No Bico do Corvo

Na política

Toda a tensão desaba no Senado da República, na escolha do presidente da Casa. A queda de braço vai resultar em oxigênio no aquário bolsonarista. O mesmo poderá ocorrer na Câmara. Vamos ver até onde o Lula melhorou o jogo de cintura política, uma vez que é ele mesmo quem articula boa parte dos movimentos.

Acomodação

No Paraná há muitas conversas sobre a maneira que o governo deve encarar Lula, o PT e os aliados no poder. Ratinho quer manter um certo conservadorismo, mas se não se aconchegar, pode ter dificuldades em questões cruciais, como nos pedágios, por exemplo. Há setores do governo federal que olham para o sentido contrário.

Em Foz

Segundo disseram ao Corvo, há muitas conversas de bastidores entre a prefeitura e a nova mesa da Câmara. Dizem que um dos articuladores é o ex-presidente Ney Patrício, com trânsito liberado entre alguns oposicionistas. Chico está de olho nos estragos que podem ser causados por interferências externas.

Peregrinação

Depois de Chico Brasileiro, agora é a vez de outros políticos locais irem à Brasília para pedirem “apoios” aos seus pleitos. Nomes “prefeitáveis” como Nilton Bobato, ao que consta, já solicitaram agendas com figurões do novo Governo.

Baixo Clero

Além disso, outros petistas locais estão esperando uma “vaga”, como os ex-vereadores Fernando Duso e Dilto Vitorassi, além da ex-candidata Valentina. Já o ex-candidato Luiz Henrique assumiu a Direção Geral da Câmara, mas aguarda um chamado para rumar à Brasília. Há ainda quem diga que o PT local vai para o governo Chico e convites já estão sendo feitos para “avermelhar” ao menos duas secretarias.

Beija-a-mão

Agora que todo mundo já sabe que o próximo DGB é o petista Enio Verri começou a temporada de excursões até o centro executivo de Itaipu. Há quem já tenha armado barraca embaixo das árvores no perímetro do Gramadão. O curioso é notar a fila dos vira-casacas, ou seja, até ontem algumas pessoas eram bolsonaristas até debaixo d’água, agora começam a aparecer como “amigo do Enio” desde os tempos de criancinha. E será que dá para acreditar que as pessoas passam por trouxas assim, facilmente?

Mudança de ares

Há políticos que mudam como o vento e acham que isso funciona como na natureza, sem que haja problemas com a opinião pública. O problema é que os rentes embates ideológicos foram um tanto mais complicados do que em outras épocas, logo, é esquisito saber que alguém apoiava o Bolsonaro, pedia votos para ele e agora já quer saber de fazer aliança com o outro lado, como não houvesse nada errado. E não há, o “outro lado” pode até gostar dessas aproximações, porque precisa acabar com a tensão regional, que é em maioria bolsonarista. Mas será que os radicais vão gostar disso?

E o que importa?

Importa que essas pessoas pelo menos conversem e juntas, consigam desencalhar muitas coisas na cidade. O fato de trocarem opiniões já é um bom começo. Não se precisa vender a alma, mas olhar para a democracia com inteligência, é o comportamento que todo brasileiro precisa aprender.

As tarefas do Enio

Ele é um político astuto e apesar do apelido de “urtigão”, é muito competente no trato diplomático. A lista de comedimentos parece ser grande, porque sabe que as obras estruturantes são velhos sonhos comunitários, mas como gestor, se vê na obrigação de auditar, porque é assim que conhecerá o terreno em que vai pisar. Além das questões que fazem rotina no exercício de Diretor-geral da Binacional, há essa necessidade de pacificar a região, ouvindo os parceiros, mas também os adversários. Itaipu é bem maior que as rusgas políticas.

Os contratos

Essa “auditoria” que a nova direção de Itaipu pretende fazer, avaliará inclusive as dúvidas que pairam sobre pedidos de reajuste envolvendo obras como a Perimetral, onde dizem que alguns trechos estariam paralisados. O Corvo já ouviu vários argumentos dos empreiteiros. Parece que há ainda situações de desapropriações em curso e que emperraram em razão do final de ano. O que mais os iguaçuenses querem, é usar esses acessos.

Sem estrela, mas com pauta clara

Apesar de Ênio não andar por aí com a estrela vermelha no peito, há uma convicção de que Itaipu vai continuar tocando obras, mas vai também atender as demandas sociais dos municípios do Oeste, alinhando a usina aos discursos de Lula.

Merecedor

O Corvo ouviu alguns amigos e pessoas que já trabalharam ou mantiveram contato com Enio Verri. “Enio é um cara que tem o jeitão dele, foi assessor do Paulo Bernardo quando ministro e, quando exerci o mandato de deputado federal. Eu tratava os assuntos regionais com o ministro e com o Enio Verri, que no fim viabilizava as reivindicações. É um economista, um baita técnico, posso dizer que até mais que político, mas que possui uma senhora visão estratégica do Estado do Paraná, trabalhando o desenvolvimento de acordo com as potencialidades regionais. É o cara certo no lugar certo. Foi uma ótima indicação. Além do mais, é um cidadão sério, íntegro; uma pessoa em que se pode confiar; ele ganhou vida própria por mérito, por ser quem é e como é”. Foi o que disse Dilto Vitorassi. “Posso antecipar que Foz ficará muito feliz com o trabalho do Enio em Itaipu”, finalizou.

A bomba da vez

A grande mídia destaca e detalha algumas das transações de compra e venda de energia entre o Brasil e Paraguai. Trata-se de nitroglicerina da mais pura e destilada. Há um documento que mostra como a ANDE, a empresa que vende a energia excedente para o Brasil, manipularia a média anual de consumo, ou seja, vendendo muito mais do que realmente forneceu.

