos mais expressivos autores da atualidade, e o premiado autor e editor brasileiro Rodrigo Lacerda.
Além de tratar sobre o lançamento de Abraço, Peixoto falou sobre estar no Brasil e reconhecer o poder da língua portuguesa. “Todos ganhamos com o contato com a língua portuguesa, porque há diferentes dimensões em comparação a outros idiomas. Aqui no Brasil, há essa identidade que se mantém na sua diversidade. O país é imenso e múltiplo. A língua portuguesa não é dos portugueses. Não são os donos dela. Quem fala português é dono da língua portuguesa.”
Peixoto mencionou reconhecer vínculos e evoluir ao “colecionar informações”, pois “quanto mais sabemos de um lugar, mais temos nitidez e mais representatividade conseguimos ter. Isso é muito bonito e valioso”.
O escritor ainda frisou a importância das relações e incluiu a realização das feiras de livros como momentos oportunos para a troca. “Encontros como este têm a qualidade de aproximar as pessoas da escrita e da leitura de várias formas. Quando há oportunidade de aproximar autores, é uma maneira de desmistificar a própria escrita e a leitura.”
Rodrigo Lacerda, por sua vez, confirmou que o estímulo à leitura é a base da democracia. “Na medida que estimula, você a enxerga com outros olhos que não os seus, com pontos de vistas diferentes dos seus através dos personagens, dos poemas, das histórias que se lê. A democracia exige que você desenvolva essa capacidade de entender os argumentos dos outros, olhar o mundo com olhos diferentes dos seus, não necessariamente aderir a elas, mas você precisa ser capaz de respeitar, e isso é um treinamento que a gente precisa fazer.”
Música
Durante uma das primeiras ações descentralizadas, o músico congolês Wugala Flama esteve com parte de sua equipe na Escola Estadual Cataratas e levou uma oficina para produção de rap.
“A música em si, antes de ser uma arte, é uma forma de comunicação e faz parte da nossa vida, porque o Universo é melódico. Quando se relaciona o rap, que é instrumento de mudança, os mais novos se encontram”, ressaltou.
A oficina empolgou os mais de 50 alunos do nono ano que acompanharam a atividade. Ashley Monique da Silva Santos, 15 anos, arriscou um improviso e foi aplaudida pela turma. “Foi o que veio na ponta da língua, gaguejei no começo, mas depois saiu. Eu fazia letras quando era mais nova, mas só hoje tive coragem de dizer.”
A diretora Vanilde Sangal elogiou a iniciativa. “A música sempre enche os espaços de alegria. E eles poderem participar disso é muito importante.”
O show de Wugala Flama acontece hoje (7), às 16h na Fundação Cultural.
A programação da Feira do Livro segue até domingo, 10 de novembro, com atividades diárias a partir das 9h.
A Feira do Livro é uma realização da Prefeitura de Foz do Iguaçu, por meio da Fundação Cultural, da Biblioteca Municipal e das secretarias municipais de Educação e de Turismo e Projetos Estratégicos.
- AMN