Índice de gravidez precoce preocupa as autoridades em Ciudad del Este
Os altos índices de gravidez precoce de meninas cada vez mais novas tem gerado preocupação das autoridades de Ciudad del Este, que é unida a Foz do Iguaçu pela Ponte da Amizade. No Hospital de Los Angeles, no bairro Dom Bosco, o nascimento de bebês de mães adolescentes deixou de ser exceção. Tornou-se rotina. Em média, a cada mês, adolescentes entre 15 e 17 anos chegam à maternidade não para ver irmãos mais novos ou acompanhar uma amiga, mas para dar à luz seus próprios filhos.
De janeiro a maio deste ano, dezenas de casos foram atendidos pela equipe chefiada pelo ginecologista e diretor do hospital, Guido Venialgo. Somente em março, 15 adolescentes grávidas passaram pelo parto na unidade de saúde – nove delas com menos de 17 anos. Em maio, foram mais 10 casos. “A gravidez na adolescência não é mais uma surpresa. É uma realidade. Não falamos mais em epidemia. Isso é quase endêmico”, alertou.
O médico lamentou, em entrevista à rádio La Clave, que a infância muitas vezes termina aos 11 anos. Ele observou que 15 casos foram registrados somente em março. Três jovens de 15 anos, três de 16 anos e nada menos que nove de 17 anos. Em maio, a tendência não mudou. Havia três jovens de 15 anos, outras três de 16 anos e mais quatro de 17 anos.
“Todas mães de primeira viagem, todas nulíparas”, observa o doutor Venialgo, usando o termo médico para descrever aquelas que estão enfrentando o parto pela primeira vez. O mais preocupante, segundo o profissional, é a normalização do fenômeno. “É um ciclo. Mães adolescentes repetindo a mesma história com as filhas. Famílias fragmentadas. Pais ausentes. E a iniciação sexual precoce, que ocorre antes mesmo da puberdade.”
Diálogo, apoio e prevenção
A biologia, explicou o ginecologista, apenas marca o início. “A menarca – primeira menstruação – aparece cada vez mais cedo. Costumava ser por volta dos 12 ou 13 anos. Hoje, muitas meninas já a têm aos 9 ou 10 anos. Com ela, vem uma falsa percepção de maturidade. O corpo está preparado para menstruar, mas não está pronto para conceber. A mente está ainda menos”.
“Recentemente, tratei uma menina de 11 anos que estava grávida. Minha mão não entrava em sua cavidade uterina. Isso nos destrói como médicos, como pais, como sociedade”, confessou. As causas, segundo o Dr. Venialgo, estão interligadas à pobreza estrutural, lares sem apoio, falta de educação sexual, redes sociais que romantizam relacionamentos adultos e pais ausentes.
“Há um componente social, familiar e cultural muito forte. É muito difícil combatê-lo sem um trabalho abrangente”, alertou o especialista. A solução, embora complexa, começa em casa, insistiu. “É preciso conversar com os jovens. Educá-los, orientá-los e monitorá-los. Hoje, há muita liberdade sem direção. E isso tem consequências. Adiar a primeira relação sexual deve ser uma prioridade”, enfatizou.
Precocidade
Do ponto de vista institucional, o médico reconheceu que o hospital já oferece atendimento pré-natal especializado para adolescentes. Equipes multidisciplinares (psicólogos, pediatras, ginecologistas) são responsáveis pelo acompanhamento de cada caso. Mas isso não basta.
“Elas já chegam grávidas. O verdadeiro trabalho precisa começar mais cedo. Na escola, em casa, na comunidade.” Venialgo destacou que essa é uma realidade que não surpreende mais, mas ainda dói. Ele mencionou que por trás de cada número existe uma infância conturbada, um corpo estressado e um futuro marcado pela desigualdade.
- Da Redação
- Foto: Gentileza/La Clave