Coluna do Corvo
Vaticano: o nanico com complexo de Deus
O Vaticano é tão pequeno que se tropeçar na Praça São Pedro, você já caiu fora do país. Com meio quilômetro quadrado, ele é menor que o quarteirão da sua padaria, mas com um detalhe: comanda espiritualmente mais de um bilhão de pessoas. É o único Estado que fecha se o Papa espirrar. Não tem exército, mas conta com os guardas suíços os mais fashion da diplomacia internacional. Quem desenhou a farda deveria possuis muitos lápis de cor. Lá dentro não se joga futebol, mas se decide quem vai para o céu. Um país que cabe numa praça, cuja influência pesa mais que muitos membros do G20.
O menor território, a maior influência
Explicando melhor: com apenas 0,49 km², o Vaticano é o menor Estado soberano do mundo, mas exerce uma influência global desproporcional ao seu tamanho físico. Sede da Igreja Católica e residência oficial do Papa, é centro espiritual para mais de 1,3 bilhão de pessoas. Governado por uma monarquia eclesiástica absoluta, com um chefe de Estado que também é líder religioso, o Vaticano equilibra poder simbólico, diplomático e moral. Pequeno no mapa, imenso na fé e nas decisões que transcendem fronteiras.
Sala das Lágrimas
É onde o Papa chora… e o santo começa a nascer. Escondida no coração do Vaticano, a Sala das Lágrimas não é exatamente um camarim, mas quase. É lá que o cardeal eleito Papa se tranca por alguns minutos após o “Habemus Papam” — e desaba. Choram as emoções, as dúvidas e, às vezes, até os botões da batina que não serve. O nome não é metáfora: muitos saem dali lavados em lágrimas, como se já soubessem que a santidade pode ter começado. É o primeiro passo de uma jornada que, com sorte (e dois milagres certificados), pode terminar nos altares. Em Roma, a santidade começa com um susto, uma batina apertada… e um choro sincero.
O susto papal
A famosa Sala das Lágrimas é, afinal, o primeiro endereço do Papa recém-eleito. Fica coladinha à Capela Sistina e serve para o cardeal respirar fundo, vestir a batina branca e, claro, cair no choro — não por emoção divina apenas, mas porque ali bate o peso real do “agora é contigo, santidade!”. Em uma comparação, para muitos esdrúxula, devido a importância do momento, a deixar a Sala das Lágrimas seria como entrar no gramado em final de Copa do Mundo!
Ai, as vestes
Há três tamanhos de batina à disposição (P, M e G), mas nunca servem direito. Já houve Papa tentando vestir uma e murmurando em latim algo próximo de “isso só pode ser pegadinha”. Outros rezam, soluçam, ou simplesmente encaram o espelho como quem viu o Juízo Final chegar antes da hora. Dizem que as lágrimas derramadas ali já economizaram anos no purgatório. Afinal, quem entra cardeal e sai quase santo, precisa começar com uma cena forte. Para alguns, é o primeiro passo rumo à canonização; para outros, o maior susto da vida. Só uma coisa é certa: ninguém sai da Sala das Lágrimas seco.
Fumaça branca e histórias de novela
Ah, os conclaves! Aqueles momentos em que cardeais do mundo todo se trancam para escolher o novo CEO do Vaticano — com direito a suspense, torcida e fumaça colorida. Mas alguns ficaram na história não só pela fé, mas pela novela. O mais longo? O de Viterbo, em 1268: durou quase 3 anos! Os cardeais enrolavam tanto que a população trancou a porta, cortou a comida e até arrancou o teto para ver se decidiam logo. Funcionou. Elegeram o Papa Gregório X na base da pressão atmosférica.
BBB Papal
Em 1417, o conclave de Constança encerrou um “racha” de três papas ao mesmo tempo. Foi tipo reality show medieval com direito a eliminação tripla. Já em 1978, tivemos dose dupla: Paulo VI morreu, João Paulo I foi eleito e faleceu 33 dias depois. Em seguida, João Paulo II, o papa pop, entrou em cena. O de 2005 foi o da emoção: o favorito virou Bento XVI. E o de 2013? O primeiro papa latino-americano da história, com o nome de Francisco e o sorriso de quem sabia que o mundo precisava de leveza.
O compasso de espera
Enquanto a humanidade aguarda a fumaça branca, o mundo pega fogo! Não querem saber de outra coisa: quem será o novo Papa? Pela quantidade de vezes que a chaminé já soltou “fumaça preta”, a escolha está próxima. Deve sair nesta quinta-feira, com chances da coluna amanhecer vencida no dia da circulação. Cada “fumaçada” escura significa um processo de eliminação. Vamos combinar: enquanto os cardeais se reúnem entre afrescos e silêncios na Capela Sistina, o planeta lá fora derrete — literal e metaforicamente. Guerra na Ucrânia, tensão no Oriente Médio, clima descontrolado, IA desgovernada, inflação em alta. Mas os holofotes estão voltados para o Vaticano, onde a dúvida não é “como resolver o mundo”, mas “qual batina vai servir no eleito”. Uma barbaridade!
