No Bico do Corvo

Falando sério

Esta coluna é totalmente independente. Isenta em todos os aspectos. Descreve, analisa, contextualiza, publica o pensamento de todos, critica sem pender ideologicamente. Os profissionais que escrevem a coluna “No Bico do Corvo” são extremamente responsáveis, não toleram notícias falsas, tampouco estão sujeitos à indução. Nos últimos dias, no fervor político, recebemos várias mensagens de todos os tipos, desacatos, nervosismos, críticas e também vários elogios, por meio de textos assinados e também anônimos. Devemos destacar que tais manifestações surgiram dos dois lados que discutem o processo eleitoral.

Os dois lados

“Bolsonaristas” e “Lulistas”, ao que entendemos, também estão divididos em várias correntes de pensamento. Generalizando as partes, há os ponderados, os racionais, os analíticos, e, gente que gosta de discutir a política em nível decente, aquele que causa verdadeiramente as transformações. Mas lamentavelmente há os que preferem o radicalismo, o ódio, a intransigência, pois são movidos pela insensatez e munidos da intolerância. Isso não os levará a lugar algum. Sendo assim, preferimos nos comunicar com as cabeças pensantes, que acreditam na Democracia e nos poderes por ela emanados.   

Golpismo assumido

O fato é que a onda de pensamento golpista domina a cabeça de muita gente e parece que não se importam em expressar esse tipo de opinião. Se essas pessoas dissessem: “não queremos mais viver nesse sistema, ele não serve, é injusto, preferimos a ditadura, a monarquia, a anarquia”, não haveria problema algum. Trata-se da avaliação coletiva e isso deve ser respeitado. Diga-se, “muito respeitado”. No entanto, o problema parece ser outro: não aceitam o Lula, o resultado das eleições, porque passaram a desconfiar do STF, do STE e das urnas; o remédio para resolver a situação, é uma “intervenção militar”. 

A sociedade ordeira

É bem simples até. Quando a maioria se sente desconfortável com o sistema e quer realizar mudanças, convoca os poderes e trabalha um plebiscito. Segundo as opiniões mais recentes, isso só poderá acontecer por meio de uma constituinte. Mas é possível a os brasileiros não podem sentir “preguiça” de construir algo assim, que influirá na vida da Nação e de todos os cidadãos. 

A bagunça

Simplesmente não concordar com o pleito constitucional, rebelar a ordem, pedir golpe de Estado, sonhar com medidas autocráticas, absolutas como o AI 5, e, por fim, considerarem que uma intervenção militar é a solução, isso dá no mesmo que colocar a Constituição Federal na mesinha ao lado do vaso sanitário, no lugar do papel higiênico. Está errado. No mundo em que vivemos, depois de tudo o que superamos, atritos se resolvem no diálogo e não à base de rupturas.      

E para mudar?

“Todas as grandes mudanças legislativas no Brasil, a respeito de modo de governar e modo de escolha dos nossos representantes, deve aguardar o novo Congresso Nacional. E se necessário for, a convocação de uma assembleia constituinte apenas para discutir a reforma política. O que nós vimos recentemente foi que o Congresso se debruçou durante meses sobre temas que são fundamentais para o bem-estar e sobrevivência da democracia e os resultados ficaram muito aquém do esperado”, disse o ministro do STJ Herman Benjamin, durante um seminário internacional. Isso foi em 2017, passaram-se praticamente seis anos e nada aconteceu. Jair Bolsonaro no governo poderia ter trabalhado a questão, juntamente com o Congresso, mas ninguém moveu uma palha.

Sem suspeitas

Se o resultado da eleição fosse suspeito, Bolsonaro não teria autorizado o evento de Transição. Vários organismos internacionais e governos acompanharam o processo. Todos os partidos, sejam de situação ou oposição tiveram acesso ao sistema de votação, às sumulas das urnas, à verificação antes e depois da votação. Mesmo apertado, há milhões de votos entre o primeiro e segundo colocado; isso dificilmente se alterará, e menos ainda depois da diplomação dos eleitos, no início de dezembro. Há o detalhamento que está sendo realizado pelos militares. A coluna fechou antes da entrega do documento ao TSE, mas o trabalho segue a fundo, até janeiro e fevereiro. É uma análise técnica e não política.

Constitucionalmente falando…

O ideal seria amainarem os ânimos e fazer o Brasil voltar ao normal. Os insatisfeitos com o sistema devem trabalhar para que isso seja alterado, mas dentro dos parâmetros legais, nas “quatro linhas”, como sempre repete Jair Bolsonaro. Paralelamente a isso oposição precisa se organizar para enfrentar o governo que será a situação, a partir de 1º de janeiro, porque é assim que se faz alternância democrática. O PL, por meio de Valdemar Costa Neto já adiantou que fará oposição ao governo de Lula e segundo ele, Jair Bolsonaro comandará essa frente, que ainda está sendo montada. O partido possui a maior bancada, mas sabe-se que as divergências avançam e para variar, muitos membros negociam com o Centrão.

