Foz do Iguaçu tem mais de mil alunos internacionais na educação municipal

Um mapeamento inédito realizado pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) identificou 1.154 estudantes internacionais matriculados na rede municipal de Foz do Iguaçu em 2023. O levantamento abrangeu 49 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e 50 Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs), que juntos atendem aproximadamente 27 mil alunos.

A pesquisa faz parte de um projeto de extensão da UNILA coordenado pelo professor Ariel Matías Blanco e foi conduzida em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. O levantamento mostra um crescimento expressivo em relação ao primeiro estudo, realizado em 2019, que identificou 442 estudantes internacionais. Além do número, chama atenção a diversidade: são 15 nacionalidades diferentes nos CMEIs e 24 nas EMEFs.

“Há uma tendência marcadamente ascendente no que tange ao ingresso de estudantes internacionais. Nós já esperávamos um grande número de estudantes, mas não tínhamos a dimensão da diversidade de línguas e nacionalidades declaradas tanto pelos pais ou responsáveis quanto pelas próprias crianças”, afirma Blanco.

De acordo com o relatório, são considerados internacionais não apenas os migrantes, mas também alunos que vivem em cidades paraguaias ou argentinas próximas à fronteira e até brasileiros que estudaram fora e retornaram ao país. Em muitos casos, os estudantes são registrados como brasileiros pelas escolas, mas demonstram conhecimento de outras línguas, o que exige atenção especial no processo de ensino.

“As escolas registram como brasileiros, mas, ao observar a trajetória escolar, percebemos que eles trazem repertórios linguísticos diversos. Para o processo de aprendizagem, isso precisa ser considerado”, diz Blanco.

Nos CMEIs, a maioria é formada por crianças venezuelanas (101), seguidas por paraguaias (94). Já no ensino fundamental, os paraguaios são maioria (353), seguidos pelos venezuelanos (337). O CMEI Ramona Rodrigues Dotto é o que mais concentra alunos internacionais na educação infantil (27), enquanto a EMEF Professora Elenice Milhorança lidera no ensino fundamental (56).

O mapeamento também identificou a presença de bilíngues e multilíngues. Entre as crianças da educação infantil, 32,6% falam duas línguas, sendo português e espanhol a combinação mais comum (31,1%). No ensino fundamental, esse índice sobe para 40,95%, com a mesma predominância, mas surgem outras línguas, como guarani, árabe, inglês, crioulo, bengali, russo e alemão. Crianças trilíngues representam 1,98% dos alunos, com destaque para as combinações entre espanhol, guarani e português.

Segundo Blanco, a subnotificação de línguas minorizadas, como o guarani, ainda é um desafio. “Muitas vezes, os pais evitam declarar determinadas línguas, por receio de preconceito. Isso é uma questão histórica que ainda precisa ser enfrentada.”

Outro dado importante é que mais de 80% dos alunos internacionais e 85% dos seus responsáveis dominam o espanhol, fator que pode orientar políticas linguísticas e pedagógicas.

Embora os alunos internacionais representem menos de 5% da rede, Blanco destaca que o número absoluto é expressivo: 1.154 alunos equivalem à média de duas escolas completas. “Mesmo sendo uma população pequena, é fundamental garantir políticas de acolhimento e inclusão”, diz.

Para ele, iniciativas pontuais, mesmo bem-intencionadas, não são suficientes. “Não podemos depender apenas da boa vontade de uma diretora, de uma professora. Precisamos de projetos coletivos, formação continuada e planejamento institucional.”

O relatório, segundo o pesquisador, é um ponto de partida. A expectativa é que os dados sirvam para orientar ações pedagógicas, fortalecer práticas de acolhimento e fomentar políticas públicas que considerem a complexidade linguística e cultural desses estudantes e suas famílias. “O desafio agora é fazer com que essas informações não fiquem apenas no papel, mas sirvam à comunidade escolar.”

  • Da redação com UNILA

 

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