Coluna do Corvo
Jogo de várzea
Qualquer pessoa que comente o real transcurso de um debate, ficará próxima de uma ação na Justiça Eleitoral. A vaidade dos candidatos dificilmente aceitará a verdade e a maneira com a qual se postaram frente às câmeras, digladiando com oponentes ruins, medianos e preparados. Em verdade essa gente precisa vencer várias dificuldades ao mesmo tempo, com a falta de experiência, timidez, o entendimento com o jogo de câmeras, as expressões da plateia, o apresentador, e, por fim, os oponentes, feras indomadas e imprevisíveis. O alento é que esse desconforto afeta a todos, independentemente a experiência na comunicação, ou a longo trecho no exercício político.
Pela ordem
Com relação a contenda da última terça-feira, da qual este jornal foi um dos parceiros, há dificuldades para a transcrição no ponto de vista da opinião. É necessário escolher como comentar um debate de mais de três horas, com lances dos mais diversos; se isso obedecerá a linha dos acontecimentos, ou na performance de cada um. A segunda hipótese parece ser a melhor para os leitores, porque no fim das contas, o que todo mundo espera é uma avaliação dos participantes. Este humilde colunista não atribuiria uma boa nota a nenhum dos candidatos. A ordem de apresentação dos participantes foi: Sérgio Caimi, Aírton José, General Silva e Luna, Zé Elias, Jurandir de Moura (Latinha), Paulo Mac Donald e por fim o Sâmis da Silva.
Caimi, a novidade
Serão raras a apresentações do candidato do PMB, porque não aparecerá em horários eleitorais e dependendo o canal de Tv, será apartado pela regra da representação parlamentar no Congresso. O candidato surpreendeu pela desenvoltura e mostrou coesão, preparo e conhecimento em vários assuntos, se livrando inclusive das enrascadas. Quando foi provocado, respondeu com educação e por isso se saiu bem.
Troca de elogios
Como o Sérgio Caimi é uma pessoa do bem, naturalmente sentiu-se em casa em matéria de relacionamento com os adversários. Foi secretário do Sâmis, é amigo do Paulo, e, conversa bem com os demais. Sem dúvida, o ponto forte candidato é o saneamento e a área ambiental, e, por isso, se deu bem nas perguntas e respostas com Paulo Mac, que adora navegar pelo mar de problemas na Saúde.
Aírton e as pegadinhas
Como advogado, o candidato pisa em ovos e como comunicador, faz um passeio nos debates. Mas o que se viu foi um Aírton armador de boas arapucas. Ao escolher bem as perguntas e a quem fazê-las, ele mais aproveitada a réplica, do que a resposta do oponente. No tema da logística, interagindo com o General Silva e Luna e no rescaldo do assunto abordado pelo Paulo, o candidato do PSB se saiu muito bem, mostrando que estudou um assunto causador de muitas dores de cabeça na população; também soube explanar as questões de segurança, fazendo um eficiente paralelo com outras necessidades.
Discurso
O Aírton está empregando novas técnicas; sempre com trocadilhos emocionais e chegou a fazer até um discurso no encerramento do debate. Arrancou aplausos da torcida. Outra virtude é a de não se enroscar em encrencas, passando ao largo. No diferencial Aírton lembrou a Cultura, sempre apartada das discussões e foi feliz na abordagem. Definitivamente Aírton não é um candidato fácil em caso de acirrar o debate. Se cada um fosse o componente de uma salada, Aírton seria o quiabo.
General Silva e Luna
Ai…ai…ai… cutucaram a vara com a onça curta, ou seria o contrário? Não dá para negar: o General aprendeu a impactar na abertura de um debate. Chegou, chegando para rebater uma suposta denúncia que o envolveu no final de semana. Não escondeu a raiva e subiu o tom e calçou o coturno, demostrando que a elegância pode ser deixada de lado, conforme a pimenta que despejarem em seu prato. Mas convenhamos, não era para menos. Mas ele foi textual: “encerro aqui esse assunto”.
Foi pra cima
O que todo mundo esperava é que Silva e Luna fizesse o jogo de evitar Paulo Mac Donald e aconteceu o contrário: questionou o adversário quando teve chance e despejou veneno na atual administração, causando espanto no adversário. Comparando com a performance do debate da Tv Tarobá, Silva e Luna parecia outra pessoa. Dever ter sido muito bem preparado pelos assessores. Aproveitou e anunciou a visita de Jair Bolsonaro, coisa que muita gente duvidava.
