Coluna do Corvo

Esqueceram de mim (no cemitério)

Em Foz do Iguaçu, a inadimplência pós-vida virou um problema tão comum quanto a do IPTU. Há um número crescente de túmulos esquecidos, abandonados pelos “entes queridos” que prometeram amor eterno… até que a fatura do jazido chegasse. O drama é duplo: quem foi certinho em vida, pagou conta de luz, água e até anuidade de clube, agora está devendo para as concessionárias do luto. Quem descansa em paz desse jeito?

 

Cemitério VIP, só para quem pode

Reclamações sobre custo para morrer em Foz do Iguaçu são constantes. Enterrar virou luxo, e os cemitérios andam tão cheios que já se fala em fila de espera — igual à de creche pública. Solução? Jazigos verticais, mais caros e com vista para o nada. Em Foz a gente morre uma vez e paga prestações vitalícias para a memória encaixar em uma minúscula lápide. Precisam rever os valores para os vivos pagarem.

 

Aqui jaz… uma diversidade étnica

Os cemitérios iguaçuenses abrigam diversidade. Há setores para árabes, orientais, budistas e outras tradições, cada qual com seus rituais, crenças e tipos de despedida. Isso não deveria ser pretexto para custo alto. Em cidade multicultural, o silêncio da morte fala em vários idiomas. O que falta mesmo é um crematório ecumênico, que resolva tanto a falta de espaço quanto a burocracia que não acaba nem com o fim da vida.

 

Zumbis no loteamento? Só no cinema

E toda vez que anunciam um novo cemitério, a vizinhança protesta como se fosse surgir um motel no terreno. A ideia de viver perto de mortos ainda assusta muita gente, talvez pelo excesso de filmes de zumbi ou medo de assombração. Esquecem que o barulho dos vivos — escapamentos abertos, pancadão e gritaria — incomoda muito mais. Morto, no máximo, solta um suspiro poético no vento.

 

Fumaça que resolve

A ideia de um crematório municipal já foi mais polêmica que aumento na tarifa de ônibus. Mas com cemitérios cheios, jazigos verticais inflacionados e vizinhança que teme defunto como se fosse vírus, a cremação começa a parecer uma solução prática e menos territorial. Além disso, convenhamos: é mais sustentável, ocupa menos espaço e garante que ninguém fique devendo taxa de manutenção do além.

 

A outra paisagem do adeus

Em Foz do Iguaçu, os cemitérios ainda não figuram entre os roteiros turísticos, como ocorre nas grandes capitais que transformam túmulos de celebridades em pontos de peregrinação. Não temos mortos famosos. No entanto, cada campo-santo da cidade guarda uma narrativa silenciosa, feita cimento, saudade e tempo. É assim o mais tradicional, São João Batista, situado no coração urbano, ainda preservando antigas capelas tumulares e esculturas de anjos melancólicos que recortam o céu com sua presença imutável. Um lugar onde a memória se materializa em formas clássicas e a arte funerária desenha um horizonte estático de reverência.

 

Grama e passarelas

Os demais cemitérios seguem um padrão mais moderno e discreto: gramados extensos onde pequenas placas indicam os nomes de quem partiu. São discretos, quase invisíveis, como se a morte ali pedisse licença. Curiosamente, o mais belo é também o mais distante — e aparentemente esquecido. Localiza-se junto ao Parque Nacional do Iguaçu, em meio à mata e ao canto das aves. É ali que repousam os indigentes, aqueles que não tiveram nome nos obituários, mas compartilham o silêncio com um personagem ilustre: Moisés Bertoni, o cientista naturalista suíço que dedicou a vida à região, estaria enterrado ali, ao lado de sua família. Um gesto poético da geografia, que faz dele um guardião eterno da floresta que tanto estudou e amou. Cortejos infelizmente não vão até lá, para não causarem atraso aos voos.

 

O inverno chegou com fogos

Literalmente. O frio resolveu dar as caras em Foz e, para alguns, isso foi motivo de comemoração em alto e… barulhento estilo. Na noite de terça-feira, um hotel da área sul saudou a queda de temperatura com uma queima de fogos digna de réveillon. Detalhe: fogos estão proibidos por lei, mas parece que a regra vale só para o povão nas festas juninas. Soltar uma bombinha virou crime ambiental, mas explodir a Amazônia sonora no quintal do hotel é “experiência sensorial para os hóspedes”. Vai entender… cadê a fiscalização? Está escondida debaixo do cobertor?

 

Naftalina e mofo: os aromas do inverno tropical

Com a chegada do friozinho — ainda modesto, diga-se — começou o desfile de casacos que dormiam no fundo do armário. O problema é que nem o tempo nem o sol colaboraram, e a pressa em se encasacar gerou uma tragédia olfativa nas filas dos self-services do shopping. Cachecóis com cheiro de mofo, casacos que exalam naftalina vintage e gente que parece ter se vestido no brechó do Conde Drácula. Se continuar assim, Foz pode até pleitear os Jogos Olímpicos de Inverno!

 

Futebol?

Dizem que ando afastado do futebol. Verdade. Ultimamente, assistir jogo no Brasil é como rever novela reprisada pela quinta vez. Os bons jogadores pegaram o avião: estão chutando petrodólares na Arábia, driblando sushi no Japão ou ganhando em euro com grife. Aqui sobrou o VAR, o gramado ruim e o atacante que se embanana com a bola. Tem jogo que parece campeonato de calistenia: muito movimento, pouco resultado.

 

Seleção importada: agora vai?

O futebol brasileiro está tão globalizado que agora até o técnico é de importação especial. Carlito Ancelotti, com seu paletó elegante e currículo europeu, vai tentar classificar a seleção canarinho, que hoje em dia tem mais amarelo no cartão do que na camisa. Pela primeira vez, um estrangeiro no comando da seleção mais vitoriosa do planeta. Sinal dos tempos: se os jogadores já atuam lá fora, por que o treinador não viria de fora também? Só falta agora colocarem legenda nos discursos da preleção. E liberar a pizza no vestiário pós-jogo. Uma boa quinta-feira a todos!

  • Por Rogério Bonato

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