Tombamento do prédio do antigo Hotel Cassino protege a história de Foz do Iguaçu

Entre as margens do Rio Paraná e o coração pulsante de Foz do Iguaçu, o tempo deixou marcas — nem sempre visíveis, mas profundamente sentidas. Uma dessas marcas agora ganha voz e proteção: o Hotel Cassino Iguassu, símbolo do início da modernização urbana e da vida social da cidade, acaba de ser tombado como Patrimônio Cultural Municipal. A decisão, publicada oficialmente no Diário do Município, é mais que uma medida técnica: é um gesto de respeito à memória e ao espírito da cidade.

Erguido entre 1937 e 1940, o prédio foi muito além de um hotel de luxo. Foi o primeiro com água quente, suítes com banheiro e até um mini zoológico, que encantava hóspedes e moradores. Recebeu presidentes, acordos internacionais e turistas sonhadores que vinham ver as Cataratas e encontravam ali um porto seguro de elegância, modernidade e, sobretudo, hospitalidade.

A memória coletiva de Foz — tantas vezes associada à natureza e à fronteira — agora tem uma pedra fundamental também no campo do patrimônio edificado, algo essencial em uma cidade que cresce rápido e onde o novo, por vezes, ameaça engolir o passado.

 

Estrutura inovadora

O tombamento garante a preservação da fachada, da escadaria principal, da via de acesso de veículos e de elementos internos originais, como o piso do hall e a placa da reforma de 1987. Mas o que está sendo preservado é muito mais do que isso. É o tempo. É a lembrança de uma cidade que, no início do século XX, mal contava com um hotel de verdade — como registrou o próprio Santos Dumont em 1916. Ele percebeu, ainda naquela visita, tanto a importância de proteger as florestas das Cataratas quanto a necessidade de preparar a região para acolher visitantes. Anos depois, em 1939, foi criado o Parque Nacional do Iguaçu, e logo em seguida nasceu o Hotel Cassino, inaugurando um novo capítulo na história da cidade

O Hotel Cassino é também o reconhecimento de que lugares guardam emoções, conversas, silêncios, passos e decisões. Foi no salão do hotel que se selou o tratado para construção da Ponte Internacional da Amizade que uniria o Brasil ao Paraguai. Foi ali que a cidade se fez protagonista.

 

Preservação da história

Atualmente, o prédio abriga a sede do Senac, onde são oferecidos cursos de formação profissional. O espaço que antes hospedava presidentes e aristocratas hoje acolhe jovens em busca de futuro — uma transformação simbólica que reforça o valor social do edifício. O passado inspira o presente.

O tombamento do Hotel Cassino junta-se a uma lista que incluem: Obelisco do Marco das Três Fronteiras; Colégio Bartolomeu Mitre; Fundação Cultural de Foz do Iguaçu (antigo Fórum de Justiça); Sede do GRESFI (antigo Aeroporto do Parque Nacional do Iguaçu); Teatro Otília Schimmelpfeng (Barracão); Palácio das Cataratas (Paço Municipal); antiga Câmara de Vereadores; Casas Harry Erwin Schinke e Laly Schinke; e Bosque dos Macacos (único bem natural da lista).

Cada um desses marcos forma uma colcha de retalhos onde se costura a identidade cultural de Foz do Iguaçu — uma cidade que precisa, urgentemente, se reconhecer também em sua história construída.

 

  • Da redação
  • Foto: arquivo IBGE

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