Zé Elias
Milagrosamente o candidato não citou o senador Sérgio Moro em nenhuma das oportunidades. Mas, claro, voltou a abordar a eficiência na administração, e, educação, uma das suas praias prediletas. Tirou o Sâmis da casinha com o assunto do “novo na política” e mais tarde o rebateu no assunto da construção de sala de aulas. O ex-prefeito disse que havia construído 120 salas em seu mandato e o Zé, em empreendimento particular, realizou a metade.
Números
José Elias é um estudioso por natureza e gosta de números, inventários, cálculos e pelo visto, tem se aprofundado na área da administração pública. Disse que em 44 dias, fazendo alusão ao seu número de campanha, tapará todos os buracos da cidade. Provavelmente leve 44 anos, se muito tempo se passar até assumir, porque a situação não anda boa no campo da pavimentação. Foi aliás uma das partes mais acaloradas do debate, quando o General Silva e Luna e Paulo trataram de lembrar a administração atual.
Latinha, de novo
O candidato usa trocadilhos que em algumas situações não se encaixam bem, ou possivelmente não estão em acordo com o assunto abordado. Ao se apresentar, se autodescreveu pelas vestimentas, tipo de camisa, calça, aparência e disse que era para atender aos deficientes visuais. Ele também utiliza uma caneta pendurada na orelha, como um turco de armazém. Sentiu-se desprivilegiado em não ser questionado pelos demais participantes e obviamente isso não é uma estratégia das piores.
Contagem errada
O Jurandir, ou popularmente Latinha, acusou os oponentes de se relacionarem com os vereadores e de tê-los em suas plataformas eleitorais; mas ao exemplificar essa relação, chegou ao número maior que a quantidade de cadeiras no Legislativo, que só possui 15 membros. “Onde vocês enxergam o lixo eu vejo dinheiro”, disse ao abordar questões de saneamento e coleta de resíduos.
Paulo continua sendo o Paulo
O candidato do PP está aparentemente mais bem à vontade em encarar os adversários. Também usa a tática de responder as próprias perguntas e além da área de Saúde, desta vez, se aprofundou mias no assunto da “gestão”. Usou de certa soberba ao dizer que “não precisaria se apresentar”, mas corrigiu o rumo da prosa. No geral, volta a abordar o setor de Transporte Coletivo com exemplos que o cidadão só compreenderá ao usar um ônibus. Paulo se esforça ao mencionar inovações, como a Telemedicina, mas isso é um assunto que exige tempo e quando é levado para o debate, não se torna conclusivo. Todo mundo sabe da sua competência em muitas áreas e a eficiência no serviço público, portanto não deveria, em debate, perder tempo em responder agressões, como as que sofre na discussão sobre o lixo.
Logística
É interessante observar uma conversa entre candidatos, quando despejam a experiência em um assunto tão técnico, como é o caso da Logística. No caso, Paulo e General, sem perceberem, entregaram para os espectadores um pacote completo de soluções, cada um, ao seu modo, identificando a realidade no problema. Isso sim seria um debate produtivo, bem mais que as trocas de farpas.
Sâmis e os velhos tempos
Apesar de afastado da política por décadas, Sâmis da Silva mantém o discurso aprimorado. Seu maior pecado é insistir em lembrar o “luxo” de sua passagem pela prefeitura, sem admitir o “lixo”. Uma das virtudes que o povo espera dos candidatos, é a humildade em reconhecerem que não cumpriram a tarefa em 100%. O mandato de Sâmis deixou muitos problemas para o sucessor, portanto, a cidade se lembra. Mascarar a história, ou anuviar a verdade é passar diploma de trouxa para os contribuintes.
Saudosismo
Sâmis trabalhou bem em muitas áreas e algumas das suas pegadas foram eficientes. Ele usa e abusa da simpatia popular de seu mestre, e pai, o Dobrandino Gustavo da Silva, chegando a mencionar casos folclóricos. Mas isso não é suficiente. O exemplo da coleta de lixo, demonstra visões administrativas na gestão de uma cidade. O que um compreende como eficiência, o outro trata como gestão. Paulo pediu soluções para reduzir os gastos com a economia dos recursos públicos, enquanto Sâmis crê que isso causou desemprego e problemas às concessionárias. A população sabe julgar esses diferenciais.
Tomara isso melhore
Debates são fundamentais, como é a propaganda eleitoral, as pesquisas, as conversas com os setores sociais e produtivos. Mas Foz, francamente, está assentada em campo minado eleitoral, com situações jamais deparadas. Fará muito bem a cidade, caso os nossos ilustríssimos candidatos corrijam a rota e entendam que a população prefere as propostas e projetos, ante a depravação da linguagem, figuração, acusações, firulas e encenações. Ainda há tempo.