Foz pode economizar até R$10 milhões com a troca de fontes de energia tradicionais pelo uso de biogás
Uma pesquisa inédita desenvolvida na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) aponta que Foz do Iguaçu poderia economizar até R$ 10 milhões por ano ao substituir fontes tradicionais de energia, como derivados de petróleo, pelo uso de biogás gerado a partir de resíduos urbanos. Além da economia, a cidade teria um aumento de 2,06% na eficiência energética, um avanço estratégico para reduzir desperdícios e impulsionar políticas ambientais.
O estudo analisou a eficiência termodinâmica de sete cidades do Oeste do Paraná, calculando o potencial de inovação na produção e uso de biogás. Para isso, os pesquisadores aplicaram o Método Termodinâmico para Análise de Cidades Contemporâneas, criado pelo Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da UNILA, integrante do programa Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI-Oeste), mantido pela Fundação Araucária.
Segundo o professor Ricardo Hartmann, idealizador do método, a ferramenta permite comparar numericamente a eficiência energética entre diferentes municípios. “Muito se fala sobre cidades inteligentes. Todo mundo quer ser eficiente, quer entregar mais resultados gastando menos energia. E isso não existia para as cidades. Nós utilizamos uma analogia de comparação com máquinas térmicas, motores, ar-condicionado, porque isso é o que todo mundo conhece”, explicou.
Ineficiência energética e calor excessivo
Hartmann destaca que o potencial de economia é maior em Foz do Iguaçu porque o município é considerado “muito ineficiente” do ponto de vista energético. “Desperdiçamos muita energia com o uso do ar-condicionado. Uma energia que não pode ser reutilizada”, afirmou. O pesquisador reforça que soluções arquitetônicas, como edificações sustentáveis, são fundamentais para mudar esse cenário. Um exemplo é o projeto Ombo’éva: Green Smart Building, que será construído na UNILA com o conceito Nearly Zero Energy Building (NZEB), edifícios que praticamente não demandam energia externa.
Além de Foz do Iguaçu, a pesquisa mapeou os padrões de consumo energético de cidades como Cascavel, apontada como um hub logístico com grande dependência de óleo diesel. No município, a adoção do biogás poderia gerar uma economia potencial de R$ 12,8 milhões ao ano.
Como funciona o método
Para chegar aos cálculos, foram avaliados oito setores econômicos (residencial, industrial, comercial, serviços, rural, poder público, iluminação e serviços públicos) e o consumo de cinco combustíveis – etanol hidratado, gasolina comum, óleo diesel, GLP e querosene de aviação. A partir desses dados, os pesquisadores calcularam um índice de eficiência para cada cidade e simularam os impactos de substituir combustíveis fósseis pelo metano (biogás).
“Com isso, foi possível calcular o ganho financeiro que seria possível obter em cada cidade com a utilização do biogás, que é um combustível renovável”, explicou Hartmann. “Os resultados são importantes também porque trazem um valor financeiro que cada cidade poderia economizar com a utilização dos resíduos urbanos para produção de bioenergia, sendo, então, uma importante ferramenta para planejamento urbano, aumento de eficiência energética e melhoria ambiental das cidades.”
Ferramenta para qualquer cidade do mundo
Criado em 2012, o método ganhou reconhecimento internacional em 2022, com a publicação de um artigo em uma revista científica de relevância global, assinado por Hartmann e pelo professor Luis Evélio Garcia Acevedo. A inovação está na adaptabilidade: o cálculo pode incluir ou excluir setores econômicos, fontes de energia e especificidades locais.
“A vantagem é que ele pode ser aplicado para qualquer cidade, não importa o que ela produza. É como se fosse uma chave. Se aparecer uma especificidade, é só inserir para o cálculo”, afirmou Hartmann. O método já foi usado para comparar cidades brasileiras como Florianópolis e Foz do Iguaçu, além de localidades internacionais como Ingolstadt (Alemanha), Singapura e o Arquipélago do Havaí (EUA).
Outra vantagem é a agilidade. A análise utiliza dados públicos, permitindo que qualquer pesquisador avalie diferentes municípios sem necessidade de deslocamento ou parcerias complexas. “Podem ser feitas simulações para encontrar o melhor caminho para determinada cidade, para a apresentação de projetos em órgãos financiadores”, destacou Hartmann.
Ferramenta estratégica para ESG e cidades inteligentes
Além de mapear o potencial econômico, a metodologia combina análises termodinâmicas, ambientais e socioeconômicas. Isso permite construir cenários de sustentabilidade, auxiliar na gestão pública e servir como referência para compliance ambiental e estratégias de Environment, Social and Governance (ESG).
A proposta vai além da economia imediata. Ao priorizar o uso de resíduos urbanos como fonte de energia, os municípios também avançam em metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e em políticas de cidades inteligentes. “A cidade deixa de consumir petróleo e passa a consumir metano, que pode ser utilizado em restaurantes ou no transporte coletivo”, exemplificou Hartmann.
- Da redação com UNILA
- Foto: Kiko Sierich/PMFI