Coluna do Corvo

Sem desculpas

A polarização já vinha provocando soluços democráticos no Brasil, e nem o tarifaço de Trump curou essa crise com susto. Paradoxalmente, talvez a sanção tenha sido um favor, ao expor a fragilidade do discurso ideológico vazio e reposicionar o foco nacional para algo mais relevante: competência. Não se trata mais de Bolsonaro ou Lula, e sim, do conjunto de escolhas equivocadas que nos conduziram à beira do vexame comercial. Quem souber ler esse momento, talvez reencontre o caminho da lucidez política.

 

Consequências e variáveis

Vivemos um efeito colateral da política. Não há como negar que o Brasil se arrasta com quatro anos de atraso na crise institucional dos EUA. Como lá, aqui também se perdeu tempo com narrativas ideológicas, enquanto o mundo mudava. Mas surge agora uma massa silenciada de brasileiros cansados de gritaria, que começam a pensar em estadismo e gestão. Essa é a chance rara de refundar o debate público em torno de competência e resultados.

 

O cerne e a casca

A crise comercial com os EUA expõe o abismo entre falação e prática. Enquanto União Europeia e Japão negociavam, o Brasil se afundava em narrativas. A declaração de Ratinho Jr., ao propor que o país pare de se comportar como vítima, foi um ponto fora da curva. Em vez de discutir Bolsonaro, o filho, ou o Lula, o foco deveria ser o prejuízo concreto, que só no Paraná pode superar US$ 1,5 bilhão. Quem propõe sair da política e entrar na diplomacia, merece ser ouvido.

 

Sobre Ratinho

Parte do bolsonarismo estrila quando Ratinho Jr. descarta a briga ideológica como prioridade nacional. Mas está certo. E talvez até a militância reconheça, em silêncio, que há coerência no que diz. Afinal, que país sério pauta sua política externa pelo humor de um ex-presidente enrolado com a Justiça? A fala de Ratinho vai ao centro da questão: precisamos de um Brasil que reaja como nação, não como torcida organizada. Isso é pensar grande.

 

E quem é o cara?

Conheci de perto todos os governadores recentes do Paraná. Jantei ou almocei (mais de uma vez) com Ney Braga, ri com Jaime Lerner, debati com Alvaro Dias, Roberto Requião e Beto Richa.  Nunca com Ratinho Jr. Nem o conheço pessoalmente. No início, parecia apenas mais um nome de herança midiática. Mas construiu uma trajetória sólida, discreta e altamente eficaz. Não sou um conhecido de gabinete, mas não posso ignorar: o piá pançudo –  me parecia ser assim no início – virou governador de respeito. E não apenas porque está lá, mas pelo que tem feito.

 

Oportunidade

Com a crise nacional escancarada, Ratinho Jr. aparece como um nome que não apenas simboliza mudança, mas representa gestão. Ao contrário de muitos, ele soube fincar realizações: acessos, pontes, hospitais, programas eficazes. Não são feitos de marketing, mas de obra pronta. Em Foz do Iguaçu, por exemplo, sua presença é constante nas soluções. Se decidir entrar no jogo presidencial, não o fará como novato. Possui uma bagagem de respeito.

 

A crise como espelho

O tarifaço impõe um teste de inteligência: reagir como nação ou como grupo ferido? Ratinho Jr. respondeu com realismo. Ele não apontou culpados, propôs saídas. E isso, em tempos de linchamento virtual, é quase uma heresia. Mas é também uma qualidade rara: a capacidade de tratar o país como problema coletivo, não como arena de UFC.

 

Sem bajulação

Este colunista não costuma fazer coro a hinos de campanha. E Ratinho Jr. não é infalível. Mas, ao longo dos anos, mostrou apetite por gestão, por números, por resultados. Não se meteu em polêmicas fúteis, não jogou para a arquibancada. Isso, em política, é quase milagre. É o tipo de perfil que o Brasil não apenas precisa — mas está começando a desejar.

 

Falar menos, fazer mais

Num país acostumado a palanques e frases de efeito, Ratinho Jr. adotou o caminho inverso: menos discurso, mais entrega. Pode parecer pouco, mas num ambiente político intoxicado por vaidades, isso é quase uma revolução. Governar é decidir, executar e medir.

 

O Paraná como vitrine

Historicamente, o Paraná foi visto como intermediário entre São Paulo e o Sul. Mas sob a gestão de Ratinho, o Estado ampliou o protagonismo em infraestrutura, logística e atração de investimentos. Começou a ser citado como exemplo em questões ambientais, de eficiência fiscal e planejamento regional. Uma vitrine que, com estratégia, pode se ampliar ao país. Bom, como o “supermercado do mundo”, está reclamando na medida exata frente ao tarifaço.

 

As dores do crescimento

Há resistências, claro. Há quem desconfie da imagem controlada, dos gestos – para muitos – pensados. Mas é melhor isso que a verborragia inconsequente. Política também é gestão de imagem. E Ratinho Jr. tem conseguido equilibrar isso.

 

O papel do Sul

O Sul do país já deu grandes figuras ao debate nacional, mas poucas com densidade técnica e política ao mesmo tempo. Ratinho Jr. pode ser essa síntese: jovem, experiente, bem-relacionado, com trânsito em vários setores e regiões. Não é salvador da pátria, mas é um nome que eleva o nível da discussão.

 

O desafio é o Brasil

Governos estaduais devem se preparar para a selva de Brasília. Os bons gestores são os que resistem mais tempo. O desafio de Ratinho Jr., se decidir ir além do Paraná, será traduzir gestão local em visão nacional. Compreender o Norte e o Nordeste, dialogar com o Centro-Oeste, traduzir seu modelo para outras realidades? Isso é possível? Sim. Fácil? Jamais. Mas nada foi muito fácil para ele. Em sua empreitada, no mínimo, acumulará aprendizado.

 

Para terminar, com realismo

O Brasil precisa de um maestro, não de um animador de auditório. De alguém que saiba ouvir, ler partitura, reger com harmonia e, se preciso, improvisar com sobriedade. Ratinho Jr., com todos os defeitos e virtudes, surge como um nome a ser levado a sério. E não por paixão partidária, mas por mérito político e técnico. É hora de olhar além dos sobrenomes e buscar quem realmente sabe governar.

 

  • Por Rogério Bonato

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