Gastos da prefeitura com saúde aumentam em Foz, mas população reclama do atendimento
A Prefeitura de Foz do Iguaçu apresentou, nesta quarta-feira (21), o Relatório Detalhado do 1º Quadrimestre de 2025 da Secretaria Municipal da Saúde, revelando um marco histórico no investimento público municipal: foram R$ 190 milhões aplicados no setor entre janeiro e abril — 33% da receita própria, mais que o dobro dos 15% exigidos pela Constituição Federal. Mesmo assim, usuários da rede pública relatam demora nos atendimentos e superlotação nas unidades.
“Estamos conduzindo a saúde de Foz com responsabilidade, técnica e compromisso com a população”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Fábio de Melo. Ele destacou que 68% dos recursos investidos são provenientes do próprio município.
O relatório traz avanços: cobertura de 100% das equipes da Estratégia de Saúde da Família, 487 mil atendimentos na Atenção Primária, 2.866 cirurgias realizadas — sendo 1.285 eletivas —, e mais de 21 mil exames por imagem. A mortalidade materna foi zerada, e a infantil caiu de 7,58 para 6,9 por mil nascidos vivos, abaixo da média nacional. O número de casos de dengue também despencou de 15.747 no ano passado para 4.321 neste ano, graças à expansão do projeto Wolbachia, previsto para cobrir todo o território até o fim do ano.
Apesar desses resultados, os relatos da população revelam outra realidade nas filas de espera e nos corredores das unidades.
Reclamações
“Fui duas vezes na UPA Walter Cavalcante com meu filho com febre alta. Fiquei quatro horas esperando. Deram um remédio e mandaram embora. Disseram que não tinha médico suficiente”, contou a auxiliar de limpeza Márcia Aparecida da Silva, 27 anos, moradora do bairro Três Lagoas. A unidade registrou 32.988 atendimentos no quadrimestre.
Na região central, o padeiro Carlos Henrique, de 42 anos, também enfrenta dificuldades. “Tô com uma dor no ombro faz mais de mês. Me mandaram esperar a consulta com o ortopedista. Disseram que demora uns três meses. Isso é saúde?”, questiona.
No Hospital Municipal Padre Germano Lauck, onde 3.214 cirurgias foram realizadas de janeiro a abril, a falta de leitos continua sendo um dos principais gargalos. “Minha mãe ficou internada no pronto-socorro por dois dias porque não tinha vaga para transferir. Ela precisava operar a vesícula”, relata uma professora aposentada de 65 anos, que preferiu não se identificar.
Durante a apresentação do relatório, a secretária adjunta Jaqueline Tontini ressaltou o esforço em manter a gestão transparente e participativa. “A publicação desses relatórios é parte fundamental da gestão participativa e responsável que buscamos”, afirmou.
O prefeito General Silva e Luna defendeu o trabalho da gestão em meio aos desafios locais. “Foz do Iguaçu tem um dos maiores desafios sanitários do Brasil, por estar na tríplice fronteira. Mesmo assim, estamos conseguindo avançar com responsabilidade, coragem e planejamento. Nosso compromisso é seguir melhorando esses índices, ampliar o atendimento e garantir que cada iguaçuense tenha acesso digno à saúde”, declarou.
Segundo a Secretaria de Saúde, o déficit de profissionais é um dos principais entraves. O município conta atualmente com 95 médicos atuando na Atenção Primária, mas ainda não há cobertura para férias e afastamentos. Foi solicitado ao Ministério da Saúde a inclusão de 25 novos médicos pelo programa Mais Médicos, e um concurso público está em fase de organização.
Entre as ações em andamento, destacam-se os investimentos nas áreas de saúde mental, saúde da mulher, da criança, vigilância sanitária e atenção à pessoa com deficiência.
Mas enquanto os indicadores técnicos mostram progresso, a percepção popular ainda cobra eficiência no tempo de resposta da rede. A esperança é que o reforço de equipe e o planejamento anunciado consigam transformar o volume recorde de recursos em um atendimento mais ágil e resolutivo para quem depende do SUS.
- Da redação com PMFI
- Foto: Roger Meireles