Uma ou outra
Francamente, a escolha papal virou uma espécie de cortina de fumaça — branca ou preta, dependendo da rodada — que desvia a atenção global dos reais incêndios. É bonito, solene, místico e também conveniente. Afinal, entre uma tragédia climática e um conclave com capas vermelhas e latinório sagrado, a mídia sempre escolhe a fumaça que rende melhor no noticiário. No fim, é como se todos aguardassem um milagre diplomático com sotaque italiano que desça do balcão e resolva tudo com uma bênção. Spoiler: não vai acontecer.
O “trono” está vago
Do Vaticano para Brasília: aceitam-se currículos. Com o presidente Lula em queda nas pesquisas e Bolsonaro atolado em processos, o Brasil entra na pré-campanha com um detalhe instigante: falta candidato competitivo. O eleitor, já calejado, começa a sonhar com algo inédito — uma terceira via que não seja um app de delivery. Enquanto os caciques brigam com o passado, o presente implora por um nome que saiba governar sem live, sem desculpa e sem dizer “companheiros” a cada frase. Até o centrão anda de olho no LinkedIn.
Entre um cansado e um cassado
A eleição de 2026 caminha para ser uma disputa entre quem ainda está de pé e quem ainda não foi preso. Lula vai mal nas pesquisas, encurralado por economia teimosa (não somente ela) e promessas engavetadas. Já Bolsonaro, embora animado, pode não sair nem de casa — não por escolha, mas por inelegibilidade e uma possível coleira na canela. O eleitor brasileiro, especialista em apertar 13 ou 22, corre o risco de ter que… pensar.
A hora e a vez de um “novo”
Ou de alguém que nunca foi meme. Com os dois polos em crise, abre-se um raro vácuo no debate político: e se surgir alguém que não seja nem salvador da pátria nem réu confesso? Os marqueteiros já sonham com “o novo do novo do novo”, desde que fale pouco, gesticule menos e, de preferência, não tenha o celular nas redes sociais 24 horas initerruptamente. É a chance de uma liderança pragmática, moderada, e com algo revolucionário: um plano de governo que caiba em mais de 280 caracteres. É difícil, mas possível.
Brasília ou São Bernardo?
Eis a questão. Por enquanto, o presidente Lula segue despachando do Palácio do Planalto, mas se depender do humor do eleitorado em 2026, é bom já ir checando os voos para Congonhas. Com a popularidade oscilando mais que a cotação do dólar e sem um adversário definido — já que Bolsonaro pode ficar fora do páreo — o desafio é manter a cadeira antes que ela vire relíquia no Alvorada.
E como ele vai fazer?
Para seguir morando no quadradinho do DF, Lula precisará mostrar mais obras do que fala. E não vale só PAC relançado com nome novo. O eleitor quer concreto, asfalto e Pix caindo na conta. A base aliada, hoje mais flexível que bambu em vento, também vai ter que firmar raiz, senão o barco afunda e ainda cobram o Lula pela água. A água proporcionalmente é bem mais cara que a luz, creiam.
Evolução
No campo da comunicação, é hora de aposentar o discurso de 2003 e conversar com o Brasil de 5G. O TikTok decide mais votos que palanque em praça pública. E se vier com “companheiros e companheiras”, vai precisar legendar em linguagem de meme. Resumo da ópera: para ficar em Brasília, Lula terá que fazer mais do que lembrar que tirou o povo da fome no passado. Vai precisar mostrar que sabe mantê-lo alimentado no presente — e, se possível, com Wi-Fi grátis.
As chances de Lula.
Francamente, o jogo está aberto e desta vez com o VAR ligado. Lula exerce o poder, mas a cadeira presidencial está no módulo vibração — e não é de massagem, sim, de instabilidade. As chances de reeleição? Ainda é cedo para cravar, mas dá pra dizer que ele está no jogo… embora com o placar apertado e o juiz de olho. Bolsonaro possivelmente estará fora por cartão vermelho da Justiça Eleitoral, o campo abre espaço para novos atacantes — e o Lula, experiente camisa 13, sabe que não dá para ganhar só com lembrança de títulos passados. O eleitor quer bola na rede agora: inflação sob controle, fila no SUS menor que a do INSS e obras que apareçam no drone dos telejornais. Se o governo acertar o passe até 2026 e não tropeçar nas próprias promessas, há chance de prorrogação no Planalto. Mas se continuar errando pênalti — como na comunicação e nas alianças esquisitas — pode acabar assistindo a posse pela TV. Em São Bernardo.
Dona Gina
Foi de lá que saí para viver em Foz, de São Bernardo do Campo, precisamente do Bairro Assunção. O presidente Lula morava do outro lado da Via Anchieta e toda a vez que vai visitar o apartamento, a dona Gina, minha amada mãezinha, reclama dos helicópteros. Uma boa sexta-feira a todos!
Charge do corvo
Atraso no Conclave: dizem que um político iguaçuense por pouco não virou papa. Entrou escondido na Capela e depois do resultado foram descobrir a artimanha. Largaram fumaça preta.
- Por Rogério Bonato