No Bico do Corvo

E não tem mesmo

“Não tem nada igual as Cataratas” disse o presidente Lula, ao se encontrar com os colegas no hotel que há no Parque Nacional do lado argentino. Aliás, o cenário sempre serviu para inspirar a união, como já aconteceu em vários encontros (Foto publicada pela Folha de São Paulo). O Corvo acompanha isso desde os tempos em que José Sarney e Raúl Alfonsin eram os presidentes, olha que faz tempo. Boa parte dos leitores ou eram jovens ou ainda nem haviam nascido.

 

Roteiro

Este passarinho lembra que para acompanhar os fatos, era necessário obter credencial e embarcar em ônibus organizados com exclusividade aos jornalistas. O dia 29 de novembro de 1985 está bem guardado na memória. Logo cedo aconteceu a reunião entre os presidentes do Brasil e Argentina no Hotel Internacional. Depois, partiram para o encontro bem no meio da Ponte Tancredo Neves, para a sua inauguração. Na foto, dona Risoleta Neves aparece entre os presidentes e a primeira dama Marly Sarney. (Foto arquivo do Consulado da República Argentina em Foz do Iguaçu).

O Mercosul

Um dia depois, em 30 de novembro de 1985, os presidentes Sarney e Alfonsin assinaram a Declaração do Iguaçu, que daria origem ao Mercosul. Vários outros encontros aconteceram com as Cataratas servindo de “pano de fundo”, aqui entre nós, cenário melhor não há. Apenas para lembrar, a travessia até Puerto Iguazú, antes de 1985 era realizada por meio de catraias, umas barcas que levavam de 20 a 30 pessoas, o povo cruzava o Rio Iguaçu com as mãos na água, tão baixo o calado das embarcações. Os passageiros dividiam os assentos com as sacolas de compras, em geral queijos, salames e blusas de lã, os artigos mais comercializados na época. Automóveis atravessaram de ferry-boat e as filas iam da barranca do rio até onde está hoje o Lar dos Velhinhos, nos tempos em que a General Meira era estreita e empoeirada.

 

Ministério do Turismo

Taí um assunto que mexe com Foz do Iguaçu, a alta rotatividade de ministros na área do Turismo. A cidade faz romarias ao Ministério, apresenta projetos, traz o ministro e todo o seu gabinete, organiza jantares, almoços, cafés da manhã, todos posam para fotos, com promessas e acordos, e, logo depois, o que se escuta é o ruído de dedos sendo chupados, e a tensão para saber quem será o próximo escolhido. Daí começa tudo de novo, peregrinação, explicações, sem contar que muitos ungidos ao cargo não conhecem “patavinas” do assunto e isso chega a dar raiva nos empresários e quem investe pesado no segmento.

 

Quem será?

Quem mais tempo permanecer no posto e ajudou bastante Foz, foi Walfrido dos Mares Guia. Depois dele é até complicado lembrar o nome, pois foram tantos os sucessores e tão inexpressivos, que dói lembrar. Certa ocasião uma dessas impolutas figuras falou que “as Cataratas é que salvavam a fronteira entre Brasil e Paraguai”. Não conhecia a geografia, mas era o Ministro do Turismo, que barbaridade.

 

Leilão na Vila A

Durante a visita do Presidente Lula a Foz, foi anunciada a venda de 48 casas na Vila A. Como se sabe, essas casas por diversas vezes entraram na fila da comercialização, mas diante da pressão de moradores a ideia acabava abandonada. Junto com o anúncio do leilão, foi também divulgado que o valor arrecadado será aplicado em moradias populares em Foz do Iguaçu. Serão 200 unidades na fase inicial. Claro, deve ocorrer um aporte para a realização de um número bem maior de habitações, se bem que casas que serão leiloadas possuem um bom valor de mercado.

 

Comunidade Palestina

Um jantar promovido pela comunidade palestina e com convidados ilustres como o DGB de Itaipu, Ênio Verri, aconteceu na quarta-feira (05). Foi um evento concorrido, envolvendo personalidades e subcelebridades. Aí alguém vai perguntar: o que é uma subcelebridade? É alguém um pouco menos importante que a celebridade, ou que espera aparecer mais do que ela. Em Foz há uma porção de pessoas assim, que se consideram acima do pedestal, ou da importância que realmente possuem. São os famosos “zé-ninguéns” em busca da fama. Mas isso não diminuiu em nada o valor do evento em prol dos palestinos.