9 bilhões

Não se trata de uma conta pequena e sim um rojão que pode chegar bem próximo dos dez bilhões de reais, em procedimentos que são realizados fora do padrão desde 2018, pensa? Há um relatório de dezembro do ano passado que foi enviado aos DGBs, brasileiro e paraguaio, mas que só vazou no fim de semana.

O Tratado

Então, seo Enio Verri vai assumir Itaipu com esse rastilho de pólvora fumegante. Bom, como o imbróglio é criado pelos paraguaios, isso pode encher o Brasil de razão no momento em que for negociar para valar o Tratado do Anexo C. previsto para março/abril deste ano.

Postergado

A discussão deveria ser iniciada em março ou abril, mas possivelmente será adiada para o segundo semestre e a explicação é o fato de haver eleições no Paraguai. Antes de mudar de assunto, esse escândalo de compra e venda de energia já era tratado à miúde nos gabinetes; do lado paraguaio houve exonerações e pedidos de demissão em todos os escalões. Isso com certeza pode sobrar para o presidente Marito Abdo.

Como ninguém sabia?

Mas o caso é que muita gente sabia. Taí um dos problemas dos regimes onde a Lei é relegada ao segundo plano e a Constituição desrespeitada: as coisas são tratadas entre as autoridades no módulo “escondidinho”, até que alguém descubra, contrarie o sistema e meta a boca no trombone, sabendo que enfrentará consequências. De outra maneira, essas coisas se revelam também quando há mudanças no governo, como ocorreu recentemente. Ninguém quer a batata quente no colo.

A questão yanomami

O assunto está sendo tratado como “genocídio” por vários setores brasileiros e isso repercute imensamente na imprensa internacional. Então vamos entender: os indígenas foram gravemente afetados pela fome e doenças e a razão seria o tapar de olhos para facilitar o garimpo, ou não atrapalhar a atividade dos garimpeiros. As terras yanomamis foram sorrateiramente invadidas, construíram campos de pouco, devastavam matas e no uso do mercúrio e outras substâncias, poluíram os rios, contaminando a ictiofauna e também a água. Os peixes fazem parte do cardápio dos nativos, bem como plantios que foram devastados, o extrativismo natural comprometido e com as invasões, a caça desapareceu. A subsistência foi completamente alterada. Já não era fácil sobrevivência antes do garimpo, porque as florestas sofrem muito com as interferências climáticas. O resultado é dramático. Aí vem a pergunta: quem permitiu que isso evoluísse deve pagar a conta? O mundo acredita que sim.

Cada vez menor

Esses dias o Corvo ouviu pessoas conversando sobre política, água, natureza e em certo momento foi melhor colocar pedaços de papel do guardanapo nas orelhas, pagar a conta e ir embora. Algumas pessoas se referem aos indígenas, como deveriam ser exterminados, porque “nada produzem”; de outra maneira, as questões da Amazônia Legal, são compreendidas equivocadamente, como a vigília do mundo fosse puramente especulativa, pelo fato das “potencias desejarem repartir a floresta em vários pedaços”, num processo brutal de internacionalização.

 

“Veramente”

O problema é que a Amazônia precisa ser cuidada mesmo, do contrário, a devastação comprometerá todo o planeta. Não haverá essa invasão psicótica que habita a cabeça de muita gente, mas é por essas e outras que países como a Alemanha, França, Noruega e Estados Unidos investem em programas de recomposição. O mundo não é tão grande como antigamente e os desajustes estão a cada dia mais aparentes. Quem acredita que as saídas para salvar o planeta estão além dos nossos quintais, bairros, cidades, estados e países, pode ir se acostumando com a ideia que a saída é a união de esforços, no sentido de derrubar fronteiras e pensar que os recursos estão sendo exauridos. Ou o mundo avança, ou nos depararemos com a extinção. Apesar do crescimento populacional, não está errado avaliar que vivemos à beira da extinção.

 

Tudo mudado

Os nova-iorquinos estão com pulgas atrás das orelhas em razão da falta de neve. Vivem um dos períodos mais prolongados da história sem ver as ruas cobertas de branco. No Brasil é normal chover em janeiro e ver ambulâncias e caminhões de bombeiros socorrendo o povo, mas quem diria, surgiram as Cataratas de Nova Iguaçu, com água jorrando encostas abaixo. Dizem que está crescendo vegetação atípica até nas savanas africanas e regiões enfrentam tanto calor que os idosos morrem em pouco tempo.

 

Kiss depois de uma década

A Netflix está exibindo uma série muito bem elaborada e que trata do incêndio e todo o histórico jurídico que envolve os supostos réus, cerca de 28 e que foram apontados ao longo do processo. O Corvo “maratonou” no final de semana e assistiu a todos os cinco capítulos, cada um com cerca de 45 minutos. O elenco é muito bom e aí vale um detalhe, atores como Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, que não são gaúchos, realizam uma interpretação regionalista perfeita. “Todo o dia a mesma Noite; o incêndio da Boate Kiss”. A direção é do Gustavo Lipsztein.

 

“A mesma noite”

As cenas que tentam reproduzir o acontecido são impressionantes e isso nos faz deduzir, que a realidade foi muito pior. O ponto mais impressionante na narrativa é a persistência dos pais, famílias afetadas e sobreviventes. Caso não se dedicassem tanto, é provável que nem houvesse punibilidade, mesmo sabendo que a tragédia matou 242 jovens. A produção trata desde o dia do incêndio, até a atualidade, com a tensão que aguarda pelo julgamento que ainda não aconteceu.

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