Práticas agrícolas sustentáveis ajudam Itaipu a garantir mais água na usina

Uma combinação de ações voltadas à conservação do solo e da água no entorno do reservatório da Usina de Itaipu vem comprovando, com base em dados científicos, que investir no campo pode gerar ganhos diretos na produção de energia.

É o que indicam os resultados parciais do programa Ação Integrada de Solo e Água (Aisa), apresentados nos dias 8 e 9 de abril, durante o II Workshop Aisa, em Foz do Iguaçu. A iniciativa é fruto da cooperação entre Itaipu Binacional, IDR-Paraná, Embrapa, Esalq/USP e Faped, no âmbito do programa Itaipu Mais que Energia.

A principal conclusão é clara: práticas conservacionistas adotadas na agricultura — como o terraceamento, a diversificação de culturas e o plantio direto — aumentam a infiltração da água no solo, reduzem perdas por enxurradas e evaporação e estabilizam os fluxos hídricos que alimentam o lago de Itaipu.

“Ao criar um sistema que disponibiliza mais água para o setor agropecuário, disponibilizamos também mais água para a geração de energia na Itaipu”, resume Hudson Lissoni Leonardo, gestor do programa Aisa pela usina. “Estamos falando de pesquisas, de dados científicos que fundamentam os investimentos feitos pela Itaipu na bacia hidrográfica.”

A binacional já financiou a implantação de mais de 23 milhões de metros lineares de terraços agrícolas — o equivalente a 116 mil hectares. Essas estruturas, somadas às demais técnicas, favorecem a retenção da água no solo e evitam que nutrientes e sedimentos sejam arrastados para os rios.

Pesquisas conduzidas pelo Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná) em bacias dos municípios de Cambé e Toledo reforçam essa avaliação. Os dados foram apresentados pelos pesquisadores José Francirlei de Oliveira e Graziela Moraes de Cesare Barbosa. “Nesses tempos de mudança climática, de aumento das intensidades de chuva, nós estamos percebendo uma fragilidade muito grande da superfície dos solos”, afirma Oliveira.

Segundo ele, o enfrentamento dessa realidade exige ações em três frentes: produção de água via terraceamento, proteção da cobertura do solo e aumento da capacidade de infiltração. “O conjunto de dados tem nos mostrado que precisamos atuar nesses três eixos”, diz.

Apesar da tradição paranaense no uso do plantio direto — com mais de cinco décadas de adoção —, a pesquisadora Graziela alerta para o abandono da técnica em algumas regiões do estado. “Há regiões no Paraná que, diferentemente aqui do Oeste, não têm terraço algum e o produtor está tendo perdas”, diz. “Ele precisa pensar além da safra. Planejar para no mínimo três anos. Isso vai trazer mais rentabilidade.”

Outros dados relevantes vieram da análise da atividade biológica do solo, coordenada pelo microbiologista Arnaldo Colozzi Filho, também do IDR-Paraná. O uso de insumos naturais, como dejetos suínos e cama de aviário, tem demonstrado impacto positivo na saúde do solo e, consequentemente, na produtividade das culturas. “Isso também vale para o uso de resíduos do próprio sistema, como a manutenção da palha, cuja decomposição libera uma série de nutrientes”, afirma Colozzi.

No entanto, ele faz uma ressalva: a eficiência dessas práticas depende da infiltração da água. “O escorrimento superficial da área agrícola, que vai para os rios, leva solo, fertilizantes, produtos químicos, biocidas. Isso reflete até nas cidades, porque o custo do tratamento de água fica mais caro”, alerta.

As pesquisas da Embrapa Soja, apresentadas por Henrique Dibiasi, abordam o impacto climático da agricultura e mostram que sistemas de cultivo mais diversificados ajudam a capturar carbono da atmosfera. “Quando você tem um sistema mais diversificado de produção, você está aportando mais palha e mais raiz. Com isso, melhora a estrutura e a biologia do solo”, afirma. “Daí a questão da soja de baixo carbono, que ajuda a mitigar o processo de aquecimento global.”

No campo, produtores cooperados também confirmam os benefícios das práticas incentivadas pelo programa Aisa. O engenheiro agrônomo Rodrigo Bergo da Silva, da Coopavel, relata que a maioria dos agricultores da cooperativa adota terraceamento, diversificação e plantio direto. “Temos incentivado bastante a utilização de plantas de cobertura nas janelas de plantio, e a adoção de outras técnicas como a utilização de milho consorciado com braquiária, rotação de cultura e o uso de bioinsumos”, diz. “Quem adota, vê os benefícios e repete na safra seguinte.”

 

  • Da redação com Itaipu
  • Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

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