Coluna do Corvo
Ler, escrever e entender
Olhando as manchetes dos principais jornais brasileiros, bem como os noticiários, eis que surge a triste constatação: quase 30% dos brasileiros não consegue entender um texto simples e não sabe fazer contas. Isso se chama “analfabetismo funcional”. Então vamos pensar: os quarenta anos de democracia não foram suficientes para quebrar o ciclo do analfabetismo brasileiro. É um fracasso colossal! No mesmo espaço de tempo, a Coreia do Sul foi de uma sociedade agrária e com altos índices de analfabetismo para uma potência tecnológica.
Muita gente
Mais de 68 milhões de habitantes enfrentam esse problema de analfabetismo absoluto ou rudimentar. Comparativamente isso seria a população da Inglaterra, ou países como a França, Itália, Espanha e Argentina. Então, vamos imaginar que a maioria dessas pessoas utilizam os celulares, fazem uso das redes sociais e naturalmente não compreendem as informações como deveriam, interagindo bem abaixo dos padrões de compreensão dos fatos. Vai ver é por isso os fenômenos de fake news se espalham eficientemente. Neste caso os desprovidos de uma educação básica não são os culpados, mas os que se beneficiam dessa deformação coletiva.
“Volver”
Como o atual governo resolverá esse problema? Recriará o “Mobral”, transformará as escolas em espaços para a educação básica de adultos? Realizará mutirões ensinando o povo a escrever e fazer contas? Taí um desafio. Mas quando o assunto é vencer o tempo e as suas deformações, eis que existe a contramão. Conversando com um amigo que faz a limpeza do jardim e, abordando o assunto do analfabetismo funcional, eis que ele responde: “hoje não é mais um ‘pobrema’. ‘Otro’ dia ‘precisamo manda imaiau praa Copéu’ e a inteligência artificial ‘feis” tudo direitinho, tá ‘resorvida’ a ‘situassão’ ”. O que nos assombra é o inverso: no lugar de corrigirem as deformações, resolverem acabar com as escolas e enfraquecerem os investimentos em educação. Tudo é possível nesse mundão a cada dia mais virado.
Fedentina
Os setores de saúde sanitária e meio-ambiente da prefeitura passaram a receber muitas reclamações do forte odor em algumas localidades, especialmente novos loteamentos. É latrina pura! As equipes da Sanepar entraram em quase desespero devido a quantidade de “barbeiragens” cometidas por alguns pedreiros e empreiteiros, ligando o esgoto nas saídas pluviais e, a água, onde deveria ir o esgoto. Uma barbaridade! As tubulações lacradas e que recebem os dejetos estão emborcando, e, por sua vez, a água das chuvas e vai parar nos riachos. Vários “dispositivos técnicos de inspeção” estão transbordando merda pura. As bocas de lobo viraram fossas sépticas e junto com o resultado das privadas, tudo vai parar nos riachos.
Diferencial
Acontece que nos novos loteamentos, pavimentação, calçadas, galerias pluviais e esgoto são obrigatórios, bem como outras condições de habitação. Logo, alguns pedreiros dizem que não é possível diferenciar uma coisa da outra. Não é bem assim. Sem paciência ou a busca por orientação, acabam cometendo crime ambiental. Ligações erradas colocam em risco os moradores e o meio ambiente. As penas são severas. Descarregar o esgoto na galeria pluvial é poluição ambiental e, por sua vez, a água da chuva na rede coletora da Sanepar, também prejudica o tratamento de esgoto. A Sanepar orienta a contratação de encanadores profissionais ou a busca por orientações de como fazer a ligação no site da empresa. Lá há como fazer a ligação correta. No final do ano passado, a Sanepar promoveu um curso de atualização para encanadores cujo objetivo foi explicar o modo correto para fazer a conexão do esgoto das casas nas redes públicas.
Outro problemão
Há loteamentos onde existem tubulações de esgoto, e, segundo informações, elas não desembocam em estação de tratamento. Não saem em lugar algum. Resumo: ao passar do tempo, esses tudo vão se enchendo e acabam entornando, espalhando dejetos pelas calçadas e, do mesmo jeito, escorrendo para as galerias pluviais. Quando aparece um pedreiro e acaba despejando água nessas tubulações, a situação piora, porque acelera o sistema de enchimento, o que resulta em cheiro forte e incômodo aos moradores, que ficam acusando uns aos outros. Não vamos esquecer que em condições assim, aumentam os riscos da dengue e proliferação de insetos e ratos.
E agora?
Apenas para esclarecer, a área do Jardim Buenos Aires, onde este colunista habita e convive com o grampo de roupas no nariz, há a coleta e tratamento na Estação Ouro Verde. E como o cheiro é insuportável, deve ocorrer algum problema. Ao se aprofundar no tema, foi possível lembrar que antigamente existia a possibilidade de os loteadores colocarem o que se chamava de rede seca, ou seja, a tubulação do esgoto, mesmo não existindo a possibilidade de conexão como sistema de tratamento. Paralelamente às redes secas, haveriam as fossas sépticas. Mas, segundo informações, em alguns casos, a ligação do esgoto ou da água de chuva, principalmente pela falta das galerias, acabava mesmo nas tubulações de esgoto. Com a expansão das redes de coleta esses problemas devem acabar. Ao que se sabe, a Sanepar tem planejamento para executar mais de 100 quilômetros de rede de esgoto em Foz do Iguaçu e está em conversa com a Prefeitura para solucionar o problema destes loteamentos antigos, levando a infraestrutura de saneamento para estes locais.
Grande notícia!
Soube, com enorme satisfação, que a Délia Gonçalves Bernardino retornou para a Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e ocupará a função de Diretora de Cultura, cargo que foi, no atual governo, preenchido pelo Adriano Monank, depois Fabrício Chianello em apenas cinco meses. Só alguém como a Délia para desenterrar essa cabeça de bode cravada no setor cultural da cidade. Sem demérito aos que lá estiveram, isso se faz com competência e personalidade, porque ela é assim. E no mais, como servidora, esteve no exercício desde 1996, como assistente contábil e trabalhou em todos os setores da Fundação Cultural; foi chefe de divisão administrativo financeiro até dezembro de 2024 quando em 30/12 se aposentou. Muita sorte e espaço para a Délia, porque ela saber mandar ver na tarefa.
Novo colunista
Existem muitas pessoas que se propõem escrever e, enviam colaborações. Uma delas é o Pedro Santafé, amigo de longa data. Demorou até ele aceitar o desafio. É dessas figuras que habitam os bastidores dos gestos grandiosos e das pequenas revoluções cotidianas. Cronista atento das sutilezas do tempo, transforma paisagens, silêncios e entardeceres em matéria literária e política. Sua escrita, refinada e sóbria, recusa a autopromoção. Prefere a colher de pau, com a qual prepara geleias artesanais que distribui entre amigos. Também se dedica a compor delicados arranjos com flora do cerrado, peças que equilibram leveza e harmonia. Desses gestos nasceu, sem estatuto ou cerimônia, a Confraria Gaivotas do Cerrado, coletivo de espíritos livres que cultivam a beleza de encontros regados a boa conversa, vinho e utopias. Pedro Santafé é, sobretudo, um nome que aparece onde é preciso ler o que não se disse — e registrar antes que se dissipe no ar rarefeito da memória. Leiam o que ele gentilmente compartilhou com este espaço.
- Por Rogério Bonato