Coluna do Corvo
Caça aos fantasmas
Depois de décadas de alertas, dossiês secretos, recompensas milionárias e operações de inteligência dignas de filmes da Netflix, os “terroristas da Tríplice Fronteira” seguem tão visíveis quanto o Curupira no Parque Nacional. A CIA, Mossad, Interpol, MI-qualquer-número e até a Abin já reviraram tudo. Resultado? Nem um rojão de São João! O verdadeiro atentado que sofremos diariamente é contra o bom senso.
A base do absurdo
Anunciar uma base antiterrorismo em Puerto Iguazú para monitorar a Tríplice Fronteira é tão eficaz quanto instalar um para-raios no deserto do Saara. A desculpa oficial é combater “lavagem de dinheiro e financiamento ao Hezbollah”, como se os bancos internacionais não fossem capazes de rastrear até Pix feito para a sogra. E tem mais: se alguém acha que terrorista sério declara imposto ou tem firma aberta no Paraguai, precisa rever suas séries de espionagem. Além do mais, o princípio de uma ação dessas é o silêncio. Falam pelos cotovelos.
Quibe, faláfel e conspiração
A comunidade árabe de Foz do Iguaçu, especialmente a libanesa, uma das maiores fora do Líbano, segue sendo confundida com roteiro de filme ruim. Especialistas em tabule, comerciantes de longa data, vivem com a pulga atrás da orelha: por que sempre nós? A resposta é simples — geopolítica preguiçosa, preconceito embutido e um bom tempero de sensacionalismo midiático. Por favor…
Terrorismo high-tech com sotaque latino
A guerra moderna virou em drones, escutas, ciberataques e, claro, diplomacia inútil. Agora, a base antiterrorismo vem equipada com tudo — menos provas. Será um espaço dedicado à troca de informações, reuniões sigilosas e talvez uma boa parrillada aos sábados. Dizem que, se faltar suspeito, ao menos sobram bons vinhos mendocinos e vista para o pôr do sol no rio Iguaçu. Barbaridade!
Recompensa à moda americana
Ofereceram 10 milhões de dólares a quem denunciar transações do Hezbollah por aqui. Este colunista, por exemplo, até pensou em abrir “startup de delação”, mas desistiu ao lembrar que o único grupo organizado na região é bloco carnavalesco. O tal “financiamento ilícito” da célula terrorista só aparece nos relatórios do Departamento de Estado — mais confuso que explicação do consumo de energia elétrica.
Do Comando Tripartite ao Carnaval do medo
A tal reunião de ministros da segurança dos três países sul-americanos para reforçar o combate ao crime transnacional virou pretexto para a criação de mais um elefante branco, isso sim. A “base de inteligência” será, no fundo, um excelente posto de observação para fiscalizar… nada.
O que é um terror em Foz?
É o asfalto, com certeza. Os buracos na cidade são bem mais temidos que o Hezbollah. Dizem que há uma empresa se especializando em recolher pedaços de veículos vitimados. O que era um fundo de quintal já virou filial de ferro velho. Mas se tem alguém que entende de chão batido, base, sub-base e asfalto quente é o deputado Vermelho. Antes de ser político, ele já pavimentava estradas — literalmente. Agora, cansado de ver Foz do Iguaçu mais esburacada que queijo suíço, resolveu tirar da cartola uma solução que parece simples, mas exige um certo milagre político: unir prefeitura, governo estadual, federal e Itaipu numa grande aliança para recuperar nossas vias. Se der certo, já pode pedir beatificação. Se os buracos são o terror, não está errado escrever que o Vermelho se antecipo no antiterrorismo, antes que os governos e os gringos.
Tapar buraco virou arte
Em Foz, tapar buracos virou profissão regulamentada, com direito a calendário próprio e apostas sobre quanto tempo dura o conserto. Mas Vermelho não quer mais jogar cascalho na ferida — quer cirurgia definitiva! Sua proposta prevê obras de verdade, com asfalto que não se dissolve na primeira garoa, e projetos técnicos prontos para pescar os milhões disponíveis no Paraná. Foz só precisa fazer o dever de casa e parar de achar que a culpa é sempre da chuva.
Asfalto à prova de eleição
Enquanto muitos candidatos ainda tentam entender a diferença entre brita e emulsão, Vermelho já mandou R$ 5 milhões para a recuperação completa da Avenida Mário Filho — não é promessa, é empenho mesmo! E se conseguir alinhar Itaipu, Ratinho, Lula e o General no mesmo pacote de obras, vai provar que, além de pavimentador, é domador de feras. A cidade agradece e o turismo também: ninguém quer visitar Cataratas desviando de crateras marcianas, com poeira vermelha.
Acidente ou rally?
