Parque das Aves registra nascimento inédito de ave ameaçada de extinção
O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, registrou o primeiro nascimento em cativeiro de um uru-nordestino (Odontophorus capueira plumbeicollis), espécie criticamente ameaçada de extinção. O filhote, que veio ao mundo pesando 12 gramas e medindo 4,5 centímetros, representa um passo crucial para a preservação da espécie, cuja população vem diminuindo drasticamente devido à perda de habitat e à caça.
O nascimento é resultado de uma parceria entre o Parque das Aves, a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE) e outras instituições. O projeto teve início em 2020, com um workshop voltado para a conservação da espécie, e avançou em 2022, com a chegada dos primeiros indivíduos ao Parque.
Monitoramento
Desde a chegada dos pais em 2022, a equipe do Parque das Aves observou comportamentos reprodutivos, mas apenas em dezembro de 2024 foi encontrado o primeiro ovo. Devido à inexperiência dos progenitores e ao alto risco de perdas, a equipe optou por transferir o ovo para uma incubadora, onde foi monitorado de perto.
Após 26 dias de incubação, o filhote encontrou dificuldades para romper a casca, exigindo uma intervenção cuidadosa da equipe veterinária. O processo levou 30 horas e contou com técnicas como ovos cópia e monitoramento da frequência cardíaca. “Foi uma mistura de tensão e emoção. Estar ali, observando aquele pequeno ser tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão cheio de significado para a conservação do uru-nordestino, foi uma das experiências mais tocantes da minha vida”, compartilha Paloma Bosso, diretora técnica do Parque.
Conservação
O nascimento também chega em um momento crucial para a espécie. Desde setembro de 2024, os monitoramentos na Serra de Baturité, no Ceará, não registravam novos indivíduos na natureza. “Capturar alguns indivíduos de uma população tão reduzida foi uma decisão complicada, mas, com planejamento e com esse resultado, nossas esperanças se renovam”, afirma Fabio Nunes, gerente de programa da Aquasis.
Atualmente, o filhote segue sob monitoramento na área de neonatologia do Parque das Aves, demonstrando sinais de crescimento saudável e autonomia progressiva. Ele já recebe banhos de sol e, no futuro, deverá ser integrado a outros indivíduos da espécie no Parque.
O futuro do uru-nordestino
O nascimento do filhote reforça os planos para estabelecer uma “população de segurança”, estratégia essencial para evitar a extinção da espécie. “Essa estratégia é fundamental para que, no futuro, possamos pensar na reintrodução dos filhotes em áreas restauradas e protegidas”, explica Paloma Bosso.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também avança no estabelecimento de um Programa de Manejo Populacional, garantindo que novas gerações do uru-nordestino possam ser criadas em condições seguras e posteriormente reintroduzidas na natureza.
“Salvar espécies é um esforço colaborativo. Para a conservação efetiva, todos precisamos trabalhar juntos – zoológicos, criadouros, centros de triagem de animais selvagens, ONGs, agências estaduais, universidades e autoridades federais”, enfatiza Eduardo Barbosa, coordenador do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Mata Atlântica.
- Da redação com assessoria / Foto: Equipe Parque das Aves