Câmara de Foz ouve especialistas sobre o legado da Coluna Prestes

A proposta de instituir o Dia da Memória da Coluna Prestes em Foz do Iguaçu, atualmente em análise na Câmara Municipal, gerou um intenso debate público nesta quinta-feira (23), durante audiência promovida a partir de requerimento da vereadora Valentina Rocha (PT). O encontro, realizado no plenário da Casa, discutiu os impactos históricos, simbólicos e sociais do movimento revolucionário no contexto local, reunindo especialistas, lideranças políticas, representantes da sociedade civil e moradores.

O evento foi aberto pela 1ª Secretária da Casa, vereadora Prof. Marcia Bachixte (MDB). O pedido de Audiência Pública se justifica pela recente Lei Municipal nº 5.528/2025, que determina que datas comemorativas tenham alta significação social e sejam precedidas de consultas públicas com especialistas e representantes.

“Essa pauta nasceu do anseio de professores e alunos da Unila, Universidade que  fiz parte. Da qual tenho muito orgulho de saber que cumpre o seu papel em formar grandes cientistas e colaborar com a discussão cultural, histórica e patrimonial da cidade. Essa audiência pública vem para celebrar o patrimônio de Foz do Iguaçu, que é constantemente negado e esquecido”, falou Valentina Rocha (PT), proponente da audiência. Após o debate, a vereadora deu prosseguimento à discussão e conduziu o evento.

A audiência contou com diversos expositores sobre o assunto. Márcia Fabiani, historiadora e mestre em história, atualmente lotada no Colégio Estadual Dom Pedro II, relatou o seu ponto de vista sobre a falta de registro de história no município: “Quando cheguei em Foz, há 20 anos atrás, fui procurar a história de Foz do Iguaçu. Então pensei, vou atrás de um museu, não tinha. Um arquivo histórico? Não. Uma casa de memória? Também não. Comecei a dar conta que a história de Foz está muito centrada na construção da Itaipu, nossas pontes com Paraguai, Argentina e o turismo”. A professora abordou como, para ela, existe muita história para ser documentada sobre o município, datando desde a ocupação indígena até a colônia militar.

Luiz Carlos Prestes Filho, cineasta, escritor, jornalista, especialista em economia da cultura e filho do líder revolucionário Luís Carlos Prestes, expôs sobre o movimento, o posicionamento da Coluna Prestes. “Os 1500 jovens lutavam pelo total desprendimento da democracia no Brasil e a nossa independência do capital financeiro internacional. Pelo fim da censura, por eleições livres, com voto secreto e pelo voto feminino. Lutavam pela industrialização do país, pela atualização tecnológica. Belas bandeiras que elenquei, fica claro que o movimento era um movimento liberal, não pretendia o estabelecimento de um governo socialista e nem da ditadura do proletariado”, completou.

Em seguida, Aluizio Palmar, jornalista, escritor, ativista social, Cidadão Honorário de Foz e fundador do site Documentos Revelados, ressaltou sobre o movimento: “O tenentismo foi um movimento contrário à Velha República do presidente Artur Bernardes, uma revolta que teve como objetivo implementar um Brasil moderno. Vim aqui para situar a Coluna Prestes no território de Foz do Iguaçu, que no período, era imenso, se estendendo de Foz até Guaíra com 2 mil habitantes”. O jornalista contextualizou e abordou a opressão que muito dos moradores sofriam, por meio dos patrões.

O juiz Marcos Antonio de Souza Lima, que se inscreveu como cidadão para apontar o seu contraponto, citou um professor que questionou a passagem da Coluna Prestes por Foz. O outro ponto que colocou foi: “Sempre houve iguaçuenses em Foz do Iguaçu e quando a Coluna Prestes chegou aqui em 1924, já havia a presença do estado pela colônia militar há 30 anos”. Marcos ainda destacou:  “A Coluna Prestes, em Foz, representou a força de ocupação e o medo, sujeitando a cidade a um exército invasor”, completou.

Pedro Louvain de Campos Oliveira, historiador e presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (CEPAC), abordou a importância do evento: “Essa audiência pública, independente da divergência de opiniões, faz parte de um movimento histórico de valorização da sua história e memória”. O historiador comentou que todo processo de tombamento tem contradições, fazendo parte da democracia. Ele ainda acrescentou: “Foram 35 anos de descaso e abandono do nosso patrimônio cultural e material, nos deixando uma história de dano moral coletivo, como o caso da Casa de Harry Schinke. É importante continuar cobrando porque temos muito para fazer”, concluiu.

Logo depois das exposições, a audiência abriu espaço para os inscritos para falar na tribuna. Com vereadores, professores, alunos, pioneiros, membros do Conselho de Política Cultural expondo seus diversos pontos de vista sobre o assunto, com direito de réplica. O evento também contou com a participação dos vereadores Dr. Ranieri (Republicanos), Anice Gazzaoui (PP) e Cabo Cassol (PL). Compuseram a mesa de autoridades ainda: Dalmont Benitez, diretor-presidente da Fundação Cultural representando o Poder Executivo; Andreia Moassab, pró-reitora da Unila; Bruno Rodrigo Lichtnow, presidente da comissão de acompanhamento legislativo representando a subseção da OAB Foz; e Lourenço Kürten, diretor técnico de desenvolvimento do turismo representando a Secretaria Municipal de Turismo.

 

  • Da redação com CMFI
  • Foto: Christian Rizzi – Câmara de Foz

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