Em Foz do Iguaçu, cada trajeto é uma prova de resistência. Segundo os dados do Corpo de Bombeiros, os acidentes cresceram 25% no primeiro semestre, o que parece menos trânsito e pode ser campeonato de superar obstáculos. Foram mais de 1.200 ocorrências — colisões, tombos, capotamentos e até batida com “anteparo”, que é o jeito técnico de dizer “poste, muro ou caçamba que não saiu da frente”. A imprudência lidera, claro, mas há quem garanta que muitos acidentes ocorrem justamente quando o motorista tenta desviar da cratera, mas acerta outro veículo, vira equilibrista de duas rodas, rodopia, capota…
O prefeito que caiu em um buraco (e tenta sair dele)
Silva e Luna completou seis meses de governo e já pode se considerar veterano… em desviar da horta leguminosa. Apesar de apresentar um pacote de obras robusto, o buraco parece não sair da cabeça da população. E pensar que isso é herança…
Seis meses… e já querem inaugurar o futuro?
Os leitores desta coluna são daqueles que não deixam passar uma tampa de bueiro fora do lugar — e me pediram uma avaliação dos primeiros seis meses da gestão Silva e Luna. Pois bem: vamos com honestidade. O general-prefeito chegou prometendo uma administração técnica, eficiente e de resultados. E, justiça seja feita, tem tentado manter o rumo: articulou mais de R$ 500 milhões em projetos de infraestrutura, como trincheiras, avenidas, requalificação urbana e até revitalização de espaços como a Praça da Bíblia e o Bosque Guarani. No papel, a cidade já é outra. Só no papel. Na prática, deixando de lado o concreto betuminoso usinado a quente, é importante lembrar que na Saúde, o quadro é delicado: faltam médicos, sobram pacientes, e o Hospital Municipal opera no limite. A proposta de federalização e a ideia de uma nova unidade estadual mostram que há ambição e consciência do problema.
Paciência
Agora, sejamos justos: seis meses é quase um suspiro administrativo. Muitos ex-prefeitos levaram bem mais tempo só para encontrar a sala de reunião. O atual gestor, por sua formação militar e senso de comando, parece preferir o planejamento antes do improviso. A cidade está ansiosa, sim. Mas há sinais de que, atrás dos tapumes da burocracia, há obra a caminho. E isso já é um bom começo.
O Brasil que aposta… em não apostar
Cassinos no Brasil seguem como o disco voador: todo mundo já ouviu falar, alguns juram que viram, mas até hoje ninguém conseguiu provar. Pelo menos nas gerações recentes. O projeto que legaliza jogos travou mais uma vez no Senado, barrado pela união entre a bancada evangélica e a indecisão da base governista. Enquanto isso, países mundo afora enchem os cofres públicos com roletas, bingos, apostas esportivas e turismo de alto padrão. Aqui, seguimos rezando para não perder no bicho e na loteria, que é controlada pelo governo e não é pecado. Evangélico que nunca apostou na Sena que atire a primeira pedra.
Jogo é pecado, mas imposto não é milagre
A essa altura, a legalização do jogo no Brasil já virou um esporte nacional: ganha quem consegue adiar mais a votação. A cada tentativa de regulamentar o setor, surgem discursos inflamados sobre vício, demônio e desgraça — como se a realidade brasileira já não estivesse recheada de apostas bem mais perigosas, como o Fundão Eleitoral. A ironia é que o país legalizou as bets online, que rendem bilhões lá fora, mas trava cassinos físicos que gerariam empregos, impostos e turismo. Se fosse mesmo pecado, o inferno já teria fila na porta com senha para roleta. Mas por enquanto, seguimos jogando… fora a oportunidade.
Aborto de ideias? Não, obrigado.
A Câmara de Foz resolveu entrar em terreno delicado: o aborto. Não para legalizar, mas para propor a “Semana Municipal de Conscientização contra o aborto ilegal”. O projeto é do vereador Cabo Cassol, que ouviu de opositores que o tema não seria da alçada municipal. Ora, então vamos debater o quê? Nome de praça e voto de louvor? Se há um lugar onde o povo pode se manifestar diretamente, é na Câmara — e que bom que se discuta. Porque, convenhamos, muita gente tem opinião sobre o tema, mas raramente oportunidade de expressá-la fora das redes sociais ou do banco da igreja. Cassol pode até ser militar, mas não fugiu da trincheira — trouxe o debate para a arena pública. Ponto para ele.
Câmara em campo minado
A proposta de Cassol causou rebuliço: nove votos a favor, cinco contra, discursos inflamados e um punhado de nervos à flor da pele. O assunto é espinhoso, sim. Mas tentar interditar o debate é mais perigoso do que o próprio tema. A vereadora Valentina pediu mais escuta às mulheres, o Conselho da Mulher deu parecer contrário, e a delegada Iane lembrou que “vida” também envolve pais ausentes e estupros impunes. No fim, ninguém abortou o projeto — que agora aguarda sanção do Executivo. Foz pode até não legislar sobre aborto, mas pode e deve discutir com maturidade. O que não pode é continuar fingindo que assunto polêmico deve ser evitado.
- Por Rogério Bonato