Seo Valdemar

Quem é ele? É bom lembrar, que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deputado federal por São Paulo durante seis mandatos, renunciou após ser condenado à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi julgado e condenado no escândalo do mensalão a sete anos e dez meses de prisão. Cumpriu pena em regime semiaberto e aberto e cumpriu o resto em casa, usando tornozeleira.

O papel nebuloso

Foi por meio de um decreto presidencial de indulto expedido em 2015, que o Valdemar se safou e, em 2016 o Supremo Tribunal Federal julgou extinta a sua punibilidade, concedendo-lhe a liberdade. Em suma, o presidente do PL é dono de um grande telhado de vidro. Muitos não acreditam nele. Neste ponto, vale ressaltar que ao longo da carreira foi aliado do governo Itamar, oposição ao governo FHC, apoiou o governo Lula, condecorado inclusive, por serviços prestados.

Negociação

Valdemar é um político muito hábil quando o assunto é realizar tratativas com aliados e adversários. Quem conhece bem o cenário imagina que ele esteja negociando também com Bolsonaro, mas não seria impossível ele conversar com o Lula e as pessoas que arquitetam o novo governo. Na terça-feira ele disse que reconheceria o novo governo após a análise dos militares. Acontece que há membros do PL que não concordam com isso o que seria mais um ponto de atrito nos anais do partido. Em todos os casos ainda é muito cedo para desenhar o que acontecerá no decorrer de novembro e dezembro.

Listas e listas

Todos os dias surgem dezenas de listas nomeando ministros do governo Lula. Se ainda não escolheram todos os participantes da transição, como vão nomear ministros de Estado? É brincadeira né? Sabemos que algumas figuras farão parte do governo, mas falta muita conversa até decidirem todos os cargos. A política muda com o vento e os ministérios e demais cargos estão na mira das negociações.

O PSD

Gilberto Kassab disse que é possível que seu partido se alinhe com o novo governo. Como acontece no PL, há pessoas conta e outras morrendo de felicidade. O PSD no fim das contas já está mais comprometido que o MDB. No meio dessa encrenca, como será que se comportará o Ratinho Júnior, governador do Paraná? É tudo muito rápido, até a semana retrasada ele estava no palanque do Bolsonaro.

Chico feliz?

Antes da eleição, o prefeito Chico Brasileiro pisava em ovos. Segundo uma fonte, ele teria dito que possivelmente Kassab conversaria com o Lula em caso vencesse as eleições. Acontece que é o estilo do PSD trabalhar com as escalas governamentais, levando em conta governos estaduais e prefeituras. Kassab foi prefeito e sabe a dificuldade que há em não poder contar com Brasília. Olhando para isso, Chico deve acompanhar o partido. 

A cada 14 dias

Lula fez tantas promessas em campanha que terá que cumprir cada uma delas no espaço de duas semanas, sem contar o domingo. Se acontecer um feriado prolongado, então, ferrou tudo! Como dizia o grande Fiori Gigliotti, “é fogo torcida brasileira”!

Bolsonaro apareceu

Ele teria dito ao Geraldo Alkmin: “Livre o Brasil do Comunismo”. Bom, o país precisa se livrar não só do comunismo, como de todos os extremos, do contrário, não se reorganizará.

Fechamento do comércio

Então, afinal de contas, quem baixou as portas para protestar? Segundo disseram ao Corvo, apenas uma loja da Avenida Brasil não abriu, mas não foi por adesão às manifestações e sim porque o turco teve um problema pessoal. Por outro lado, circularam memes hilários sobre o assunto. E alguém acredita que comerciante vai querer aumentar o prejuízo?

Lucratividade

A manifestação na Avenida República Argentina está alegrando os vendedores de rua; segundo uma informação, aumentou a produção artesanal de cocadas, sanduíches naturais, espetinhos dentre outros. A venda de água mineral e refrigerantes passou a ser um bom negócio, a começar pelo aumento da temperatura. Estão programando mais um churrasco no final de semana e o Corvo dessa vez não vai recusar o convite, mesmo correndo o risco de ser depenado e, assado.

Gal Costa

Que tristeza, o Brasil perdeu a Gal, incontestavelmente uma das maiores cantoras e personalidades da MPB. A notícia deixou o país de joelhos e conseguiu até apagar a névoa política, que foi do verde, amarelo, azul e branco ao cinza escuro pardacento. Gal conseguiu colorizar ao morrer, que façanha! Foi-se um dos nossos “doces mais bárbaros”, mas há um consolo que espantará um pouco a saudade: a voz, que será daqui em diante mais ouvida do que nunca.

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