Sindicato dos Professores da Rede Municipal reage à retirada de livros de inglês das escolas
“Não podemos cair em armadilhas de interpretações completamente fora do contexto e transformar a Educação de Foz do Iguaçu em uma subserviência de determinados grupos políticos, nem aceitar que a Secretaria Municipal de Educação compactue com essas práticas”, defende o Sindicato dos Professores e Profissionais da Educação da Rede Pública Municipal de Foz do Iguaçu (Sinprefi), em Nota de Repúdio emitida ontem (02).
A manifestação foi assinada pela presidente do sindicato, Viviane Dotto, e é um ato em defesa dos professores do município. A nota foi publicada depois que dois vereadores de Foz do Iguaçu postaram, em redes sociais, vídeos contestando o conteúdo do livro de Inglês usado no contraturno e acusaram professores de doutrinação. Além disso, um dos vereadores ofendeu os professores, chamando-os de “estelionatários intelectuais”, entre outras coisas, em comentários da postagem. A secretária de Educação, Silvana André, emitiu Memorando Interno determinando o recolhimento dos livros, numa atitude considerada arbitrária pelos dirigentes do Sinprefi.
No vídeo que publicou nas redes sociais, o vereador Bosco Foz alega que uma figura em que aparecem duas meninas dialogando, em inglês, estaria “promovendo confusão na cabeça das crianças e induzindo a sexualidade precocemente”. O vereador Ranieri também se manifestou nas redes sociais afirmando: “Questões de gênero são de responsabilidade e decisão dos pais. É inadmissível que as escolas sejam utilizadas para doutrinação das crianças.”
Ocorre que essa leitura de um recorte do conteúdo gera julgamento parcial e tendencioso, com interpretação rasa e perspectiva distorcida. “O que está havendo é que estão tratando o Valentine´s Day como se fosse o Dia dos Namorados do Brasil e não é a mesma coisa”, lamenta a professora de Língua Inglesa da Escola Municipal Getúlio Vargas, Denise Vidal. O diálogo consta no capítulo sobre Valentine´s Day, no livro de Inglês usado nas turmas de contraturno do projeto “Inglês nas Escolas”, iniciado em 2022, para alunos do 4º ano. O conteúdo explica que essa é uma data comemorativa de países de Língua Inglesa, como Estados Unidos e Canadá.
O próprio livro contextualiza: “As pessoas do mundo inteiro enviam cartões que chamam de Valentines para celebrar este dia especial. No Valentine’s Day, mostramos nosso amor pelos nossos amigos e familiares com presentes e cartões.” “Eu já morei fora do Brasil e vivenciei a data do Valentine´s Day dentro de escolas, enquanto professora também, e estou preocupada com a posição perigosa em que os vereadores estão nos colocando diante dos pais com as falas que estão fazendo”, afirma a professora de Inglês, Denise Vidal.
As publicações infundadas geraram uma onda de comentários incitando ódio e violência. Vários professores procuraram o Sinprefi relatando que estão se sentindo ameaçados e em risco. O sindicato que representa os professores encaminhou ofício à Secretaria de Educação solicitando quais análises foram feitas antes do recolhimento do material. O Sinprefi também irá tomar as medidas judiciais cabíveis, além de acionar a Câmara de Vereadores para que investigue possível quebra de decoro parlamentar por parte dos vereadores, por ofensas aos servidores e abuso de prerrogativas ao exigir a retirada do material didático, sem sequer ter um parecer pedagógico ou da Comissão da Educação, Conselho Municipal ou outro órgão.
O Sinprefi apura, ainda, denúncias de que essas atitudes protagonizadas pelos vereadores e pela Secretaria de Educação de Foz do Iguaçu tenham sido tomadas de forma proposital para forçar a substituição do material bilingue usado pelas escolas do município, gerando gastos abusivos aos cofres públicos. O objetivo seria beneficiar uma editora de livros que promoveu evento na semana, no estado do Alagoas, com participação da secretária de educação e outros servidores da secretaria.
“O projeto do ensino da Língua Inglesa foi uma proposta necessária, no contexto de cidade turística”, afirma a presidente do Sinprefi. De acordo com ela, não é aceitável deixar que ‘cortinas de fumaça’ tentem inviabilizar e tirar o foco de outras questões realmente verdadeiras, como: a falta de estrutura nas unidades escolares, a necessidade de ampliação da Educação em Tempo Integral, a construção de novas unidades de Educação Infantil, contratação de profissionais por concurso público, salário digno para merendeiras e motoristas, o não pagamento do reajuste do Piso Nacional do Magistério em sua integralidade, entre outros.
- AI Sinprefi
- Foto Izabelle Ferrari