 

Sem modos

O fato é que algumas pessoas não sabem se comportar em determinados eventos, falando alto, acima do tom, ou esperando serem servidos com o que não pode ser levado à mesa, por questões preceituais ou até mesmo religiosas. A recepção da comunidade palestina foi muito organizada, e, como sempre, os convidados são muito bem recebidos. É um privilégio ser levado para a mesa de um árabe, em geral, eles recebem muito bem. Mas isso não quer dizer que é para se encher o prato igual “pedreiro”. Havia comida suficiente para várias rodadas.

 

Estranhamento

Outra situação: jantares como os oferecidos pelos palestinos em geral, não servem bebida alcoólica, então os bebuns devem se comportar e não perguntarem: “será que não tem pelo menos uma cervejinha, ou uma tacinha de vinho, nem que seja enrustida”? Isso é quase uma ofensa, e além do mais, uma grave quebra de comportamento. Convidados devem saber se portar à mesa.

 

Ocasião inesquecível

O Corvo já presenciou gafes de todos os tipos. Certa vez, um árabe muito conhecido organizou um jantar em sua residência e o povo se acomodou no chão, como fosse uma tenda. O protocolo pedia que os sapatos fossem deixados do lado de fora. Foi complicado aguentar o chulé de uns e outros. O anfitrião se arrependeu. Lá no Oriente Médio, as pessoas lavam bem os pés antes de comerem e rezarem, daí não há maiores problemas.

 

O Corvo não para…

Houve um outro jantar nababesco, organizado em famoso hotel, cujo resultado foi um retumbante fiasco. O hoteleiro, para impressionar, trouxe um chef de cozinha badalado, um italiano muito cultuado em São Paulo, disputado por vários restaurantes. O homem chegou dois dias antes só para preparar o macarrão, feito à mão. Trouxe apenas o rolo manual. Quem conhece da boa mesa, sabe que ao servirem massas, não se deve usar a faca e apenas o garfo e uma colher, para ajudar a enrolar a “pasta”, com delicadeza, porque trata-se de uma obra de arte, dependendo o feitio. O italiano ia servindo e povo “picando o macarrão” e perguntando quando serviriam a sopa, por causa da colher. Uma barbaridade. O cozinheiro chegou a derramar lágrimas. Se fosse atuar em uma tribo não passaria tanta raiva.

 

A hora da vingança

Os comensais faltaram enfiar a cara nos pratos, e houve quem até chupasse o macarrão. Ao final, resolveram compensar a “boca livre” com uma bela salva de palmas, quase todos com as camisas e vestidos sujos de molho. Somente o padre Luiggi se safou, porque comeu direitinho, enfiando um guardanapo no colarinho. Então uma socialite levantou a mão para perguntar e em voz alta: “qual o segredo de um macarrão tão gostoso, como o senhor faz para cortar, antes de colocar na panela? Quem estava no recinto fez silêncio para ouvir a resposta e o mestre “cuoco” explicou, com forte sotaque napolitano: “uso os ovos, farinha, água mineral, amasso, estico com o rolo e depois corto apenas usando as unhas” e levantou a mão direita para exibi-las, com orgulho! Foi um tal de gente correndo para o lado de fora e houve quem se enojasse à mesa. Eita povo de estômago fraco. Boa mesa é para todos, desde que não sejam metidos à besta.

 

Os jovens na política

Louvável a inciativa da Justiça Eleitoral e Diocese em realizar uma campanha incentivando os jovens a participarem da política. Alguns diretores de escolas públicas deveriam participar e assim entender que não podem administrar os espaços como fosse uma “ditadura”, impondo saias justas aos alunos e professores. Tudo começa em casa e na escola.

 

Os pais também…

O processo de polarização causou fenômenos interessantes. Se por um lado houve a mão dura dos pais, aconteceu também a rebeldia dos filhos. Isso vazou pela vizinhança e calorosas discussões precisaram ser apartadas. Pais de “direita”, filhos de “esquerda”, vice e versa”. Basta falar de política com a moçada, que a gente aprende e muito e ficamos sabendo como eles compreendem os direitos e deveres.

 

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